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Saiba investir em fundos que misturam renda fixa e variável

Epaminondas Neto

Do UOL, em São Paulo

13/03/2013 06h00

Os fundos multimercados, que misturam aplicações em renda fixa (CDBs, por exemplo) e renda variável (ações), entraram no radar de muitos investidores.

Segundo acompanhamento da Anbima (associação que reúne bancos e corretoras), mais de R$ 20 bilhões foram depositados nesses fundos em um período de 12 meses encerrados em janeiro. No mesmo prazo, mais de R$ 24 bilhões saíram dos fundos de renda fixa tradicionais, enquanto somente R$ 308 milhões migraram para os populares fundos DI.

O grau de incerteza da economia brasileira pode ter atraído os investidores para esses produtos. Vale lembrar que até o final do ano passado, muitos especialistas dos grandes bancos falavam sobre a possibilidade de uma queda dos juros básicos da economia.

O quadro mudou totalmente em menos de três meses, e hoje os economistas se dividem entre aqueles que esperam um aumento modesto dos juros e outros que antecipam um ajuste drástico da taxa ainda neste ano.

Antes de investir, preste atenção nesses pontos
Busque fundos de investimentos multimercados com pelo menos três anos de existência
Pesquise o desempenho passado da aplicação, para checar a alternância de ganhos e perdas do fundo
Leia o material de divulgação (a "lâmina") do fundo, para verificar em quais produtos o gestor pode aplicar o dinheiro investido
Tome cuidado com os fundos "alavancados": esses produtos usam instrumentos financeiros conhecidos como "derivativos", que aumentam o risco da aplicação
Multimercado é um produto para diversificação, mas limitado, de preferência, a 10% ou 20% do total de investimentos

 

Mais liberdade para diversificar

Os fundos multimercados ganham relevância nestes momentos de indefinição, porque permitem ao responsável pela administração de recursos (o gestor) maior flexilibidade para redistribuir o dinheiro depositado pelos investidores. Em tese, permitem que o especialista faça as melhores apostas de acordo com as mudanças de cenário.

A contrapartida é que esses produtos são bem mais arriscados dos que os fundos tradicionais oferecidos pelos bancos.

“Esses fundos apresentam um risco intermediário. São mais arriscados que um fundo DI, por exemplo, mas costumam ser menos instáveis que um fundo de ações”, afirma Marcos Paolozzi, Diretor de Renda Fixa e Multimercados da Fator Administração de Recursos.

Especialistas divergem sobre qual o perfil do investidor mais adequado para esse tipo de produto. Alguns não recomendam para pessoa física, outros reforçam a necessidade do poupador ter algum conhecimento prévio sobre produtos financeiros.

“O que nós vemos muito por aqui são investidores que já aplicavam em fundos de renda fixa ou DI e que estão buscando um rendimento diferenciado por meio dos multimercados”, afirma Eliseo Vinciana, vice-presidente da Mapfre Investimentos.

Nos últimos 12 meses (até fevereiro), os multimercados realmente entregaram um rendimento diferenciado.

Ante um ganho estimado de 11,8% nos fundos de renda fixa e de 8% dos fundos DI, uma das modalidades dos multimercados teve rendimento de 21%, não por acaso um dos tipos mais agressivos. Já os fundos multimercados da modalidade “Juros e Moedas” (que mistura aplicações em títulos públicos e produtos cambiais, mas que exclui ações da receita) teve um ganho de 9,6% no mesmo período.

Fazendo o dever de casa

O investidor interessado nos fundos multimercados precisa fazer o dever de casa antes de se aventurar nesses produtos: vale a pena investir tempo pesquisando os vários tipos de fundos antes de fazer a aplicação.

Existem vários tipos de fundos multimercados, diferenciados conforme a estratégia seguida pelo gestor. Os multimercados denominados “Macros”  tendem a ser menos instáveis que os multimercados classificados como “Trading”.

Nos primeiros, o gestor define um cenário econômico (aposta na queda dos juros e inflação sob controle, por exemplo) e faz suas aplicações conforme essa previsão. A mudança na redistruição dos recursos ocorre, em tese, somente se o gestor modificar sua opinião sobre a trajetória da economia.

O gestor de um fundo multimercado “Trading” pesquisa oportunidades de ganhos no mercado financeiro, sendo mais agressivo em suas operações.

Conheça o passado do gestor

Uma maneira simples e rápida do investidor se precaver contra surpresas é pesquisar o desempenho anterior do fundo multimercado que atraiu seu interesse.

“Às vezes é preciso somente olhar a 'lâmina' do fundo. Cheque a instabilidade dos ganhos. Veja os meses de desempenho positivo e os meses de desempenho negativo. Olhe a rentabilidade acumulada no ano. Tudo isso vai indicar como é o estilo do gestor”, afirma o economista Fernando Meibak, da consultoria de finanças pessoais Moneyplan.

Meibak e outros especialistas recomendam que o investidor pesquise fundos multimercados com pelo menos três anos de existência. É o período mínimo para ter uma ideia um pouco mais consistente sobre a competência do gestor.

Essas e outras informações podem ser encontradas na “lâmina”, um material de divulgação obrigatório para os fundos de investimentos e que normalmente se resume a duas páginas.

Vale a pena olhar com atenção essas duas páginas. É onde os responsáveis pela gestão do produto financeiro vão esclarecer os custos, os impostos, o investimento inicial exigido e como pretendem aplicar o recurso dos investidores.

Onde buscar os multimercados; quais os custos

Essa modalidade de fundos têm ampla oferta tanto nos grandes bancos quanto em corretoras de valores e boutiques de investimentos. À semelhança dos fundos de investimentos mais tradicionais, não contam com a garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) e descontam o Imposto de Renda sobre os ganhos a cada semestre (o famoso “come cotas”).

Como exigem gestores mais ativos e qualificados, em geral são mais caros que os fundos DI, por exemplo. Meibak indica que a taxa de administração (cobrada sobre o valor investido) costuma ser de 2%. Além dessa taxa, os responsáveis por esse produto também cobram uma taxa de desempenho.

Toda vez que o fundo render mais que o CDI (um juro de mercado, semelhante à taxa básica de juros do país), descontam 20% sobre o ganho.

“Eu recomendaria que os investidores procurem fundos multimercados que ofereçam um ganho de pelo menos 130% do CDI. Abaixo disso, não vale a pena o risco”, diz Fernando Meibak, da Moneyplan.

Embora bem mais previsíveis, os produtos tradicionais como fundos DI e de renda fixa costumam oferecer ganhos abaixo de 100% do CDI.

Preste atenção no uso de derivativos

Os derivativos são instrumentos financeiros bastante usados por investidores mais sofisticados e gestores de investimentos.

Podem ser usados tanto para limitar as perdas em aplicações feitas na Bolsa de Valores, quando funcionam como uma espécie de “seguro”. É o caso de vários fundos que aplicam recursos na Bolsa de Valores.

Mas esses instrumentos financeiros também podem multiplicar as perdas do investidor.

Como isso é possível? Quer dizer que, caso o gestor do fundo seja “ousado” demais, o investidor pode ser convocado para cobrir eventuais perdas com novos recursos.