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Acordo sobre programa nuclear iraniano derrubará preços do petróleo

14/07/2015 20h19

Londres, 14 Jul 2015 (AFP) - O acordo sobre o programa nuclear iraniano, e, consequentemente, a suspensão das sanções contra o Irã resultarão em um novo fluxo de petróleo bruto em um mercado que já tem uma oferta abundante, puxando os preços para baixo.

O Irã e as outras grandes potências concluíram formalmente nesta terça-feira, em Viena, um histórico acordo sobre o programa nuclear de Teerã, que deverá encerrar doze anos de tensões em torno deste tema.

O acordo inclui uma futura suspensão das sanções econômicas internacionais impostas ao Irã, que abarcam as exportações de petróleo, essenciais para a economia do país.

"Após esse acordo, o mercado espera que a produção do Irã aumente, o que vai se somar a uma oferta já abundante", explicou Ole Hansen, analista da Saxo Bank.

Devido às sanções, o Irã, quarto país do mundo em reservas de petróleo, viu sua produção cair a menos de 3 milhões de barris diários (mbd) desde 2012. Suas exportações caíram à metade, a atuais 1,3 mbd contra 2,5 mbd em 2011.

O país pode produzir 1 mbd adicionais nos seis meses posteriores à suspensão das sanções, segundo o ministro do Petróleo, Bijan Namdar Zanganeh.

O petróleo, setor vital para a economia iraniana, que precisa urgentemente de investimentos.

- Uma alta que não será imediata -Os analistas do mercado não são tão otimistas sobre os volumes de petróleo bruto que sairão dos poços do país, já que as instalações petrolíferas são antigas.

Charles Robertson, da Renaissance Capital, prevê que a produção iraniana aumentará em 750.000 barris diários, chegando a 4,4 milhões de barris por dia no início de 2016.

"Combinados aos 19 milhões de barris de petróleo armazenados (no Irã) isso deve fazer subir as exportações iranianas a 2,4 mbd em 2016, contra 1,6 mbd em 2014", ressaltou o analista.

Além disso, será preciso esperar pelo menos seis meses antes que as sanções comecem a ser flexibilizadas.

"O Irã terá que restringir significativamente seu programa nuclear antes que sejam suspensas as sanções de Estados Unidos e União Europeia", disse Richard Mallinson, analista da Energy Aspects. E, segundo os analistas da Fitch, as obrigações do Irã estão longe de ser triviais.

Uma vez digeridos esses elementos, os preços, que tinham sofrido forte queda no início das operações na Europa, se recuperaram.

O preço do barril de "light sweet crude" (WTI) para entrega em agosto, em queda desde o início do mês, subiu 84 centavos, a 53,04 dólares na Bolsa de Nova York (Nymex).

Em Londres, o barril de Brent do mar do Norte para entrega em agosto subiu 66 centavos, a 58,51 dólares.

- Disputa de mercado -Em um mercado mundial onde o excedente da oferta de petróleo se aproxima dos 2 mbd - apesar de uma demanda que se recupera- qualquer aumento da produção é recebida negativamente pelos mercados, motivo pelo qual a volta do Irã deve frear qualquer recuperação dos preços do petróleo em 2016. Sobretudo em um momento em que a Opep continua aumentando sua produção, a fim de manter e conquistar novas fatias de mercado.

A Arábia Saudita, que lidera o cartel, e o Iraque, aumentaram sua produção neste ano, e parece pouco provável que deixem espaço para os barris iranianos.

"Se a Arábia Saudita não reduz sua produção para adaptar-se ao retorno do Irã (às exportações), então a batalha pelas cotas de mercado serão intensificadas, e isso será negativo para as cotações de petróleo", advertiu Olivier Jakob, analista da Petromatrix.

Desse modo, a meta de produção da Opep, fixada em 30 mbd, mas muito ultrapassada nos últimos tempos, não faria sentido. "O cartel terá que voltar às cotas individuais por país para instaurar uma disciplina", conclui Mallinson.

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