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Chipre termina programa de resgate sem precisar usar todo empréstimo

31/03/2016 09h45

Nicósia, 31 mar (EFE).- O Chipre terminou nesta quinta-feira, sem estardalhaço, o programa de resgate que teve que solicitar há três anos, quando seu sistema bancário entrou em colapso, obrigando o governo a pedir uma ajuda financeira de 10 bilhões de euros (R$ 42 bilhões), dos quais só utilizou 70%.

Apesar das felicitações enviadas pelos sócios europeus, no Chipre a saída pontual do resgate passou despercebida, possivelmente porque a sociedade sabe que a política de austeridade não terminou, nem os esforços para sanear a economia, como o governo de Nicos Anastasiades destacoiu repetidas vezes.

"Felicito o governo e o povo do Chipre por suas conquistas nos últimos três anos. O país conseguiu restabelecer o crescimento econômico e reparar as finanças públicas muito mais rápido do que o esperado", afirmou hoje o diretor-gerente do MEE, Klaus Regling, que advertiu que o final do programa "não é o fim do programa de reformas no Chipre".

Dos 10 bilhões de euros previstos como teto máximo de resgate, o MEE emprestou 6,3 bilhões e o Fundo Monetário Internacional (FMI) outro um bilhão de euros.

Os 2,7 bilhões de euros restantes não foram necessários, como confirmou hoje o MEE.

O MEE desembolsou esses 6,3 bilhões desde maio de 2013 até outubro de 2015 em nove parcelas.

A economia cipriota começou a ter problemas em 2008, não só fruto de más gestões, mas também por sua elevada exposição à crise grega.

A remissão de 50% da dívida privada grega assumida pelos bancos em outubro de 2011 também provocou a perda de solvência dos bancos desta ilha.

Além disso, o Chipre contava com um sistema bancário superdimensionado, cujos ativos superavam quase seis vezes o Produto Interno Bruto do país.

À beira da quebra, em 25 de junho de 2012 o governo cipriota, liderado então pelo comunista Dimitris Jristofias, solicitou ajuda financeira à "troika" - formada pelo Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia.

O pacto só foi formalizado em março de 2013, após a mudança de governo, quando Nicos Anastasiades tomou as rédeas do Estado. Em 16 de março de 2013 ele fechou um primeiro acordo no Eurogrupo, que caiu como uma bomba e que teria consequências alarmantes, pois previa restrições aos depósitos privados inclusive se fossem inferiores aos 100 mil euros.

O Chipre decretou imediatamente restrições aos saques, o primeiro que a Europa viveria, com o fechamento dos bancos durante 12 dias, e proibiu as transferências bancárias para evitar a fuga de capitais.

Após a rejeição do parlamento à remissão da dívida, a câmara aprovou uma segunda proposta do Eurogrupo, que garantia todos os depósitos até os 100 mil euros e só permitia controles de valores superiores a isso.

Em 25 de março o Eurogrupo aprovou a concessão de um programa de resgate no valor de 10 bilhões de euros com juros de 2,5%, a ser pago em 22 anos.

Em troca, o Chipre deveria aplicar reformas para reduzir o déficit, reestruturar completamente o setor bancário, o que levou à liquidações de alguns bancos, assim como a aumentar a eficiência do setor público.

Desde 2013 a situação econômica no Chipre, que adotou estritamente o programa da "troika", melhorou de forma significativa.

De uma recessão de 5,9% em 2013, o país teve crescimento de 1,6% em 2015.

O déficit público passou de 5,8% em 2012 a 1% em 2015, e em 2014 o Chipre pôde retornar - após três anos de ausência - aos mercados internacionais, com uma primeira emissão de dívida com vencimento a cinco anos e juros de 4,85%; um ano antes os títulos a cinco anos eram cotados a 14% no mercado secundário.

O principal risco que a economia ainda enfrenta é o grande número de créditos inadimplentes dos bancos que, embora tenham diminuído, ainda são 48% do total.

Cabe destacar que nesta crise cipriota quase não houve protestos populares contra a "troika".