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Batalha pela principal refinaria do Iraque, Bagdá pede ataques aéreos americanos

18/06/2014 18h16

KIRKUK, Iraque, 18 Jun 2014 (AFP) - Os jihadistas sunitas atacaram nesta quarta-feira a principal refinaria do Iraque no nono dia de uma ofensiva que os levou a conquistar várias regiões, mas Bagdá prometeu vencer os "terroristas" e solicitou "oficialmente" os ataques aéreos americanos contra os insurgentes.

O primeiro-ministro xiita Nuri al-Maliki afirmou que as forças do governo ainda lutam para conter o avanço dos jihadistas do Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL), depois das derrotas nos primeiros dias da ofensiva iniciada em 9 de junho.

Para isso, o ministro iraquiano das Relações Exteriores, Hoshyar Zebari, anunciou que seu país havia pedido "oficialmente" aos Estados Unidos ataques aéreos contra os jihadistas.

O presidente Barack Obama mantinha nesta quarta as consultas, sem descartar nenhuma opção, à exceção do envio de tropas. "O governo iraquiano pediu ajuda. Isto é, incontestavelmente, uma diferença que precisamos destacar", ressaltou o porta-voz do governo americano, Jay Carney.

Já o Irã, potência regional xiita que apoia Maliki, condicionou uma eventual cooperação com os Estados Unidos no Iraque ao êxito das negociações em torno do seu programa nuclear.

No campo oposto, a Arábia Saudita, peso pesado sunita que acusa Maliki de ter levado o Iraque para a beira de um abismo, alertou para uma "guerra civil" que desestabilizaria "toda a região", enquanto os Emirados Árabes Unidos convocaram o seu embaixador para denunciar a política "confessional" de Bagdá.

- Iraque se queixa de 'campanhas midiáticas' sauditas - Falando durante uma reunião na Arábia Saudita, o chanceler iraquiano disse ter pedido às autoridades sauditas que "parem com as campanhas midiáticas de incitação (...) já que alguns religiosos sauditas apresentam o que acontece no Iraque como uma revolução".

Os insurgentes do EIIL lançaram um ataque contra a refinaria de Baiji, 200 km ao norte de Bagdá, de acordo com o porta-voz das Forças Armadas.

Mas as forças do governo impunham resistência e mataram 40 insurgentes, de acordo com o general Qassem Atta, porta-voz de Maliki para questões de segurança.

Vários reservatórios de produtos refinados foram incendiados durante os combates na refinaria, que foi fechada e teve os funcionários retirados na terça-feira.

"O ataque à principal refinaria de Baiji pode significar uma fonte de petróleo para o EIIL, mas ela não fornece petróleo para fora do Iraque e o impacto do ataque é provavelmente menor do que acreditávamos", considera Rebecca O'Keeffe, analista da Interactive Investor.

Depois de 9 de junho, os combatentes do EIIL, apoiados por partidários do regime de Saddam Hussein - derrubado pela invasão americana de 2003 -, tomaram o controle de Mossul (centro), segunda maior cidade do Iraque; de grande parte de sua província, Nínive (norte); de Tikrit e de outras regiões das províncias de Saladino (norte), Diyala (leste) e Kirkuk (norte).

Nesta quarta, os jihadistas também invadiram três localidades do norte.

- 'Bagdá intransponível' - Na tentativa de retomar a iniciativa, as forças de segurança anunciaram a sua intenção de reconquistar totalmente "nas próximas horas" Tal Afar (noroeste), cidade xiita próxima à fronteira com a Síria controlada em parte pelos insurgentes, e depois Mossul.

Na terça-feira, o Exército havia repelido os insurgentes em Baquba (60 km a nordeste de Bagdá).

"Bagdá é intransponível", afirmou Zebari nesta quarta, admitindo, no entanto, que "a situação continua grave".

"A opção militar é insuficiente e concordamos sobre a necessidade de encontrar soluções políticas radicais", acrescentou, citando principalmente "a formação de um novo governo, que represente todos, sem distinção ou marginalização".

Mas Zebari pediu "o apoio dos países árabes do mundo para enfrentar a ofensiva" do EIIL, porque "o risco de desmembramento do Iraque existe".

"Se o Iraque cair nas mãos de grupos terroristas, nem a Arábia Saudita nem os (outros) países do Golfo estarão a salvo das ações malévolas desses grupos", alertou.

"Enfrentaremos o terrorismo e acabaremos com o complô", afirmou Maliki em um discurso transmitido pela televisão. "Um revés não é uma derrota", disse.

O governo Maliki é marcado por divisões sectárias entre xiitas e sunitas e enfrenta há mais de um ano uma onda de violência alimentada pelo descontentamento da minoria sunita, que se sente marginalizada, e pela guerra na vizinha Síria, onde o EIIL também atua.

Na província de Nínive, quarenta indianos que trabalhavam na construção civil foram sequestrados na região de Mossul, onde 80 cidadãos turcos continuam reféns dos jihadistas desde a semana passada.

Para os especialistas, o que acontece atualmente tem suas origens na invasão dos Estados Unidos, em 2003, que derrubou o ditador sunita Saddam Hussein, mas também na política religiosa de Maliki.

"Os americanos desmantelaram as instituições, mas Maliki entrará para a história como alguém que perdeu as rédeas do Iraque", disse, Ruba Husari, editora do site Iraq Oil Forum.

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