O Antonov An-225, que foi o maior avião do mundo por décadas, foi destruído em fevereiro ainda no começo da guerra entre Rússia e Ucrânia. O cargueiro foi atingido no ataque ao aeroporto de Gostomel, próximo a Kiev (capital do país), e acabou sendo um dos marcos da luta entre os países, pois ele é considerado um orgulho para os ucranianos.
O avião não conseguiu ser retirado do local após o início do conflito por supostamente estar passando por manutenção após seu último voo no início de fevereiro. Outra alegação sobre o que teria impedido a retirada é que a pista onde ele estava tinha sido danificada, impossibilitando sua decolagem.
A destruição do avião também colocou em xeque qual seria o futuro da empresa responsável por ele, a Antonov. Devido à incapacidade de operar voos a partir de Kiev, a companhia mudou sua base de operações temporariamente para Leipzig, na Alemanha.
Cinco aviões An-124, modelo menor que serviu de base para o An-225, estão na cidade alemã, e a empresa manterá uma base de manutenção no aeroporto local. A expectativa é que, após o fim da guerra, a empresa volte para a Ucrânia, onde seus prédios e hangares foram destruídos.
Reconstrução
O An-225 também é chamado de Mriya, que significa sonho ou inspiração em ucraniano. Ele ainda é conhecido pela designação de Cossaco, dada pela Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse na semana passada que pretende construir uma segunda unidade do An-225. "Queríamos construí-lo, precisávamos de US$ 800 milhões. Apelei ao presidente da Turquia com uma proposta para construir o segundo Mriya, mas não conseguimos o dinheiro", disse.
"Mas, neste caso, não é uma questão de dinheiro, é uma questão de ambição. Fomos abordados pela Ukroboronprom [conglomerado de fabricantes de produtos de defesa da Ucrânia] e a equipe da Antonov. Esta é uma questão da imagem do nosso país e de todos os excelentes pilotos profissionais que morreram nesta guerra ", afirmou Zelensky.
O valor dessa produção, por volta de R$ 3,9 bilhões, a tornaria uma das aeronaves mais caras do mundo. Além da abordagem ao governo turco, o presidente Zelensky não especificou onde mais poderia buscar o financiamento, mas não descartou a construção do novo exemplar mesmo assim.
Há certa chance de sucesso na construção de um novo avião gigante pelo fato de que muitas cargas mundo afora precisariam ser transportadas pelo gigante para serem viáveis economicamente, já que por terra os custos seriam muito altos.
Ainda no começo de maio, a empresa usou seu perfil no Facebook para anunciar que foi criado um fundo para a restauração do An-225 destruído.
Segundo exemplar incompleto
A empresa iniciou a produção de uma segunda unidade ainda na década de 1980, mas o projeto foi abandonado. O esqueleto desse novo exemplar permaneceu guardado na fábrica da Antonov, em Kiev, mas seu atual estado é incerto.
A estrutura fica em um hangar que também foi atacado pelas tropas russas. Se sobreviveu aos ataques, sua construção poderá ser terminada caso encontre financiadores.
Essa possibilidade já chegou a ser cogitada em meados da década passada. O projeto seria realizado em parceria com a China, porém, não evoluiu.
O alto custo se deve ao fato de o modelo ser antigo e precisar passar por uma modernização. O avião teria de ser redesenhado para se adaptar às inovações tecnológicas mais recentes, mas essa possibilidade está em aberto no momento, ainda mais com a proposta feita pelo presidente Zelensky.
Carga pesada
O An-225 era considerado o maior avião em operação em todo mundo, com peso máximo de decolagem de 640 toneladas, o que inclui o peso da própria aeronave somado ao combustível e à carga transportada.
Sua capacidade o coloca à frente até mesmo do Airbus A380 e do Boeing 747, os maiores aviões de passageiros do mundo na atualidade, com peso máximo de decolagem de até 572 toneladas e 447,7 toneladas, respectivamente.
Ele perdia apenas em envergadura para o avião americano Stratolaunch. Enquanto o modelo ucraniano possuía uma distância de ponta a ponta da asa de 88 metros, o Stratolaunch possui 117 metros de envergadura, mas um peso máximo de decolagem de cerca de 590 toneladas.
Para conseguir sair do chão, o An-225 conta com seis motores, e seus trens de pouso têm 32 pneus ao todo (quatro no trem dianteiro e 28 no trem principal).
Histórico
O Mriya foi desenvolvido a pedido do governo da então União Soviética na década de 1980 para o transporte do Buran, o ônibus espacial russo, e do foguete propulsor Energia.
O primeiro voo do AN-225 ocorreu em dezembro de 1988, mas foi apenas em maio de 1989 que ele levou sua principal carga, o Buran.
A espaçonave foi acoplada na parte superior para ser transportada. Para isso, o projeto da cauda do avião teve de ser adaptado e passou a ter um estabilizador vertical duplo, já que o fluxo de ar causado pela carga na parte de fora poderia dificultar o controle em voo nos modelos tradicionais.
Sua tarefa, inicialmente, era de transportar as várias partes do ônibus espacial, que foram produzidas em diversos locais da União Soviética, para o cosmódromo de Baikonur, o maior do mundo, localizado no Cazaquistão (então pertencente ao bloco de países comunistas).
Entretanto, com o fim do financiamento do programa espacial, o avião deixou de voar em 1994, e ficou parado até 2001, quando voltou como cargueiro comercial após passar por uma modernização.
Curiosidades
- Em 2016, o avião transportou um transformador de São Paulo para o Chile, com o peso total de 182 toneladas. Segundo o fabricante, foi o a segunda maior peça transportada por via aérea no mundo e a mais pesada entregue por meio de uma aeronave na América do Sul
- O trem de pouso tem 32 pneus (quatro no trem dianteiro e 28 no trem principal). Por ser um modelo único, tem de transportar pneus reservas em cada voo caso ocorra algum problema.
- O avião tem um guindaste interno para a movimentação de cargas
- A vida útil do avião poderia ir até, pelo menos, 2033, quando completaria 45 anos de serviço e poderia ter operado 20 mil horas em 4.000 voos
- Recorde de aeronave mais pesada de todos os tempos: O avião conseguia decolar com um peso total de 640 toneladas. Seu projeto inicial conseguia sair do chão com até 600 toneladas, mas, após a reforma entre os anos de 2000 e 2001, sua capacidade foi aumentada
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.