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Dinheiro do FGTS em ações de Petrobras e Vale: é melhor tirar ou deixar?

Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Téo Takar

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/01/2017 14h21

O governo anunciou no fim do ano passado mudanças nas regras do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), permitindo que o trabalhador saque os recursos de contas que estejam inativas até dezembro de 2015. A medida vale, inclusive, para os recursos do FGTS aplicados em fundos de ações de Petrobras e Vale.

Veja se é um bom negócio resgatar o dinheiro.

Quanto esse dinheiro rendeu?

Os fundos FGTS de ações renderam bastante até um certo momento. Quem aplicou R$ 1.000 em 2000 no fundo da Petrobras, por exemplo, chegou a ter perto de R$ 14.000 em maio de 2008. "De lá para cá, tivemos a crise financeira mundial, a queda no preço do petróleo e os problemas na gestão da Petrobras descobertos pela Lava Jato. As ações despencaram. A recuperação veio só no ano passado", afirma a consultora Sandra Blanco, da Órama.

Mesmo com o tombo das ações da Petrobras, aqueles R$ 1.000 de 17 anos atrás hoje estão valendo pouco mais de R$ 5.000, superando a inflação (de 190%) no período. Por outro lado, se esse dinheiro tivesse sido aplicado em um fundo de renda fixa atrelado ao CDI, hoje você teria mais de R$ 8.000. Se tivesse ficado no FGTS, hoje você teria pouco mais de R$ 2.000.

Os fundos FGTS da Vale também sofreram com a crise de 2008 e com a queda no preço do minério de ferro, mas hoje estão em situação melhor que os fundos de Petrobras. Quem aplicou R$ 1.000 em 2002 tem hoje em torno de R$ 7.600, superando com folga a inflação (160%) e também uma aplicação de renda fixa atrelada ao CDI no mesmo período, que hoje acumularia pouco mais de R$ 6.300. Se o dinheiro ficasse no FGTS, valeria pouco menos de R$ 2.000.

Está endividado? Saque

Para quem tem algum tipo de dívida, os especialistas são unânimes: saque o dinheiro, mesmo que esteja aplicado nas ações. "Não compensa você ter uma aplicação de risco, se tem dívida para pagar", afirma Blanco. "Os juros de uma dívida são, em geral, bem maiores do que o rendimento que você poderá ter com o fundo de ações."

Basta olhar para as taxas de juros do cartão de crédito, em torno de 450% ao ano, do cheque especial (313% ao ano) e do empréstimo pessoal (162%) para entender o que a consultora está dizendo.

"No ano passado, as ações da Petrobras e da Vale tiveram desempenho excelente, acima de 100%. Mas abaixo dos juros cobrados por empréstimos muito comuns, como o cheque especial. E 2016 foi uma exceção, porque essas ações vinham caindo havia alguns anos."

Oportunidade rara de usar melhor seu dinheiro

O presidente da ONG Fundo Devido ao Trabalhador, Mario Avelino, afirma que o governo está dando uma "excelente oportunidade ao trabalhador" de sacar o dinheiro do FGTS e fazer o que bem entender.

Oportunidades como essa são raras na história do FGTS. O trabalhador deve sacar, mesmo que o dinheiro esteja em um fundo de Petrobras ou Vale, e usar o dinheiro como bem entender, investir de outra forma. Se for para pagar dívida, não tenha dúvida, saque.

Ao anunciar a possibilidade do saque das contas inativas, o governo informou que o objetivo é justamente ajudar as pessoas no atual momento de crise e estimular a economia. São 18,6 milhões de contas inativas há mais de um ano, pertencentes a 10,1 milhões de trabalhadores, com um saldo total de R$ 41 bilhões.

O governo espera que pelo menos R$ 30 bilhões sejam sacados e injetados na economia. "É bom para o trabalhador, porque ele poderá usar o dinheiro que é dele para o que precisar, e é bom também para o Brasil, porque ajuda a impulsionar a economia", declarou o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira.

E se eu não precisar do dinheiro?

Mesmo para quem está em uma situação financeira tranquila e não precisa do dinheiro investido nos fundos FGTS de ações, os especialistas recomendam avaliar com carinho a oportunidade do saque dos recursos.

"A primeira coisa é analisar como estão distribuídos seus investimentos. Esse fundo é sua única aplicação em ações? Você tem outros papéis? Está tudo concentrado em Petrobras e Vale?", questiona Sandra Blanco.

"A pessoa precisa ter em mente que é preciso diversificar. É bom ela ter uma parcela do patrimônio em ações, que até pode ser o fundo FGTS, mas ela não deve passar de 20% do patrimônio total [em ações]. Se você só tem esse fundo, fica muito exposto ao risco da Petrobras e/ou da Vale. Pode ser melhor sacar o fundo e aplicar em ações de outras empresas ou em renda fixa", diz a consultora.

Além disso, ela considera que o atual momento talvez seja arriscado para investir em renda variável, como a Bolsa. "2017 está começando meio nebuloso, com muitas incertezas tanto no cenário político doméstico como externo", diz.

Uma sugestão para diversificar os investimentos e obter retorno acima da inflação, com baixo risco, é o Tesouro Direto, especialmente os títulos que pagam a inflação medida pelo IPCA mais uma taxa de juros. (Clique aqui para ver como investir no Tesouro Direto)

Se for para ficar, melhor Petrobras

Se você preferir não fazer nada com os fundos FGTS de ações, saiba que, embora os fundos da Vale apresentem hoje um desempenho acumulado melhor do que os fundos Petrobras, os analistas estão mais otimistas com a estatal de petróleo do que com a mineradora para o médio e longo prazos.

"A Petrobras passou por uma melhora significativa na gestão no ano passado. Além disso, o petróleo está em tendência de recuperação. Já a Vale depende muito do comportamento da economia da China, que deve desacelerar no médio prazo. Apesar de o minério de ferro ter subido muito no ano passado, nada indica que essa alta vai se sustentar em 2017", afirma o economista Ignacio Crespo, da Guide Investimentos.

Petrobras encalhou, e ações da Vale foram disputadas

Se você está no mercado de trabalho há mais de 17 anos, é provável que tenha transferido parte do dinheiro que tinha no FGTS na época para esses fundos. O Fundo FGTS Petrobras foi criado em 2000, e o da Vale, em 2002. Eles representavam uma opção de investimento interessante em relação ao rendimento oferecido pelo governo para os recursos do FGTS, de apenas 3% ao ano.

"Quando o governo liberou o Fundo Petrobras, você podia aplicar até 50% do saldo da conta do FGTS. Além disso, o fundo comprava as ações para o trabalhador com um desconto de 20% sobre o valor de mercado. Era um ótimo negócio, mas, infelizmente, não existia a cultura do investimento em ações entre os trabalhadores", lembra o presidente da ONG Fundo Devido ao Trabalhador, Mario Avelino.

O governo liberou até R$ 3,5 bilhões em ações da Petrobras para compra pelos fundos FGTS, mas a procura ficou abaixo da metade, em R$ 1,7 bilhão.

"Com os fundos Vale, foi bem diferente. Como os fundos Petrobras estavam indo muito bem, o pessoal correu para aproveitar a nova oportunidade. O governo liberou só R$ 1 bilhão em ações, mas a procura foi de R$ 3 bilhões. Os fundos tiveram que fazer rateio. Quem pediu para investir R$ 1.000, só conseguiu aplicar R$ 300", afirma Avelino.

Depois disso, não surgiram mais oportunidades tão boas como a de agora, de você poder sacar todo o dinheiro das contas inativas e fazer o que quiser.