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Merkel enfrenta desacordo crescente entre legisladores por resgate à Grécia

Rainer Bürgin e Arne Delfs

26/02/2015 14h26

(Bloomberg) - A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, enfrenta cada vez mais divergências enquanto sua coligação governante se prepara para prorrogar o resgate da Grécia, em apoio à sua política de manter a zona do euro intacta.

Legisladores seniores dizem que quase todo o bloco democrata cristão de Merkel apoiará a moratória de quatro meses para a Grécia em uma votação da Câmara dos Deputados na sexta-feira, mas 22 dos 311 membros da assembleia partidária se opuseram à medida em uma enquete não oficial realizada nesta quinta-feira, nove a mais dos que votaram contra a aprovação do segundo resgate da Grécia em 2012.

Eles foram instigados pela Alternativa para a Alemanha (AfD), o partido contrário ao euro que ganhou bancadas em quatro parlamentos estaduais alemães desde agosto e que está tentando usar a insatisfação com os resgates da zona do euro para fortalecer sua posição nacional. Um dos líderes do partido, Bernd Lucke, pediu aos legisladores democratas cristãos que rejeitassem a disciplina partidária e votassem em sã consciência amanhã.

"É um problema" para os democratas cristãos, disse Gero Neugebauer, analista político da Universidade Livre de Berlim, em entrevista por telefone. Os legisladores que discordam das políticas de resgate de Merkel estão pensando nas próximas eleições regionais, e a ajuda "também vai contra as convicções deles", disse ele.

Um dos oponentes é Wolfgang Bosbach, legislador democrata cristão há seis mandatos e presidente do comitê de assuntos internos, que diz estar cogitando terminar sua carreira parlamentar depois de se opor constantemente aos resgates. Hans Michelbach, da União Social Cristã (CSU), com sede na Baviera, diz que se recusará a apoiar Merkel pela primeira vez porque pensar que o resgate funcionará é se iludir. Bosbach e Michelbach são legisladores desde 1994. Peter Ramsauer, legislador do CSU e ex-ministro dos Transportes no governo de Merkel, também disse que votará contra a prorrogação.

Selfies com 'nein'

"Os legisladores devem decidir por conta própria" se a ajuda à Grécia deve ser prorrogada, disse Lucke, em uma entrevista. Um dos motivos é que um terceiro resgate da Grécia "é inevitável caso o país continue na zona do euro e as políticas de resgate não mudarem", disse ele.

Não obstante, Merkel ainda figura como a política mais popular da Alemanha nas pesquisas depois de ter contribuído com a maior proporção de fundos para os resgates da zona do euro desde 2010. Na terça-feira, os governos da zona do euro deram tempo ao primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, para que venda seu programa de políticas aos credores, mantendo o salva-vidas financeiro do país mais endividado do bloco até 30 de junho.

Vinte e dois legisladores democratas cristãos votaram contra manter a ajuda na pesquisa informal e cinco se abstiveram, disse Sebastian Hille, porta-voz da CSU, em entrevista por telefone. Os sociais-democratas, parceiros menores de Merkel na coligação, concordam em ajudar a Grécia em troca de compromissos de reforma. O governo de Merkel controla 504 das 631 bancadas do Bundestag.

O Bild, o jornal mais lido da Alemanha, condenou o apoio do governo à Grécia nesta quinta-feira ao colocar a palavra "nein" (não) na página do editorial e pedir que os leitores tirem fotos de si mesmos com ela.

A Alemanha e a Finlândia, os principais críticos dos esforços de Tsipras para se liberar da austeridade fiscal, são fundamentais para a prorrogação proposta, já que a votação dos legisladores é necessária. Ainda que não obter a aprovação parlamentar para o programa possa trazer o risco de deter o fluxo de auxílio à Grécia, até os legisladores que votaram contra resgates no passado reconhecem não terem suficiente apoio para bloquear a prorrogação. O governo holandês disse na segunda-feira que não buscará aprovação do seu parlamento.

Título em inglês: 'Merkel Faces Stepped-Up Dissent on Greek Bailout Among Lawmakers'

Para entrar em contato com os repórteres: Rainer Bürgin, em Berlim, rbuergin1@bloomberg.net; Arne Delfs, em Berlim, adelfs@bloomberg.net