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Trânsito faz parte do trabalho em Dubai; casas baratas podem ser solução

Zainab Fattah

31/03/2015 16h21

(Bloomberg) - Walid Zahra demora 25 minutos para ir do escritório em Dubai para casa -se você não contar as duas horas que ele passa em um café esperando que o trânsito se libere.

"Decidi que é melhor passar esse tempo lendo jornais do que me estressando dentro do carro", disse Zahra, 27, que trabalha com recursos humanos.

Como cerca de metade das pessoas que trabalham em Dubai, Zahra, que é libanês e tem um filho, não pode bancar o custo de morar lá e por isso precisa se trasladar do emirado vizinho Sharjah, que também faz parte dos Emirados Árabes Unidos. Como as estradas estão cada vez mais lotadas, a cidade está apresentando meios para incorporar residências de preços módicos a uma paisagem dominada por condomínios de luxo e apartamentos exclusivos.

"Não podemos continuar só construindo estradas, pontes e túneis mais amplos", disse Abdullah Rafia, vice-diretor geral de engenharia e planejamento do governo municipal. "Moradia acessível é a solução para o problema de mobilidade em Dubai".

A questão é urgente para o centro empresarial dos Emirados Árabes Unidos, que depende muito da mão de obra estrangeira para manter sua economia funcionando.

"Os aluguéis e o alto custo de vida, se não forem resolvidos, vão dissuadir as empresas de se mudarem para cá no futuro", disse Martin Cooper, diretor em Dubai de mercado imobiliário do Oriente Médio na Deloitte LLP. "Eles precisam começar a resolver isso agora, porque a acessibilidade se torna um problema cada vez maior, até para as pessoas com uma renda relativamente alta".

Planos do governo

Entre as medidas que foram tomadas ou que estão sendo analisadas, o governo diz que os desenvolvedores precisam destinar de 15 por cento a 20 por cento de seus projetos às moradias acessíveis. Por enquanto, "isso é opcional", disse Rafia. "Depois de alguns anos, caso seja necessário, implementaremos regulações obrigatórias para todos".

As autoridades não têm planos para construir por conta própria casas de baixo custo por enquanto, embora tenham capacidade para isso. O governo é dono da maioria dos terrenos não urbanizados e possui participações em desenvolvedoras como Nakheel PJSC, Meraas Holding LLC e Dubai Property Group.

Subsídios do governo e custos menores com os terrenos são fundamentais para aumentar a moradia acessível, disse Matthew Green, diretor de pesquisa sobre os Emirados na CBRE Group Inc., empresa de imóveis comerciais com sede em Los Angeles. O governo também pode estimular a construção em massa se conceder terrenos e leiloar o trabalho entre empreiteiras privadas, disse ele.

Essas medidas, no entanto, não são prováveis.

"Não acho que adotemos incentivos desse tipo", disse Rafia.

Imóveis de luxo

As desenvolvedoras de Dubai há muito tempo se concentram em imóveis de luxo destinados a compradores ricos de países como Índia, Rússia e Reino Unido. Isso está mudando, pois a valorização do dirham, que é atrelado ao dólar, está reduzindo a demanda.

Embora as desenvolvedoras estejam passando a se dedicar a residências mais baratas porque a demanda por imóveis de luxo está diminuindo, essas propriedades continuam fora do alcance de muitos, de acordo com Khalid Bin Kalban, presidente do conselho da desenvolvedora privada Union Properties PJSC.

Construir casas acessíveis pode atrair fundos imobiliários e investidores institucionais que buscam uma renda regular.

O mercado de aluguel residencial de Dubai é "muito forte e pode atrair investidores se o produto certo estiver disponível", disse Green, da CBRE. "As residências para o mercado médio teriam demanda entre as empresas que precisam de moradia para funcionários que trabalham em escolas, hotéis, hospitais, companhias aéreas e outros setores", disse ele.

Zahra, que ganha 15.000 dirhams por mês e sustenta a esposa e o filho pequeno, pensou em se mudar para Dubai quando seu contrato de aluguel estava acabando. Ele descobriu que teria que pagar mais do que o dobro pelo aluguel, uma quantia que equivale a quase metade de seu salário anual.

"Realmente precisamos de um apartamento com dois quartos, porque nosso filho está crescendo e o segundo quarto já não é opcional", disse ele. "Mas resolvemos aguentar a dificuldade de translado e encontrar uma casa maior em Sharjah".