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Samarco perde confiança de detentores de títulos após desastre

Filipe Pacheco

01/12/2015 11h41

(Bloomberg) -- À medida que a abrangência do pior desastre ambiental do Brasil se torna mais clara, os detentores de títulos de dívida da Samarco perdem a confiança restante na saúde financeira da empresa e na sua capacidade de honrar dívidas.

Após o rompimento de duas barragens na mina da empresa, no dia 5 de novembro, que levou à morte pelo menos 13 pessoas, novos relatórios agora se concentram no mapeamento da extensão dos danos causados pela lama e pelos rejeitos. Além dos danos sociais incalculáveis na região, metais pesados tóxicos e produtos químicos perigosos contaminaram o Rio Doce e se espalharam por dois estados, interrompendo o abastecimento de água potável de pelo menos 260.000 pessoas na região Sudeste, a mais densamente povoada do Brasil -- o que tem provocado também danos incalculáveis à vida selvagem, segundo a Organização das Nações Unidas.

Enquanto autoridades inspecionam os danos e emitem declarações pesadas, investidores estão cada vez mais céticos de que a Samarco conseguirá se recuperar do desastre. Os US$ 2,2 bilhões em bonds com vencimento entre 2022 e 2024 da empresa caíram para cerca de 35 centavos de dólar na segunda-feira depois que o governo brasileiro disse que pedirá até R$ 20 bilhões (US$ 5,2 bilhões) em indenização da empresa, uma joint venture da Vale e da BHP Billiton.

"Ainda não temos uma noção clara da real dimensão do acidente", disse Felipe Borges, analista da V10 Investimentos Wealth Management em Belo Horizonte. "As multas e penalidades poderão ser muito maiores do que já sabemos. É difícil ter certeza de que eles conseguirão cumprir todas as obrigações financeiras".

Os três bonds da empresa tiveram as maiores perdas entre mais de 1.000 notas de mercados emergentes monitoradas pela Bloomberg, com desvalorização de pelo menos 43 por cento em novembro. A tranche de US$ 1 bilhão em notas que vencem em 2022, títulos mais líquidos da Samarco, caíram 11,4 centavos na segunda-feira, para 34,77 centavos de dólar, nível mais baixo desde sua emissão, em outubro de 2012.

A assessoria de imprensa da Samarco não respondeu a um pedido de comentário sobre o desempenho de seus bonds nem a perguntas a respeito da capacidade da empresa de se recuperar do acidente. A companhia disse que a lama liberada pelas barragens não é tóxica.

Dívidas cobertas

A Samarco possui dinheiro suficiente para cobrir os pagamentos de dívidas por pelo menos dois anos sem ter que renegociar nem captar mais dinheiro enquanto age para reconstruir seu negócio, disse o diretor financeiro, Eduardo Bahia, em uma teleconferência, no dia 19 de novembro.

A empresa tem US$ 216,7 milhões em pagamentos de juros com vencimento nos próximos dois anos para seus bonds denominados em dólares. A Samarco terá cerca de R$ 3 bilhões em caixa em mãos no final de 2015, disse a Standard & Poor's em um relatório, no dia 25 de novembro, que não contabilizou nenhuma multa nem danos que a empresa teria que pagar como resultado do acidente.

A onda de lama liberada pelo rompimento das barragens sufocou o Rio Doce com um misto de rejeitos retirados da terra e água utilizada para a extração de minério de ferro do solo e para a produção de pelotas de ferro. A lama já se deslocou para o Espírito Santo, estado vizinho, e se espalhou ao longo do litoral atlântico do Brasil, ameaçando áreas de reprodução de tartarugas marinhas e áreas turísticas.

Responsabilidade financeira

"O dano ambiental equivale a 20.000 piscinas olímpicas de lama tóxica e rejeitos contaminando o solo, os rios e o sistema de água de uma área que cobre mais de 850 quilômetros", disseram John Knox e Baskut Tuncak, inspetores da ONU para direitos humanos, meio ambiente e substâncias tóxicas e rejeitos, em um relatório, no dia 25 de novembro.

A empresa terá que assumir a responsabilidade financeira pelos danos materiais e ao meio ambiente, disse o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, a repórteres, em Brasília, no dia 27 de novembro, após reunião com a presidente Dilma Rousseff. Ela classificou o acidente como o pior desastre ambiental da história do Brasil.

"Essa catástrofe como um todo parece estar longe do fim", disse Danilo Miranda, advogado da Marcelo Tostes Advogados especialista em licenciamento ambiental e concessões de mineração, de Belo Horizonte. "Poderíamos estar falando de bilhões e bilhões em passivos e muitas batalhas judiciais. Os investidores devem ter isso em mente".