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Sol, areia e polícia religiosa no turismo da Arábia Saudita

Vivian Nereim e Glen Carey

22/02/2017 14h02

(Bloomberg) -- Falta um dia para a grande inauguração do Shaden, um luxuoso acampamento no deserto da Arábia Saudita onde barracas com ar-condicionado têm vista para rochedos de arenito. Uma delegação opulenta está a caminho. Mas o lugar ainda não está completamente pronto.

Os pavões para o jardim da suíte real, cuja diária custa 10.000 riais, não chegaram. A vaca levada para fornecer leite fresco para a cafeteria mugiu a noite inteira. Ela "não ficava quieta", lamentou Ahmed Al Said, incorporador do projeto, enquanto dava ordens ao som de pás e martelos.

A Arábia Saudita como um todo também ainda não está pronta para os turistas. Mas seus governantes estão empenhados em revolucionar a economia, e o turismo é uma das prioridades. A previsão é de que o setor poderá criar empregos para uma população jovem, gerar receitas para reduzir a dependência em relação ao petróleo e ajudar a abrir o reino para o mundo. Essas possibilidades poderiam se concretizar ? se alguém se convencer a visitar o país.

Na verdade, o país atrai muitos viajantes estrangeiros ? cerca de 18 milhões no ano passado, o máximo no mundo árabe. Mas quase todos são peregrinos muçulmanos visitando Meca. O turismo comum quase não existe. E há tantos obstáculos, que uma Arábia Saudita repleta de gente de férias é tão difícil de imaginar quanto uma Arábia Saudita que não dependa mais dos combustíveis fósseis.

A Arábia Saudita nem sequer emite vistos de turista. A proibição ao consumo de bebidas alcoólicas, as regras rígidas para as vestimentas e as restrições à mistura de gêneros são sinais vermelhos para muita gente que seria feliz visitando as praias de Dubai ou as pirâmides do Egito. E também tem a polícia secreta, que muitas vezes vigia de perto os visitantes estrangeiros, além da polícia religiosa, que castiga pessoas por violações à moral. Até mesmo muitos sauditas preferem passar as férias em Dubai, onde podem usar as roupas que quiserem e frequentar boates e cinemas.

'Havia demanda'

"Esses aspectos da Arábia Saudita podem desanimar as pessoas", disse Jarrod Kyte, diretor de produto da empresa de turismo Steppes Travel, com sede no Reino Unido.

Mas não desanimam todo mundo ? e é por isso que a Steppes está oferecendo sua primeira excursão à Arábia Saudita, no mês que vem. Ela custa quase US$ 6.000 por pessoa e foi difícil de organizar, porque era preciso ter visto de convidado. Mas Kyte disse que a oferta era irresistível para viajantes experientes com vontade de conhecer algum país incomum. Ele espera repetir a empreitada: "Ficou evidente que ali havia demanda."

É isso que o governo saudita quer capitalizar. Seu plano pós-petróleo, conhecido como Visão 2030, inclui medidas para estimular a indústria do entretenimento e desenvolver as regiões litorâneas e os lugares históricos ? como Al Ula, onde o resort Shaden está sendo construído. Ali perto estão as ruínas de Mada'in Saleh, de 2.000 anos, uma relíquia da mesma civilização antiga que ergueu a cidade de Petra, na Jordânia, que é mais conhecida.