Os aviões comerciais de grande porte são operados, na atualidade, por dois pilotos. Esse número é bem menor do que a quantidade de pessoas que voavam na cabine de comando antigamente (cujo total chegava a cinco), e a possibilidade é que se reduza mais ainda.
O mercado atualmente se movimenta para tentar reduzir a quantidade de tripulantes a bordo, o que significa menos custos com equipes e treinamentos. Seja em todo o voo ou apenas em algumas etapas, essa parece ser a tendência da indústria, e deve ser muito estudada ainda antes de virar realidade.
A questão que ainda deve ser respondida é: se o único piloto a bordo passar mal, quem comanda a aeronave? Isso ainda vai depender de avanços tecnológicos para que os aviões possam ser, efetivamente, operados de maneira autônoma, sem a necessidade de intervenção humana, ou com um controle feito de maneira remota.
Viabilidade
Segundo estudos realizados pela Nasa (a agência espacial dos EUA), para os aviões comerciais serem comandados por um único piloto em segurança será necessário atuar em duas frentes: automatizar as operações da aeronave e fornecer apoio em solo para o piloto que está voando sozinho.
Junto a isso, será necessário conquistar a confiança dos passageiros. Voos como os da Germanwings, onde o copiloto estava sozinho no comando e derrubou o avião intencionalmente nos alpes suíços em 2015, dificultam a aceitação de ter apenas um piloto.
Carga de trabalho
Em voos de longa duração, por exemplo, os pilotos têm uma carga de trabalho reduzida em algumas etapas, como no voo de cruzeiro. Nesse momento, não seria necessário o apoio de outro piloto em terra, sendo possível voar com menos tripulantes nessas situações.
De fato, o comandante e o primeiro-oficial (denominação mais adequada para piloto e copiloto) dividem entre si as tarefas na cabine de comando. Durante o voo, existem duas funções que podem ser alternadas entre ambos: as de piloto voando e piloto monitorando (do inglês 'pilot flying' e 'pilot monitoring', respectivamente).
O primeiro é o que está efetivamente exercendo o controle direto da aeronave, seja manualmente ou através do uso dos sistemas automáticos. Já o piloto monitorando é aquele que, como o nome diz, está monitorando as fases do voo, incluindo as ações do piloto voando, auxiliando-o no que for necessário. Assim, essa função passaria a ser exercida do solo, e o comandante seria sempre o piloto voando.
Quanto à automação, seria necessário melhorar sistemas de decolagem e pouso, que fariam desde o alinhamento com a pista até a frenagem e acionamento do reverso dos motores no momento adequado.
Seja qual for a frente a ser adotada, um dos aspectos mais importantes a ser observado é a redução da carga de trabalho do piloto que estará sozinho. Sem isso, os riscos à segurança aérea serão muito maiores do que dividindo as funções da cabine de comando entre dois pilotos presencialmente.
Tendência do setor
Em uma pesquisa feita pelo banco de investimento norte-americano Jefferies junto a executivos de companhias aéreas e empresas de leasing sobre o que eles esperariam de um novo avião da Boeing, a opção por apenas um piloto na cabine foi assunto de destaque. Um segundo piloto estaria presente em solo, monitorando vários aviões ao mesmo tempo.
Há alguns anos, com o anúncio do desenvolvimento do Boeing 797, batizado de NMA (New Midsize Airplane - Novo Avião de Médio Porte, em tradução livre), chegou-se a cogitar que este seria o modelo que mudaria este padrão da indústria de dois pilotos nos jatos comerciais. Entretanto, a Boeing desmentiu esses rumores.
Um executivo da empresa declarou em 2018 que, se essa novidade vier a ser implementada nos próximos anos, será em aviões de carga inicialmente. Somente após algumas décadas estará disponível para outros voos comerciais, quando os passageiros se sentirem confiantes quanto à segurança do novo jeito de pilotar os aviões.
A Airbus também tem um projeto para reduzir a quantidade de pilotos em voo, mas não durante todas as etapas. Em parceria com a companhia aérea Cathay Pacific, a empresa quer certificar o seu jato A350 para que apenas um piloto esteja presente na cabine durante a fase de cruzeiro do voo.
Atualmente, as empresas ainda têm de comportar três ou quatro pilotos em um mesmo voo de longa distância para que pelo menos um esteja descansando enquanto outros comandam o avião. Com a medida, durante a fase de cruzeiro, que pode durar várias horas, um piloto ficaria sozinho na cabine enquanto o outro dorme. Ainda assim, fases críticas como a descida e o pouso teriam de contar com a equipe completa à frente do comando do avião.
Desenvolvimento é bem-vindo
Para Humberto Branco, piloto e presidente da Aopa Brasil (Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves), "a evolução tecnológica é inevitável e desejável".
"Com toda a certeza, os processos de desenvolvimento de tecnologias para a aviação e todo o sistema aeroespacial são extremamente rigorosos, sempre tiveram e sempre terão a segurança como um requisito indiscutível. Quando isso se tornar realidade, será seguro", diz Branco.
O piloto ainda afirma que procedimentos automáticos estão fortemente presentes no setor. "Hoje em dia, o grau de automatismo já é elevadíssimo em toda a indústria aeroespacial e diversas aeronaves de alta complexidade já poderiam ser operadas por um só piloto", declara.
Branco ainda afirma que os reguladores do mundo todo somente homologarão tais soluções depois de amplamente testadas.
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