Expectativa antes do Copom trava negócios em mercado de juros futuros, mas taxas longas sobem no fim da sessão
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - A expectativa antes da decisão do Copom sobre a Selic manteve os DIs travados na maior parte desta terça-feira, com as taxas mais longas se firmando em alta apenas na reta final, em sessão marcada por críticas do presidente Lula e de integrantes do governo à cúpula do Banco Central, enquanto nos EUA os rendimentos dos Treasuries cediam na esteira dos dados fracos de varejo.
No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 estava em 10,67%, ante 10,701% do ajuste anterior. A leve queda foi verificada neste vencimento justamente porque ele reflete a política monetária de curtíssimo prazo.
Nos demais contratos, as taxas fecharam com viés positivo, em especial entre os vencimentos mais longos. A taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,29%, ante 11,283% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,64%, ante 11,603%. Já taxa para janeiro de 2031 estava em 12,15%, ante 12,092%, e o contrato para janeiro de 2033 marcava 12,16%, ante 12,118%.
“A agenda de hoje no Brasil foi esvaziada. Um pouco desta estabilidade das taxas se deve ao mercado aguardando o Copom”, comentou durante a tarde Leandro Ormond, analista da Aware Investments, quando as taxas oscilavam em torno da estabilidade.
“A curva chegou a abrir em alta, muito por conta da percepção do risco fiscal, que tem feito preço nos últimos dias. Mas os dados do varejo nos EUA fizeram as taxas voltarem para perto da estabilidade por aqui”, acrescentou.
O Departamento de Comércio informou que as vendas no varejo dos EUA aumentaram 0,1% no mês passado, após uma queda revisada para baixo de 0,2% em abril. Economistas consultados pela Reuters previam que as vendas no varejo aumentariam 0,3% em maio.
Depois dos números, divulgados às 9h30, os yields dos Treasuries despencaram, o que também favoreceu o enfraquecimento das taxas futuras no Brasil.
Após atingir a máxima de 11,695% (+9 pontos-base ante o ajuste da véspera) às 9h09 -- antes dos dados do varejo nos EUA -- a taxa do DI para janeiro de 2027 marcou a mínima de 11,560% (-4 pontos-base) às 10h47. No fechamento, porém, a taxa reacelerou e encerrou em alta 4 pontos-base.
Investidores demonstravam cautela antes da decisão de quarta-feira do Copom. As apostas majoritárias do mercado são de manutenção da Selic em 10,50% ao ano.
Conforme profissionais ouvidos pela Reuters, mais do que a decisão em si o mercado quer saber como serão os votos dos nove integrantes do Copom.
“A dúvida maior é se a decisão será consensual ou dividida, como na última reunião. Uma decisão consensual vai trazer maior equilíbrio, mas uma decisão dividida vai fazer os mercados estressarem de novo”, afirmou Vitor Oliveira, especialista em renda fixa da One Investimentos.
Pela manhã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retomou as críticas ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, acusando-o de trabalhar para prejudicar o Brasil. Ele também afirmou que vai indicar um substituto para Campos Neto que não se submeta a “pressões do mercado financeiro”.
“O presidente do Banco Central não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, tem lado político e, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar", disse Lula em relação a Campos Neto.
Outros integrantes do governo reforçaram ao longo do dia a pressão para que o BC corte a Selic -- algo que não é esperado pelo mercado. O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, disse que a Selic em nível restritivo inibe a captação de recursos da poupança e a concessão de crédito.
Já o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômicos e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, defendeu juros “compatíveis com níveis internacionais”.
“Lula comentou que vai indicar para o BC pessoas que não sintam a pressão do mercado. Mas fica a dúvida: e a pressão política em cima do novo indicado?”, comentou Oliveira, da One. “Ruídos assim interferem bastante nos negócios”, acrescentou.
Perto do fechamento desta terça-feira a precificação da curva indicava 95% de chances de manutenção da Selic em 10,50%. Havia outros 5% de probabilidade precificados de que o colegiado poderá aumentar em 25 pontos-base a Selic. Na segunda-feira, os percentuais eram de 93% e 7%, respectivamente.
No exterior, às 16h41 o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 6 pontos-base, a 4,217%.
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