Entenda por que o caos político mexe tanto com os investimentos
SÃO PAULO – Os protestos a favor do impeachment da presidente Dilma no domingo (13), os grampos telefônicos envolvendo Lula e Dilma, a nomeação do ex-presidente para chefe da Casa Civil e, mais tarde, a liminar pedindo a suspensão da posse, assim como outros desdobramentos, agitaram ainda mais o mercado financeiro nos últimos dias.
Em um período de grandes incertezas, as cotações das ações na Bolsa, o dólar e as taxas de juros futuros sofreram grande instabilidade. Fica claro que há uma forte relação entre política e o mercado de investimentos.
Não há como negar que política e economia caminham juntas. As decisões do executivo e do legislativo podem afetar diretamente o crescimento do país e impactam a vida das pessoas --consequentemente, influenciam as cotações dos ativos financeiros, como ações de empresas de capital aberto, taxas de juros futuros e câmbio.
Fugir das oscilações
Por ser um período de grande fragilidade econômica, investimentos de renda variável tendem a ser menos seguros, uma vez que estão expostos às constantes variações do mercado, que interferem diretamente no preço dos ativos e no pagamento de dividendos.
“O recomendável é que os investidores busquem aplicações mais seguras para fugir da instabilidade e alcançar maior rentabilidade”, diz Jonathan Camargo, planejador financeiro e sócio da London Capital .
Para quem quer ter uma parte da carteira em renda variável, Roberto Seidel, assessor de investimentos da Patrimono Investimentos, com certificação de planejar financeiro, diz que seguir as carteiras recomendadas dos principais analistas fundamentalistas é uma boa alternativa.
Segundo ele, por mais que a análise técnica possa captar a oscilação momentânea dos papéis devido ao imediatismo dos acontecimentos políticos, uma análise dos fundamentos é um bom caminho para ganhar na Bolsa no longo prazo.
Na visão de Seidel, o aconselhável para os investidores conservadores é continuar aproveitando as altas taxas de juros para títulos prefixados.
Taxas de juros
Em relação às demais aplicações, ele afirma: “Para investimentos de curto prazo, o indicado são os títulos indexados ao CDI, com validade para o final deste ano ou com data de vencimento para no máximo um ano. Já para o investidor que quer se posicionar em índice de dólar ou ações, o momento é complicado; ele pode acertar uma ação, como também pode perder todo o ganho no dia seguinte”.
O assessor de investimentos comenta que a taxa básica de juros no patamar atual é péssima para quem tem dívidas e financiamentos, mas boa para quem tem dinheiro disponível para investir.
Ao mesmo tempo, afirma que manter altas taxas de juros não é algo positivo para o país: “É saudável que as taxas abaixem, mas não é algo tão simples, porque depende de outros fatores como, por exemplo, o controle da inflação”, explica.
Já as taxas de juros futuras costumam oscilar bastante com o desenrolar dos acontecimentos políticos, impactando diretamente as aplicações de renda fixa que remuneram o investidor com taxas prefixadas.
De acordo com Celson Plácido, estrategista-chefe da XP Investimentos, se houver mudanças no governo, os juros mais longos tendem a cair. Por outro lado, se o governo não mudar, as taxas curtas podem aumentar.
Inflação
A inflação também tem preocupado consumidores e investidores. Com a alta dos preços ultrapassando os 10% ao ano, o poder de compra das pessoas diminui fortemente.
Seidel avalia que os maiores contribuintes para a alta da inflação já não devem impactar tanto o índice, visto que os combustíveis e o setor de energia elétrica já sofreram um boom muito rápido no final do ano passado.
“Acredito que não devemos passar dos atuais 11%. A Inflação deve começar a cair para 10%, 9% ao ano”. Uma saída para se proteger da inflação é escolher aplicações atreladas a índices de preços, caso dos títulos Tesouro IPCA+ ou outros investimentos que sejam indexadas à inflação.
Bolsa
A Bolsa funciona como um reflexo da economia real do país, antecipando as reações do mercado frente às medidas adotadas pelo governo.
Em outras palavras, quando a confiança no governo aumenta, ou seja, quando as ações políticas conferem credibilidade aos investidores, a tendência é que a Bolsa suba.
Quando acontece o contrário, ou seja, quando há descrença em relação ao país, seja pela falta de políticas necessárias que desembocam em uma crise financeira, como no momento atual, a credibilidade dos investidores despenca e o preço das ações tende a cair.
De acordo com Seidel, os investidores ainda enxergam o governo atual como negativo para o mercado financeiro. Um exemplo disso é que qualquer notícia contra o governo faz com que haja uma interpretação positiva por parte dos investidores, provocando alta nos preços das ações. “A Bolsa está apostando na queda do governo”, afirma.
Celson Plácido diz que mudanças são necessárias, já que o governo não está conseguindo governar de maneira adequada. Ele explica que os investidores estrangeiros querem entrar no país, mas o atual governo causa muitas incertezas que ferem a confiança do investidor. “A pergunta é: quem assume caso Dilma saia?”, indaga.
A ideia de que o mercado está apostando na troca de governos também é compartilhada por Camargo, que acredita que o governo tem mostrado incapacidade em cumprir com suas obrigações e, desse modo, uma troca de governo seria uma alternativa.
“As pessoas querem alguém que saiba governar e fazer o Brasil crescer e é por isso que as notícias contra o governo têm sinalizado uma possível melhora”, afirma.
Dólar
A instabilidade do dólar também está relacionada com o cenário político instável vivenciado pelo país. Quanto maiores as incertezas e a incredulidade do mercado em relação à governabilidade, mais a moeda norte-americana se valoriza.
Já quando o mercado enxerga alguma possibilidade de mudança, a tendência é que o real fique mais forte. Para Plácido, se não houver mudança no governo, o dólar continuará subindo, como aconteceu quando o Lula foi nomeado ministro da Casa Civil na quarta-feira (16).
Além de acreditar no impeachment como alternativa para mudanças a curto prazo, o estrategista prevê uma desvalorização da moeda americana: “A expectativa é de queda do dólar, com valores próximos a R$ 3,40, R$ 3,60”.
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