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Bancos centrais adotam taxas negativas em busca da inflação

Simon Kennedy

29/01/2016 17h16

(Bloomberg) - Os bancos centrais estão passando a ver cada vez mais aspectos positivos nas taxas de juros negativas.

Ao surpreender os mercados penalizando uma parcela das reservas dos bancos, o Banco do Japão (BOJ, na sigla em inglês) entrou nesta sexta-feira em um clube com cada vez mais membros: os que decidem empurrar alguns custos de crédito para abaixo de zero, uma prática antes condenada.

Quase um quarto da economia mundial tem taxas negativas atualmente, e essa política reflete a pressão para se empenhar mais para reacender a inflação, correndo o risco de prejudicar os bancos. A falta de efeitos por enquanto prepara o cenário para que o Banco Central Europeu reduza ainda mais as taxas e poderia alimentar a especulação de que o Federal Reserve (Fed) faça o mesmo se os EUA caírem.

"As taxas negativas agora são o novo padrão", disse Gabriel Stein, economista da Oxford Economics em Londres. "Temos visto que elas são possíveis e vamos ver mais".

Nova política

O Japão adotou uma taxa negativa como parte de um sistema de três camadas. É o caso mais recente de um banco central que se inclina por dar ainda mais estímulo depois que a perspectiva mundial de crescimento piorou novamente no início de 2016. As ações estão caindo, as commodities estão recuando e a China está desacelerando, então o BCE está sinalizando uma nova ajuda para março e, nesta semana, o Fed reduziu a probabilidade de elevar as taxas naquele mês.

Os economistas consideravam que zero era o mínimo possível para os bancos centrais. As taxas negativas se tornaram mais convencionais à medida que a inflação foi se mantendo fraca no mundo depois da recessão de 2009, apesar de os bancos centrais terem reduzido suas referências e comprado bonds.

O propósito dessa política fazer com que a retenção de dinheiro seja menos atraente para os bancos, obrigando-os a repassar custos do crédito e dos empréstimos baratos para empresas e consumidores. A medida também tende a enfraquecer as moedas, o que aumenta a competitividade das exportações, embora gere o risco de provocar uma retaliação de parceiros comerciais.

Lições

O lado negativo é que os bancos ficam apertados, então a política poderia dar errado se eles cortarem gastos.

A boa notícia é que tem havido efeitos limitados nas economias escandinavas que primeiro ficaram abaixo de zero. Elas evitaram principalmente que os bancos repassassem o custo para os mutuários ou que se resguardassem para proteger os lucros. Os mercados monetários continuaram operando e houve poucas fugas para o dinheiro.

"Isso tem algumas complexidades para o sistema bancário, mas Dinamarca, Suécia e Suíça ensinam que também há efeitos econômicos", disse Kristoffer Kjaer Lomholt, analista do Danske Bank.

Maior probabilidade

A falta de consequências negativas por enquanto aumenta a probabilidade de adoção de taxas negativas em um momento em que o poder da flexibilização quantitativa está sendo questionado. O BOJ e a Escandinávia utilizam sistemas de camadas, em que não se cobra a todas as reservas bancárias, e esse também poderia se tornar um modelo.

Economistas do JPMorgan Chase Co. projetam que o BCE reduzirá sua taxa de depósitos de -0,3 por cento para -0,4 por cento em março e dizem que ela poderia baixar até -1 por cento sem provocar uma extração significativa de dinheiro.

Quanto ao Fed, mesmo se elevar as taxas, os mercados de opções mostram que os investidores estão apostando na existência de uma chance de mais de 10 por cento de que a taxa se torne negativa por volta do fim de 2017. O vice-presidente Stanley Fischer disse neste mês que as consequências prejudiciais das taxas negativas seriam "transitórias".

Antes, as taxas negativas "pareciam ilógicas", disse Stein, da Oxford Economics. "Agora sabemos que o que achávamos que era verdade não é".