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Dólar tem nova alta em meio à tempestade na Petrobras

24/05/2018 17h51

O vendaval nas ações da Petrobras, a percepção de aumento de risco político e a visão de acentuado enfraquecimento do poder de negociação do governo serviram de argumentos para investidores retornarem à segurança do dólar no mercado local. Com isso, a moeda americana quebrou uma sequência de três baixas e fechou com ganho de 0,62%, a R$ 3,6471.

Sinal do peso interno na reação de preço do câmbio doméstico, o real perdeu ainda mais (0,74%) em relação a uma cesta de sete moedas emergentes e de países exportadores de commodities.

Enquanto peso mexicano, rand sul-africano e peso colombiano conseguiram reverter perdas de mais cedo e passaram a subir, o real se manteve em baixa.

A moeda brasileira revezava com o peso chileno o título de segundo desempenho nos mercados globais de câmbio. De longe, a lira turca liderava a lista de perdas, em baixa de 3,1%.

Segundo analistas, a decisão da Petrobras de baixar os preços do diesel e de congelá-los por 15 dias abriu as portas para todo tipo de desconfiança do mercado com relação ao futuro da condução da política macro. E também serviu de lembrete dos riscos ainda presentes relacionados às eleições.

A análise feita nas mesas de operação é que a estatal sucumbiu às pressões do governo, algo que, para investidores, havia ficado para trás com a adoção no ano passado de uma nova política de preços para os combustíveis. As ações preferenciais da petrolífera despencaram na B3, em queda de 14,55% (fechamento do pregão regular). O papel teve o maior giro de sua história, de R$ 4,8 bilhões. Com o volume também a ação ordinária, a Petrobras, sozinha, movimentou quase 40% do montante negociado no Ibovespa, que hoje bateu cerca de R$ 14,2 bilhões.

Para Jayro Rezende, gerente de tesouraria do Bank of China Brasil, os recentes acontecimentos expõem outro - e ainda maior - problema do país: a falta de perspectiva de aprovação da reforma da Previdência. Para ele, o mercado "comprou" a tese do gradualismo nas reformas econômicas, mas o episódio da Petrobras serve para mostrar que o debate sobre os ajustes econômicos será rolado "muito mais para frente". E, nesse intervalo, crescem o mal-estar e a desconfiança do mercado.

"A atenção às reformas está cada vez mais desviada. A ideia desses ajustes macroeconômicos e fiscais fica mais e mais distante", afirma o profissional. "Com tanta demora, quem vai ficar dando o benefício da dúvida", questiona, lembrando momentos anteriores em que o mercado contava com a votação da reforma da Previdência no Congresso, mas precisou lidar com sucessivos adiamentos.

Na mesma linha, o profissional de uma corretora bastante ativa em derivativos diz que o episódio da Petrobras foi um "duro golpe na confiança de que este governo não repetiria erros do passado". Ele destaca que a decisão de ceder às pressões dos caminhoneiros - paralisados há quatro dias - deixou o governo ainda mais fraco politicamente, o que piora o cenário para qualquer discussão sobre reformas econômicas.

Com a ajuda das atuações do Banco Central, Rezende, do Bank of China Brasil, não descartava cenário em que o dólar testaria R$ 3,55 no curto prazo. "Mas neste momento não enxergo nenhum 'trigger' para isso", ressalva.