Interlocutor de Eduardo Campos pediu R$ 90 milhões a Odebrecht e OAS
Autointitulado o único representante do então governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), Aldo Guedes pediu ao ex-diretor da Odebrecht Márcio Faria R$ 90 milhões a título de contribuição para o governo do Estado por obras na refinaria Abreu e Lima (Rnest).
O valor equivalia a 2% de dois contratos de R$ 4,5 bilhões que o consórcio formado por Odebrecht e OAS firmou em 2009 com a Petrobras para implantação de duas unidades na Rnest. O montante foi considerado exagerado pelo delator.
"Eu disse: olha, acho que estamos em outro planeta. Perguntei qual a contrapartida", afirmou Faria em delação premiada.
Aldo teria garantido apoio incondicional do governo de Pernambuco "com ênfase muito forte nas relações sindicais". Esse era um fator considerado crítico na condução do empreendimento, já que seriam quase 50 mil pessoas no canteiro de obras.
A contraoferta de Faria foram R$ 7,5 milhões por empresa ? totalizando R$ 15 milhões. "Ele reclamou", lembra.
Faria relata que houve algumas tentativas de mandar o dinheiro para uma conta em Hong Kong, mas sem sucesso ? o banco devolvia. O plano B foi fazer a transação por meio de uma agência de turismo que funcionava no fundo de um restaurante em Pernambuco. A empresa viabilizou o pagamento.
Ainda em relação a esses contratos, as diretorias de Abastecimento e de Serviços da Petrobras também receberam por fora.
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, pediu o equivalente a 1% do contrato. Faria argumentou que não seria possível e que o valor seria fixo, de R$ 30 milhões. Costa pediu ainda que Faria dissesse ao então deputado federal José Janene (PP), padrinho na Petrobras do ex-diretor da estatal, que o total a ser pago ao partido seria de R$ 15 milhões ? dessa forma, Costa ficaria com os R$ 15 milhões restantes.
"[Janene] se indignou, disse que [por R$ 15 milhões] não assinava, ficou muito contrariado", lembra. O parlamentar, morto em 2010, queria R$ 45 milhões, segundo o delator.
Ao fim, o pagamento dos R$ 15 milhões para o PP ficou a cargo da OAS e a Odebrecht arcou com a fatia de Costa, que foi quitada via pagamento em conta no exterior.
O consórcio também recebeu pedido da diretoria de Engenharia e Serviços da Petrobras, à época comandada por Renato Duque. O valor total foi de R$ 30 milhões, efetivado por meio de Pedro Barusco, ex-gerente de Serviços da estatal. O valor foi dividido entre OAS e Odebrecht.
Outra pessoa que aparece como destinatária de pagamento é Glauco Colepicolo ("Kejo"), gerente de implantação do empreendimento. A Odebrecht pagou R$ 15 milhões a ele e esperava como contrapartida celeridade nas aprovações. "O que não ocorreu", diz Faria.
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