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Serra diz que OCDE "não tem conhecimento" sobre o Brasil

01/06/2016 17h10

O ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB), contestou nesta quarta-feira, em Paris, as conclusões do estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que prevê piora da economia brasileira em razão das "profundas divisões políticas" no país.

"A OCDE não afirma coisa nenhuma. Eles estão especulando com relação as poucas informações que dispõem sobre o Brasil", disse Serra. Para o tucano, a organização, que divulga anualmente inúmeros estudos internacionais sobre variadas áreas, "não tem conhecimento" da situação brasileira.

No relatório divulgado nesta quarta, a OCDE, com sede em Paris, prevê queda de 4,3% do PIB brasileiro em 2006 e recuo de 1,7% no próximo ano e diz que "a grande incerteza política e revelações contínuas de casos de corrupção abalam a confiança dos consumidores e das empresas e provocam uma diminuição persistente da demanda interna".

Serra afirmou ter apresentado hoje ao secretário-geral da organização, Angel Gurría, um documento de duas páginas, uma "versão alternativa" sobre a situação da economia brasileira, no qual afirma que o Brasil "sairá certamente da recessão na segunda metade do ano" e acrescenta que "analistas já projetam crescimento de cerca de 2% do PIB brasileiro no próximo ano".

"Apresentei uma versão alternativa. Não é problema de ponto de vista, é de conhecimento. E eles ficaram muito gratos por terem recebido essas observações que não dispunham", disse.

A OCDE possui departamentos de pesquisas com economistas especializados e publica semestralmente o estudo com previsões para a economia mundial. O documento divulgado nesta quarta-feira tem mais de 300 páginas, sendo duas delas sobre o Brasil. O país é mencionado também em outras partes do relatório.

Nas "observações" de duas páginas apresentadas pelo chanceler, ele lista "fatores robustos" que permitem ao governo brasileiro fazer previsões bem mais otimistas do que as apresentadas pela organização internacional.

Segundo o ministro, a OCDE "não tinha a menor ideia de que a agricultura brasileira caminha para um crescimento da ordem de 4%, "fator que contribui para puxar a economia".

O documento apresentado pelo governo brasileiro à direção da OCDE cita a redução da inflação e o aumento da demanda chinesa por alimentos, "com potencial de demanda por produtos brasileiros muito intenso" e aponta também o "excelente desempenho" das exportações de têxteis, automóveis e máquinas".

"O relatório da OCDE não tem essa sofisticação de análise", reiterou Serra. "Isso não significa que a economia vai bombar no ano que vem. O mais importante não é isso, mas sim sair da trajetória depressiva. A economia brasileira está em depressão. Uma simples inversão desse processo já representa algo bastante significativo", disse.

"Como a tensão política já diminuiu, comparativamente ao que estava acontecendo há algum tempo, a tendência é ir se normalizando, com problemas aqui e ali, mas a direção é de normalização", completou o ministro.

Já a OCDE menciona várias vezes no documento o problema das "incertezas políticas" no Brasil e destaca que "profundas divisões políticas reduziram a possibilidade de realização das reformas".

"Eles estão falando do período anterior, quando a Dilma ainda era presidente. Dizer que o governo brasileiro e a OCDE divergem é uma bobagem homérica, até porque eles não tinham as informações a respeito do que estava acontecendo", disse o ministro.

O estudo da OCDE menciona a recente mudança de governo no Brasil e leva em conta esse fato da situação política do país.