A pandemia levou o setor aéreo à maior crise em toda a sua história. Maior do do que a Segunda Guerra ou o 11 de Setembro.
O cenário do pós-pandemia também pode causar preocupação, com a falta de profissionais para suprir a crescente demanda na aviação, que já vinha em alta antes de 2020. Uma análise da consultoria norte-americana Oliver Wyman aponta que poderão faltar pilotos no mundo nos próximos anos, e que isso deve encarecer o custo dessa indústria.
Em uma pesquisa de 2019 feita com lideranças do setor aéreo pela consultoria, 62% dos entrevistados consideravam a falta de pilotos qualificados como um fator de risco.
Mesmo com o excedente temporário de profissionais em decorrência da queda no número de voos causados pela pandemia, diversas regiões do mundo não mostram capacidade para retomar o rápido crescimento observado em anos anteriores.
Custos aumentam
O custo de formação de um piloto é elevado, chegando a dezenas de milhares de reais antes que ele possa pilotar um avião em uma companhia aérea. Em alguns países, a formação é financiada por empresas, que viram a partir de meados de 2020 problemas para manter esses programas.
Com isso, instituições financeiras passaram a ofertar menos crédito para essa finalidade, e pilotos têm pensado duas vezes antes de entrar em um mercado que tem tantos altos e baixos.
Nos Estados Unidos, segundo a Oliver Wyman, a força de trabalho é mais envelhecida, e logo esses profissionais devem se aposentar. Também há menos pilotos deixando as forças armadas e migrando para a aviação civil. Outros mudaram de área durante a pandemia.
Todos esses fatores colocam um peso maior nas empresas, que passam a ter mais custos para a qualificação de novos pilotos em um curto período, o que pode refletir no preço das passagens no futuro próximo também.
Procura em alta
Com o passar dos anos, a quantidade de pilotos se formando não apresentou uma alteração significativa, diferentemente da demanda por transporte aéreo, que cresceu muito, principalmente na China, nos Estados Unidos e no Oriente Médio.
Segundo a Oliver Wyman, podem faltar de 34 mil a 50 mil pilotos até 2025 em diversas áreas. Mas isso não é regra em todas as regiões do mundo.
Europa, África e América Latina devem passar por uma situação de estabilidade entre demanda e oferta no período. Entretanto, isso não quer dizer que não haverá crescimento, mas, apenas que essas regiões têm capacidade para suprir suas demandas mais satisfatoriamente que outras onde a alta no número de voos será mais intensa.
Brasil
Para Rafael Santos, piloto e fundador do Teaching for Free, grupo voltado para ajudar pilotos que buscam recolocação no mercado, ainda é muito cedo para afirmar se faltarão pilotos.
"A retomada no mundo tem sido muito desigual. Europa, Oriente Médio e, principalmente, os Estados Unidos estão com uma retomada mais forte. Então, nesses países, podem faltar, sim", diz Santos.
Ainda segundo o fundador do grupo, os EUA estão fornecendo visto de trabalho para pilotos para suprir essa demanda, desde que tenham certo nível de experiência. Essa demanda tem sido mais observada em empresas cargueiras, como Atlas e UPS.
Por aqui, essa situação é um pouco diferente, já que nos últimos anos, principalmente devido à pandemia, muitos desses profissionais ficaram desempregados.
"No Brasil, há mão de obra sobrando. A tendência é que esses postos de trabalho comecem a ser recuperados e que haja essa reabsorção. Depois disso, vai haver uma estabilização das contratações e, só assim poderemos ter um panorama melhor se faltarão esses profissionais", diz Santos.
Turismo não será mais o mesmo
Segundo Salmen Chaquip Bukzem, coordenador do curso de Ciências Aeronáuticas da PUC-GO (Pontifícia Universidade Católica de Goiás), haverá uma forte mudança no setor aéreo nos próximos anos no Brasil.
"Quando a pandemia acabar e o país se reestabelecer, ele não será mais o mesmo. O turismo de ônibus acabará, sendo substituído pelo transporte de avião", diz o professor.
Ainda para Bukzem, haverá uma demanda forte por voos em um espaço de um ano a um ano e meio após o fim da pandemia. Nesse cenário, as rotas regionais de média distância devem crescer mais, e esse é o segmento da aviação que mais deverá sentir a falta de pilotos.
Ainda assim, será preciso aguardar um certo tempo para confirmar esse cenário. "Em um primeiro momento, irá se reabsorver todo o excedente de mão de obra no mercado e, apenas depois, haverá a inserção de novos profissionais", diz o professor.
Aproximadamente 11 mil pilotos de aeronaves trabalhavam formalmente no Brasil no final de 2019 segundo o Ministério do Trabalho e Previdência (últimos dados disponíveis). Devido à falta de dados recentes, não é possível comparar com o momento atual do setor no país.
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