A Embraer está desenvolvendo um novo avião turboélice com previsão para entrar em operação entre 2027 e 2028. O modelo, batizado de Turboélice de Nova Geração (TPNG, na sigla em inglês), terá duas variações, com capacidade para 74 e 90 passageiros cada.
A iniciativa não é exatamente nova, pois a empresa já vinha estudando entrar no mercado de turboélices para até 150 passageiros desde 2018, mas o modelo foi divulgado apenas recentemente.
A companhia prevê um mercado total de mais de 2.000 aviões em 20 anos nesse segmento.
Em entrevista exclusiva ao UOL, Rodrigo Silva e Souza, vice-presidente de Marketing da divisão de aviação comercial da Embraer, deu detalhes sobre o novo projeto, como a possível operação por hidrogênio, economia, redução na emissão de poluentes e outros pontos.
Por que um turboélice?
Esse é o primeiro projeto de um turboélice da empresa em muitos anos, e representa uma nova frente de negócios para a companhia, diz Souza.
"Não estamos abrindo mão da linha de jatos. O TPNG vem, justamente, para completar a linha de aviões oferecidos pela empresa. Hoje a Embraer é líder no segmento até 150 assentos, só que há um mercado de rotas curtas que, geralmente, nós não concorremos, já que os jatos não são tão eficientes nestes trechos", declara o vice-presidente.
O uso de turboélices em voos de menor distância também representa menos emissão de poluentes, já que consomem menos combustível nessas situações.
"Quando começamos a mostrar esse avião no mercado dos Estados Unidos e foi feita a comparação com os jatos de 50 assentos, mais comumente operados por lá, a redução de consumo ficou entre 20% e 40%, dependendo da etapa de voo", destaca Souza.
Para acompanhar as inovações tecnológicas desejadas, ainda serão desenvolvidos novos motores para equipar esses aviões. A empresa está dialogando com fabricantes como Rolls-Royce e Pratt & Whitney para que o modelo já seja concebido para que o TPNG saia de fábrica adaptado para receber combustíveis sustentáveis no futuro próximo sem precisar de adaptações, como o SAF (Sustainable Aviation Fuel, combustível de aviação sustentável).
Motor na traseira
Diferentemente do planejado inicialmente, o motor do novo turboélice ficará na parte traseira, e não na asa do avião. De acordo com Souza, alguns motivos levaram a essa mudança. Um deles é a redução do ruído dentro da cabine, já que o motor ficará afastado de onde os passageiros estão.
Outra razão é permitir o uso de pontes de embarque, também chamadas de fingers. No geral, as hélices desse tipo de avião ficam sobre as asas, e tiram uma parte do espaço onde ficariam essas pontes de embarque.
A nova localização do motor também facilitaria a conversão para propulsão a hidrogênio no futuro. "Em 15, 20 anos de operação, acreditamos que esse modelo poderá ser movido a hidrogênio, e, com isso, já o estamos desenvolvendo para ser facilmente adaptado a esse tipo de propulsão", diz o executivo.
Diferentemente dos tanques de combustível líquido, que, geralmente, ficam nas asas e barriga dos aviões, um reservatório de hidrogênio teria de ter um formato esférico, ficando mais bem acomodado na traseira do avião. Assim, o motor estaria mais próximo desse tanque, reduzindo os custos com dutos até as asas (caso o motor ficasse ali) e deixando a estrutura mais leve.
Experiência de jato
A ideia do novo modelo é oferecer uma experiência como nos mais modernos jatos, inclusive os da própria Embraer. O interior será o mesmo dos E-Jets da empresa, permitindo um interior mais espaçoso que outros modelos da categoria, afirma Souza.
O modelo também pode ser configurado para voar com três classes (econômica, executiva e primeira classe), como já ocorre com jatos menores de algumas companhias aéreas dos Estados Unidos.
O sistema de pilotagem será do tipo fly-by-wire de 5ª geração, a mais recente. Esse é um sistema onde os comandos nas superfícies que controlam o avião são feitos de maneira eletrônica, e não apenas por cabos de metal.
O modelo ainda contará com um número elevado de sensores, que irão repassar diversos parâmetros do avião em tempo real para as equipes em terra. Isso permite acompanhar a necessidade de manutenção da aeronave além de otimizar sua operação.
Concorrência
A fatia de mercado composta por turboélices comerciais para até 150 passageiros tem pouca concorrência, na análise da Embraer. À sua frente estão, praticamente, apenas as aeronaves da ítalo-francesa ATR (Aviões de Transporte Regional) e Dash 8-400, da canadense Bombardier.
Os ATRs começaram a operação na década de 1980, e o projeto vem sendo ampliado e desenvolvido com o tempo. Os modelos Dash 8-400 tiveram sua produção suspensa em 2020, o que aumenta o espaço nos próximos anos para o TPNG.
Segundo Souza, a criação de aviões regionais com maior eficiência também viabiliza a criação de novas rotas, já que o custo de operação é menor.
Para isso, além do TPNG, a Embraer também estuda desenvolver aviões comerciais menores, até o tamanho, por exemplo, do Cessna Caravan, que transporta até nove passageiros, diz o executivo.
Futuro com aviões elétricos
A Embraer também quer se posicionar na vanguarda da inserção de aviões mais sustentáveis no mercado, de acordo com o vice-presidente da companhia. "Novas tecnologias de propulsão, como a elétrica, híbrida ou por hidrogênio, devem ser testados em escala comercial em aviões menores, como os da Embraer, antes das aeronaves de grande porte", declara Souza.
O modelo ainda está sendo pensado para operações com um piloto apenas no futuro. Esse panorama, entretanto, ainda está longe de acontecer, e deve passar por muitos estudos nas próximas décadas.
Na análise de Rodrigo Souza, no pós-pandemia, o volume de passageiros também deve ser afetado, ainda mais com as novas maneiras de encontros virtuais, como reuniões online.
Por fim, Souza ainda define que a questão ambiental será determinante nos próximos anos na aviação, motivo pelo qual o avião já nasce com a possibilidade de ser facilmente adaptado às tecnologias que estão por vir.
Ficha técnica
Nome: Turboélice de Nova Geração (TPNG, na sigla em inglês - Turboprop Next Generation)
Velocidade de cruzeiro: cerca de 300 nós (555 km/h)
Distância máxima voada: entre 1.480 km e 1.666 km (entre 800 e 900 milhas náuticas)
Assentos: modelos com 74 ou 90 assentos em configuração de classe única
Entrada em operação: entre 2027 e 2028
Propulsão: os motores turboélice para o TPNG ainda estão sendo desenvolvidos, mas deverão compatíveis com combustíveis sustentáveis e o avião ainda poderá ser facilmente convertido para propulsão híbrida, elétrica ou a hidrogênio quando estas tecnologias estiverem disponíveis
Economia de combustível (previsão): 15% em relação aos atuais concorrentes e entre 20% e 40% em comparação com jatos de mesma capacidade
Principais concorrentes: ATR-72 e Dash 8-400
Interior da cabine: igual aos modelos da família de E-Jets da Embraer
É preciso lembrar que, como o avião está em fase de projeto, essas definições podem ser alteradas no futuro.
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