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Caso Ades causa preocupação em fábricas de pequenas empresas

Afonso Ferreira

Do UOL, em São Paulo

22/03/2013 06h00

Casos de contaminação de alimentos e bebidas por produtos de limpeza –como o do suco Ades, na última semana, e do achocolatado Toddynho, em 2011– chamam a atenção para a importância de indústrias do setor alimentício terem processos produtivos de qualidade.

Na indústria, e principalmente nas micro e pequenas empresas, os tipos mais comuns de contaminação são microbiológicas, físicas e químicas. Para reduzir os riscos desses tipos de contaminações, os cuidados devem começar pelo uniforme dos operadores que atuam diretamente com o alimento.

Segundo o pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), André Bonnet, são necessárias toucas, camisas e calças de cor clara com velcros e sem botões (para que não caiam sobre os alimentos) e botas plásticas brancas.

Para o especialista, o uso de luvas deve ser avaliado com cautela porque o acessório pode ser um transmissor de resíduos maior do que as mãos nuas higienizadas. O motivo é que os funcionários acabam esquecendo de trocá-las ou higienizá-las caso toquem em outros equipamentos, ou até mesmo no rosto, durante a manipulação do alimento.

As unhas dos empregados precisam estar curtas e sem esmaltes. É proibido o uso de adornos, como brincos, colares, pulseiras ou anéis. No entanto, de acordo com o pesquisador, a empresa não pode obrigar o funcionário a retirar uma aliança de casamento.

Como proceder

  • 1

    Escolha do uniforme

    Toucas, camisas e calças de cor clara com velcros e sem botões, botas plásticas brancas são indispensáveis.

  • 2

    Uso de adornos

    São proibidos colares, brincos, pulseiras e anéis. No entanto, a empresa não pode obrigar o funcionário a retirar a aliança, por exemplo, por se tratar de um símbolo da família protegido por Lei.

  • 3

    Limpeza de equipamentos

    Nas máquinas que tenham contato direto com o alimento, os cantos e extremidades que possam acumular sujeira merecem cuidado especial. As superfícies devem ser lisas para facilitar a limpeza e o enxágue, feito com água potável.

  • 4

    Produtos sem perfume

    Detergentes com odor artificial, utilizados na limpeza de equipamentos, podem transferir o cheiro para os alimentos. O melhor é optar por produtos sem perfume.

  • 5

    Teste de qualidade

    Quando o teste de qualidade apontar contaminação, o lote inteiro deve ser retido. Caso a contaminação seja descoberta quando o produto já estiver no mercado, é obrigação da empresa recolher todo o lote e avisar os consumidores sobre o problema.

    “Na prática, a aliança é um adorno, mas legalmente é um símbolo de família protegido por Lei. A empresa deve prover incentivos que favoreçam a retirada voluntária das alianças por parte dos empregados”, diz.

    Limpeza de equipamentos

    Na hora de limpar equipamentos e máquinas que têm contato direto com os alimentos, a atenção maior deve ser com cantos e extremidades que possam acumular sujeira.

    A limpeza das máquinas, em geral, é feita de duas formas. No primeiro, as partes são desmontáveis e a higienização é feita manualmente. No segundo, os produtos de limpeza são adicionados e a máquina é colocada para "rodar", só que sem os alimentos.

    O recomendável é que as superfícies em contato com o alimento sejam lisas para facilitar a higienização e evitar o acúmulo de resíduos. O enxágue deve ser feito com água potável (apropriada para o consumo).

    Os detergentes usados na limpeza não podem conter perfume ou odor. “Produtos deste tipo podem propiciar odorização não característica ao alimento a ser produzido”, declara Bonnet.

    Teste de qualidade

    A realização de testes de qualidade é obrigatória, mas, como alguns resultados não são imediatos, o produto pode chegar contaminado ao mercado. As empresas alegam que reter o produto até que os resultados sejam confirmados, pode comprometer o prazo de validade da mercadoria.

    Segundo a pesquisadora do laboratório de microbiologia e controle alimentar da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Letícia Casarin, quando a empresa identifica uma contaminação antes da comercialização do produto, ela deve reter todo o lote com problema e investigar as causas para evitar novas falhas.

    No entanto, quando a contaminação não é percebida e o produto vai para o mercado, a legislação exige que a própria empresa recolha do mercado todos os produtos com problema.

    “A empresa deve ter [para estas situações] um programa de recolhimento que utilize todos os recursos necessários para alertar os consumidores, inclusive a divulgação na mídia”, afirma a pesquisadora.