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Análise: Baixa do petróleo traz outro choque à frágil economia global

Verity Ratcliffe, Akshat Rathi e Enda Curran

09/03/2020 07h21

Outro choque está prestes a abalar a economia mundial, que já sofre o impacto do coronavírus.

Os preços do petróleo despencaram depois que o dramático colapso das negociações entre a Opep e a Rússia levou a Arábia Saudita a iniciar uma guerra de preços. O petróleo tipo Brent chegou a cair quase 30%, para US$ 31 o barril hoje. O Goldman Sachs alertou clientes que a commodity poderia atingir US$ 20.

Uma queda tão forte, caso se mantenha, ameaçaria orçamentos de países como Venezuela e Irã, colocaria em risco a revolução do gás de xisto dos Estados Unidos e abalaria a política em todo o mundo. Para bancos centrais, a perspectiva de desestabilização dos preços é outra complicação, pois já tentam aliviar o impacto da epidemia de coronavírus na economia. E um longo período de petróleo barato poderia até prejudicar o combate à mudança climática, o que atrasaria a transição para energias renováveis.

"Algo assim poderia ter mais repercussões globais do que uma guerra comercial entre China e EUA, porque o petróleo afeta muitas coisas na economia mundial", disse Rohitesh Dhawan, diretor de energia, clima e recursos do Eurasia Group, em Londres.

Há vencedores em um mercado com preços mais baixos do petróleo, entre eles a China, o maior importador de petróleo do mundo e cuja recuperação do surto de coronavírus será fundamental para a economia global.

Mas, desta vez, é diferente. Os EUA, que no passado se beneficiavam do petróleo barato, agora são exportadores, e não compradores. E o impacto do vírus sobre a demanda econômica atenua qualquer estímulo que seria proporcionado pelo petróleo barato. Os choques do petróleo costumavam ser temidos pelo impacto na inflação. Agora, quando bancos centrais buscam desesperadamente estimular a alta dos preços, a dinâmica oposta está em jogo.

"Preços mais baixos do petróleo não farão com que as pessoas voltem a usar trens, aviões e automóveis, nem estimularão os setores mais atingidos", disse Stephen Innes, estrategista-chefe de mercado para a Ásia na Axicorp. "Mas agora temos um desastre financeiro em formação com o colapso da indústria de gás de xisto."

Estratégia russa

A crise foi precipitada quando a Rússia não quis ceder a uma iniciativa liderada pela Arábia Saudita para obrigar Moscou a se juntar à Opep nos cortes da produção. A Opep apresentou um plano de "pegar ou largar" para reduzir a produção e diminuir os preços. Mas a Rússia tinha outra ideia: sua estratégia era pressionar produtores de gás de xisto dos EUA, que inundaram o mercado nos últimos anos à medida que os países da Opep+ freavam a própria produção.

Agora, muitas dessas operadoras dos EUA perdem dinheiro com cada barril de petróleo que produzem e, a menos que haja forte recuperação dos preços, correm risco de ir à falência. Mesmo antes da reunião catastrófica de sexta-feira, bancos já restringiam empréstimos aos perfuradores de gás de xisto e grande parte da dívida de alto rendimento já é negociada em níveis distressed.

A Rússia tinha intenção de se afastar das negociações com a Opep para prejudicar os rivais dos EUA pois é mais resistente a preços mais baixos. Os russos possuem uma moeda flutuante - ao contrário da Arábia Saudita - e podem sustentar o orçamento com receitas de petróleo menores.

"A Rússia e o presidente Putin estão em melhor posição para lutar nesta guerra do que a Arábia Saudita ou seu príncipe herdeiro", disse Chris Weafer, CEO da Macro Advisory, consultoria com sede em Moscou.

*Com a colaboração de Henry Meyer, Enda Curran, Golnar Motevalli, Christopher Jasper, Simon Casey, Sylvia Westall, Paul Abelsky, Anthony Dipaola, Marc Champion, James Herron, Abeer Abu Omar, Chris Anstey e Alexander Kwiatkowski

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