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Salmão criado no Chile tem primavera falsa e voa de helicóptero

Maria Carolina Abe*

Do UOL, em Maullín e Castro (Chile)

21/11/2013 06h00Atualizada em 21/11/2013 16h34

Cerca de 70% do salmão consumido no mundo não é pescado no mar, mas, sim, criado em viveiros. 

Na natureza, o salmão nasce em água doce, migra para o oceano quando chega a primavera, e retorna à água doce na hora de se reproduzir. Já na criação em cativeiro, a vida do peixe é um pouco diferente. 

O salmão nasce a partir da fertilização artificial, começa sua vida na água doce; depois da primavera --artificial, forjada com a variação da luz de lâmpadas-- está pronto para ir para o mar, e esse transporte é feito por meio de caminhões ou, até mesmo, de helicópteros. Do mar, o salmão segue para a linha de processamento industrial e, dali, para supermercados e restaurantes, até a mesa do consumidor.

Da fertilização até o salmão estar pronto para o consumo, com uma média de 4,5 quilos, o processo todo leva cerca de 2 anos. Com a criação em viveiro, é possível garantir salmão fresquinho durante o ano todo.

Chile é 2º maior produtor mundial do peixe

PRINCIPAIS REGIÕES PRODUTORAS DE SALMÃO NO CHILE

O Chile é o segundo maior produtor mundial do peixe, atrás apenas da Noruega, e responsável por praticamente todo o salmão que chega ao Brasil.

O salmão é o terceiro produto mais exportado pelo Chile, atrás de cobre e frutas, e gera 34 mil empregos diretos no país.

Salmão viaja de avião

O transporte de salmão do Chile para o Brasil é feito por caminhão ou avião.

O peixe representa 70% da carga transportada entre o Chile e o Brasil pela companhia aérea Latam, formada pela chilena LAN e pela brasileira TAM. Em setembro de 2013, por exemplo, foram 1.673 toneladas.

A maior parte desse peixe é levada nos porões de aviões de passageiros que viajam de Santiago até Guarulhos ou Viracopos, aproveitando a capacidade máxima das aeronaves.

Desde o início de novembro, a Latam começou a operar também um cargueiro (Boeing 767) entre Santiago e São Paulo, e estuda expandir sua "rota do salmão" para novos mercados no Brasil --como Manaus, Rio, regiões Sul e Nordeste.

Brasil é um dos consumidores que mais crescem

O consumo de salmão no mundo triplicou desde os anos 1980 e o Brasil é um dos mercados que mais crescem.

A importação brasileira do peixe ficou nove vezes maior entre 2000 (7.300 toneladas) e 2012 (63.300 toneladas), segundo dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura).

O país é o terceiro principal comprador do salmão chileno, ficando atrás apenas de EUA e Japão. 

Salmão de cativeiro tem Ômega 3?

Alguns rumores, especialmente na internet, questionam a qualidade do salmão criado em cativeiro e se ele tem ômega 3, um ácido graxo associado a redução de doenças cardiovasculares.

Segundo especialistas, a presença do elemento depende da ração utilizada nos criadouros.

Em entrevista anterior ao UOL, a médica veterinária Yara Aiko Tabata, pesquisadora científica da Agência Paulista de Tecnologia dos  Agronegócios, da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, disse que o salmão cultivado é alimentado com ração à base de farinha e óleo de peixe, que contém ômega 3. Se receber a ração certa, a proporção de ômega 3 fica dentro do normal. Caso contrário, não.

"É bem provável que o peixe de cativeiro tenha mais gordura que o da natureza, porque ele não nada, não 'pratica exercícios' como o selvagem e, assim, fica mais gordinho. E quanto mais gordura originária do mar, mais ômega 3 ", disse, também em entrevista ao UOL, o biólogo Ricardo Tsukamoto, formado pela USP e com doutorado em ciências aquáticas.

Outra questão levantada contra o salmão de cativeiro é que ele é colorido artificialmente. A famosa cor rosada do salmão é reflexo do tipo de alimentação do peixe durante seu crescimento.

"Para o salmão de viveiro ficar com a cor igual ao selvagem, que se alimenta principalmente de outros peixes, pequenos crustáceos e algas, são adicionados à ração carotenoides como a astaxantina e a cantaxantina", disse, em reportagem do UOL, a nutróloga Marcella Garcez, membro da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia).

"O consumo excessivo destes pigmentos pode causar intoxicação e alergias", alerta Garcez.

Criação traz riscos ambientais?

Outra crítica comum à criação de salmão em cativeiro é o risco de contaminação nos oceanos e a facilidade de disseminação de doenças entre os peixes.

Por outro lado, organizações ambientalistas como a ONG internacional WWF apoiam a criação de salmão. A entidade considera que o setor tem "um tremendo potencial para alimentar mais pessoas com menos recursos exigidos do que outras fontes de proteína". Com algumas condições, claro.

Desde 2004, a WWF promove boas práticas na criação de salmão, junto com os principais produtores mundiais. Em 2010, criou o Aquaculture Stewardship Council (Conselho de Administração da Aquicultura, em tradução livre), órgão que estabelece tratados internacionais e oferece certificação aos produtores de salmão.

A indústria se uniu para criar, em agosto de 2013, a Global Salmon Initiative. O grupo reúne 15 produtores mundiais de salmão com o objetivo declarado de promover a produção sustentável.

*A jornalista Maria Carolina Abe viajou ao Chile a convite da TAM Cargo, LAN Cargo e Salmón de Chile (marca financiada pelo Ministério de Relações Exteriores do Chile e pela indústria de salmão chileno)