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Saiba onde investir em uma época de juros mais baixos

Epaminondas Neto

Do UOL, em São Paulo

17/01/2013 06h00

Em mais de uma década, foram bem poucos os períodos em que os investimentos de renda fixa, como fundos de investimentos e CDBs, não ajudaram o investidor a proteger seu dinheiro contra o desgaste dos preços. 

Neste ano, a briga entre juros e inflação segue desequilibrada, mas para o segundo oponente.

Contra a perspectiva de uma taxa básica de juros (que influencia os ganhos dos fundos e dos CDBs) de 7,25% neste ano, um cenário reforçado ontem pelo Banco Central, economistas do setor financeiro esperam uma inflação entre 5,5% e 6% para 2013.

Levando em conta o impacto do Imposto de Renda, mais as taxas de administração cobradas pelos bancos, os produtos tradicionais dificilmente devem satisfazer os poupadores.

Segundo especialistas em finanças pessoais, aplicações ligadas a algum índice de preços estão na ordem do dia.

Tesouro Direto é uma opção

O programa federal Tesouro Direto pode ser um dos caminhos possíveis do investidor.

Se acredita que os juros vão cair mais, pode partir para os produtos prefixados (LTNs e NTN-Fs); se acha que os juros vão voltar a subir, tem os pós-fixados (LFTs); e se está muito preocupado com a inflação, deveria dar preferência aos títulos atrelados a índices de preços (NTN-Bs).

O professor Ricardo Torres, da Business School São Paulo, observa que alguns títulos estão menos atrativos no curto prazo (12 meses). As taxas oferecidas pelas LTNs, por exemplo, estão bastante próximas da inflação esperada e oferecem pouca vantagem para o investidor.

"As NTN-Bs continuam sendo um produto interessante", diz o economista Jason Vieira, do site Moneyou.

Fundo de Renda Fixa Índices

Há uma família de fundos de investimentos, denominados Fundo de Renda Fixa Índices, que aplicam o dinheiro do investidor preferencialmente nos títulos que protegem contra a inflação. 

No ano passado, esses fundos proporcionaram um ganho, em média, de 21%. Mas não há garantias, nem expectativas por parte dos especialistas, de que essas aplicações repitam o desempenho neste ano.

Se optar por esse produto, o investidor deve ficar atento às taxas cobradas pelos bancos. "As taxas de administração no Brasil ainda estão muito altas", afirma Vieira. 

Perseguir ou fugir do Ibovespa?

Boa parte dos fundos de renda variável à disposição nos bancos tem por objetivo "perseguir"  o indicador Ibovespa, o termômetro do mercado de ações brasileiro, o mais utilizado para dizer se a Bolsa subiu ou caiu em um determinado o período.

Esse índice, segundo algumas projeções divulgadas no início deste ano, pode crescer entre 10% e 15% em 2013.

As expectativas: a recuperação gradual dos EUA, principalmente a partir do segundo semestre; taxas ainda robustas de crescimento na China; e um nível de crescimento um pouco melhor no Brasil. Os riscos: uma piora da crise europeia, principalmente, e um desfecho negativo da novela do "abismo fiscal" nos EUA.

Outros especialistas, no entanto, sugerem que o investidor "fuja" do Ibovespa e seja mais seletivo. O motivo: por enquanto, parece haver pouco entusiasmo de muitos investidores por esse mercado. Muitos estrangeiros saíram da Bolsa brasileira, bem como investidores domésticos do tipo pessoa física. Sem dinheiro novo, será mais difícil para o Ibovespa recuperar terreno.

Ações indicadas

A BB Investimentos, do Banco do Brasil, aponta perspectivas positivas para ações dos setores de varejo e consumo, logística e transporte, bens de capital e agronegócios.

Os analistas dessa instituição partem de três premissas principais: o país vai continuar gastando em infraestrutura, por conta da Copa (2014) e Olimpíadas (2016);  o consumo vai seguir em expansão, graças ao crescimento do crédito (ainda que moderado) e dos juros mais baixos; os preços das commodities (matérias-primas) agrícolas devem aumentar em 2013.

A corretora também sugere que o poupador fique de olho nas chamadas "small caps", empresas de médio porte com ações na Bolsa.

"Para as small caps, nossas perspectivas continuam positivas, principalmente para o setor de educação, considerando o cenário ainda favorável para a oferta de ensino básico e superior no país", diz o analista Mário Bernardes Junior, em relatório divulgado nesta semana. 

O profissional também chama a atenção para o setor de saúde, ressalvando para o risco da entrada de competidores estrangeiros neste segmento da economia.

Para onde vão os juros?

A taxa básica de juros, hoje em 7,25% ao ano, influencia os custos dos empréstimos para consumidores e empresas. Na teoria, quando o governo está mais preocupado com a inflação, a taxa de juros tende a subir; quando a preocupação com o nível de crescimento da economia é mais acentuada, a taxa tende a cair.

Por enquanto, o cenário predominante desenhado por vários economistas aponta para a manutenção dos juros básicos em 7,25% até o final deste ano.

O que não significa que a taxa básica de juros deva ficar parada indefinidamente. O economista da corretora Concórdia, Flavio Combat, acredita que os juros podem começar a subir no início de 2014, chegando a 9% no final do ano que vem.

A maioria do mercado, segundo a pesquisa regular do Banco Central, aposta em uma taxa básica na casa dos 8,25% para esse período.

O governo, na verdade, enfrenta um impasse, na ótica do mercado: está preocupado com o ritmo de crescimento --como demonstram as várias medidas tomadas nos que últimos anos--, mas a velocidade da inflação não pode ser desprezada.

"O cenário que temos pela frente é que a inflação ainda vai continuar pressionada", afirma Jason Vieira.

"Os [índices de preços] IGPs subiram bem no ano passado. Creio que em 2013 eles vão trocar de lugar com o IPCA, que tende a subir com mais força neste ano", diz Ricardo Torres.