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Guerra é o risco climático que preocupa líderes da Europa

Jonathan Tirone

20/02/2017 11h54

(Bloomberg) -- Entre as ameaças do século 21 apresentadas pela mudança climática - elevação do nível do mar, derretimento do pergelissolo e supertempestades - as autoridades europeias alertam para um risco do século passado que elas conhecem muito bem: guerras.

Um foco estreito demais nas consequências ambientais do aquecimento global subestima as ameaças militares, disseram autoridades europeias e das Nações Unidas em uma conferência global de segurança, realizada neste fim de semana em Munique. As advertências surgem depois que agências de defesa e inteligência concluíram que a mudança climática poderia provocar conflitos por recursos e fronteiras.

"A mudança climática é um multiplicador de ameaças que leva a revoltas sociais e possivelmente até mesmo a conflitos armados", disse a máxima autoridade sobre clima da ONU, Patricia Espinosa Cantellano, na conferência que contou com a participação dos secretários de Defesa e de Segurança Nacional dos EUA, James Mattis e John Kelly.

Os países da União Europeia se esforçam para assimilar milhões de imigrantes e refugiados da África e do Oriente Médio, mas as autoridades de segurança estão se preparando para mais do mesmo no futuro. O secretário-geral António Guterres identificou a mudança climática e o crescimento da população como as duas "megatendências" mais graves que ameaçam a paz e a estabilidade internacional.

Marco zero

O "marco zero" dos conflitos armados por causa do clima será o Ártico, onde temperaturas recorde estão derretendo o gelo e revelando recursos naturais que poderiam ser alvo de disputa para alguns países, disse o presidente da Finlândia, Sauli Niinistö, em um painel.

Para a Rússia, o maior país fornecedor de energia do mundo, os países europeus que estão adotando energia de fontes renováveis representam uma ameaça econômica. Ao mesmo tempo, a excessiva dependência europeia da energia russa expõe o continente à coerção, segundo Kelly Gallagher-Sims, ex-assessora de clima e energia do ex-presidente dos EUA Barack Obama.

Por sua vez, os líderes russos em Munique disseram que desejam coexistir pacificamente com a Europa e que respeitarão o Acordo de Paris sobre a mudança climática - embora seja improvável que tentem convencer o presidente dos EUA, Donald Trump, a fazer o mesmo.

Acordo de Paris

Não está claro se e quando Trump cumprirá suas frequentes promessas de campanha de retirar os EUA do Acordo de Paris, um acordo da ONU assinado em 2015 para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e adotado por quase 200 países. Desde sua posse, o governo eliminou normas dos EUA para combater a mudança climática e relaxou restrições contra empresas de combustíveis fósseis.

O senador democrata Sheldon Whitehouse, membro do comitê de meio ambiente e obras públicas, disse às autoridades na capital da Baviera que talvez eles tenham que lutar para proteger o Acordo de Paris de 2015 de quem não acredita no aquecimento global na Casa Branca.

"A resposta da comunidade internacional será importante", disse Whitehouse. Embora a probabilidade de abandonar o Acordo de Paris seja pequena, ela "diminui mais se a resposta da comunidade internacional" aos EUA for "não apenas 'não se atreva', mas também que haverá consequências em outras áreas" se o país sair do acordo.