Chuva, seca, calor extremo: as ações que mais sofrem com desastres naturais
As seguradoras são - segundo especialistas - algumas das empresas que mais saem perdendo na Bolsa com eventos climáticos extremos, ao lado das empresas do setor agrícola. Mas, de certa forma, todas as companhias são afetadas. "Eventos climáticos extremos, como secas, podem afetar a disponibilidade de água e, consequentemente, a geração de energia. Isso pode levar a aumentos nos preços da eletricidade e afetar várias empresas", diz André Vasconcellos, diretor-adjunto do IBRI, Instituto Brasileiro de Relações com Investidores.
Há empresas que perdem mais que outras com os efeitos das mudanças climáticas. "O investidor precisa estar atento a essas mudanças climáticas porque elas também afetam o resultado das empresas", diz Gabriela Joubert, estrategista-chefe do banco Inter.
Até o Comitê de Política Monetária está preocupado. Na última ata do Copom, divulgada no dia 7, o El Niño foi citado como um possível fator de pressão da inflação para cima. O fenômeno, que já está agindo, provoca intempéries climáticas radicais - chuvas intensas em inundações no Sul e Sudeste e seca severa no Norte e Nordeste.
Como as mudanças climáticas afetam a economia?
Hoje, o clima do Brasil está afetado pelo El Niño. A última vez que esse fenômeno foi tão forte, entre 2014 e 2016, a escassez hídrica ameaçou deixar o país no escuro. Isso porque a maior fonte de energia do Brasil é a hidrelétrica. Também houve racionamento de água no Sudeste.
Desta vez, o que preocupa são as inundações no Sul e Sudeste. A chuva com ventos de mais de 100 quilômetros por hora em São Paulo, na sexta-feira (3), deixou milhões de pessoas por dias sem energia, por exemplo.
Esses desastres podem representar gastos para pessoas e empresas, e podem afetar a inflação. As pessoas poderão ter que aumentar os gastos com a recuperação de danos, o que pode engessar o orçamento doméstico e reduzir a fatia disponível para poupar, diz o Copom.
Os setores que mais sofrem
No topo da lista estão as empresas de seguros. "Com tantos eventos climáticos extremos, a busca por seguros até aumenta, mas os sinistros aumentam muito mais", diz Matheus Amaral, analista do banco Inter. Os sinistros são os danos que os segurados sofrem. Quanto mais sinistros, mais as seguradoras precisam desembolsar para pagar seus clientes. Veja aqui mais sobre seguros contra desastres naturais.
A seguradora mais prejudicada pode ser o IRB Brasil (IRBR3). O IRB faz o seguro das seguradoras. Os resultados da empresa, segundo Santander, são severamente pressionados por eventos climáticos. O IRB, segundo o banco, precisou lidar com reivindicações mais altas que o normal durante a última ocorrência do El Niño, entre 2021 e 2022.
Outra que também sofre é a BB Seguridade (BBSE3). O Goldman Sachs classificou a ação como neutra (melhor não comprar, nem vender). "O crescimento dos lucros deverá desacelerar", diz o banco, principalmente em virtude das recentes inundações no Sul, que afetaram muitas lavouras.
Agricultura, turismo e construção também sofrem
Com mais chuvas e inundações, diminui a quantidade de produtos colhidos. É o que diz Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos. Mesmo assim, é bom lembrar que, nos últimos anos de seca, a produção de soja no Centro-Oeste cresceu. Então, os prejuízos podem ficar mais focados no Sul e no Nordeste.
A 3Tentos (TTEN3), de defensivos agrícolas, por exemplo, já foi afetada, e por isso o Itaú BBA classifica a ação como neutra. Em documento para investidores, o banco diz que a divisão de insumos da empresa foi afetada por maiores índices pluviométricos no Rio Grande do Sul, que levaram ao adiamento de um volume significativo de vendas para outubro).
Empresas de energia também podem ser afetadas. Como a maior parte da matriz energética brasileira é hidrelétrica, eventos climáticos extremos, como secas, podem afetar a disponibilidade de água. Mesmo que o preço das tarifas suba, o que melhora as receitas, a geração de energia cai e as empresas acabam fornecendo menos.
A Equatorial Energia (EQTL3) pode ser atingida. Ela atua na distribuição, geração, transmissão e comercialização de energia elétrica bem nos estados mais atingidos pela seca: Maranhão, Pará, Piauí, Alagoas, Amapá e Goiás. Além disso, segundo a agência de classificação de risco Moody's, empresas desse setor têm agora menos flexibilidade financeira para lidar com um evento climático do que tinham na última "edição" do El Niño, em 2016.
Alimentos e bebidas perdem, já que eventos climáticos extremos afetam a produção agrícola. "Muitas empresas dependem de matérias-primas agrícolas para seus produtos", diz André Vasconcellos. Isso resulta em aumento dos custos de produção e interrupções na cadeia de abastecimento. Nesse conjunto estão Camil (CAML3) São Martinho (SMTO3), Jalles Machado (JALL3 e JALL4) e Ambev (ABEV3). A Camil, por exemplo, é muito dependente da safra de arroz. A Ambev, da cevada e do milho. Além disso, a falta de previsibilidade do clima (com invernos quentes e repentinas ondas de frio no verão) pode prejudicar a logística de vendas da empresa.
Turismo é prejudicado. Destinos turísticos podem ser afetados por inundações e secas - como acontece agora na Amazônia. Isso representa perda de receita para empresas relacionadas a hotéis, restaurantes e serviços turísticos. Na Bolsa, uma das mais afetadas pode ser a CVC Brasil (CVC33).
Operadoras de rodovias, como CCR (CCRO3) e Ecorodovias (ECOR3) não escapam. Elas podem ter perdas com chuvas, inundações e rodovias interditadas.
A construção civil pode ser prejudicada. Enchentes, tempestades e deslizamentos de terra podem causar danos a propriedades e infraestrutura, afetando empresas relacionadas à construção civil e reparos. Também atrasa obras em andamento. Nesse caso, segundo o Santander, perdem Tecnisa (TCSA3), JHSF (JHSF3), Cury (CURY3) e Eztec (EZTC3).
As companhias de saúde também ficam na mira. Com o aquecimento global, as mudanças drásticas de temperatura, o risco de surgimento de novas doenças e epidemias aumenta e isso pode afetar o horizonte de crescimento das companhias do setor. Na pandemia, as empresas de convênio já sofreram bastante e podem ser afetadas novamente, com aumento das despesas, assim como as seguradoras. Investidores de Hapvida (HAPV3) e Qualicorp (QUAL3) devem ficar atentos.
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