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Avós disputam empregos em Hong Kong diante de crise iminente de envelhecimento

Lisa Pham e Michelle Yun

24/02/2015 11h17

(Bloomberg) - Oitenta e seis anos de idade e ainda procurando emprego.

Wong Siu-ying tinha parado de distribuir folhetos em uma passarela de Hong Kong quando machucou o joelho em agosto. Como ela gasta dois terços da sua renda de previdência social para pagar o aluguel e não recebe uma pensão regular dos seus três filhos, a aposentadoria não é uma opção.

"Não é suficiente", disse Wong dos aproximadamente 2.200 dólares de Hong Kong (US$ 284) por mês que ela recebe do governo, que fornece um benefício aos idosos como renda complementar, na expectativa de que as famílias paguem pelas despesas de subsistência. "O mais importante é arrumar emprego".

Na cidade com a maior quantidade de carros Rolls Royce per capita, Wong faz parte do número cada vez maior de idosos obrigados a varrer ruas, catar papelão para reciclagem ou distribuir panfletos para fugir da pobreza. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico e a Organização Mundial da Saúde projetam que Hong Kong tenha a maior porcentagem de população com 65 anos ou mais na Ásia até 2050, com 42 por cento, superando os 39 por cento no Japão.

Para o chefe do Executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying, e sua secretaria de Finanças, que devem entregar na quarta-feira o orçamento para 2015-2016, a pressão para ajudar os idosos da cidade se somam aos riscos mais imediatos, como evitar novas agitações políticas depois dos protestos do ano passado e a preparação para um aumento das taxas de juros.

Na segunda-feira, o centro financeiro rival de Cingapura anunciou planos para fortalecer o apoio de previdência social para trabalhadores idosos e de renda média. O desafio demográfico da ilha se assemelha ao de Hong Kong, já que a média de idades dos seus cidadãos subirá para 47 anos em 2030, frente a 39 em 2011.

Superávit orçamentário

Hong Kong conta com certo poder de fogo fiscal por um superávit orçamentário. Marcella Chow, economista do Bank of America Merrill Lynch em Hong Kong, estima um superávit de cerca de 62 bilhões de dólares de Hong Kong, ou 2,8 por cento do PIB, liderado pela receita obtida com impostos do selo para transações com imóveis e ações, vendas de terras, salários e impostos corporativos.

Mesmo assim, a perspectiva do aumento das taxas de juros nos EUA, seguidas em Hong Kong porque sua moeda está atrelada à verdinha, aumenta o risco de reduzir a receita obtida com transações imobiliárias, que vinha mantendo os cofres do governo cheios.

Em janeiro, Leung pediu à secretaria de Finanças que destinasse 50 bilhões de dólares de Hong Kong para as futuras necessidades de financiamento de aposentadorias. Mesmo se fosse promulgado, o somatório estaria muito longe de fornecer uma cobertura generalizada.

"Não podemos depender exclusivamente do governo para a proteção universal da aposentadoria", disse Leung, em um discurso sobre políticas, em 14 de janeiro. "Portanto, não somos otimistas em relação à possibilidade de chegarmos a um consenso sobre os arranjos de financiamento da proteção por aposentadoria".

Mais de um terço dos idosos de Hong Kong vivem em situação de pobreza, segundo um relatório do governo em 2012. A cifra se compara com uma taxa média de pobreza de 12,8 por cento nos países-membros da OCDE, segundo um relatório de 2013.

Jovens

As gerações mais novas também não estão planejando suficientemente seu próprio futuro. Um de cada cinco trabalhadores solteiros nas casas dos trinta e dos quarenta em Hong Kong não tem planos de aposentadoria, segundo uma pesquisa on-line realizada pela Fidelity Worldwide Investment em 2013.

Isso deixará as gerações futuras na mesma posição que Lee Yuet-yan, quem também deve se preocupar com gastos médicos devido à doença respiratória da sua esposa. Aos 79 anos, o ex-cozinheiro trabalha seis dias por semana como segurança de um edifício.

"Gosto do meu emprego e posso contribuir para a sociedade", disse ele, após concluir um turno de nove horas. "Não recebo apoio do governo e posso pedir dinheiro aos meus filhos se eu precisar. Mas vou continuar trabalhando tanto quanto puder".

Título em inglês: 'Grandmas Vie for Jobs as Asia's Worst Aging Crisis Looms in H.K'

Para entrar em contato com os repórteres: Lisa Pham, em Hong Kong, lpham14@bloomberg.net; Michelle Yun, em Hong Kong, myun11@bloomberg.net