Copa esquenta mercado de albergue, e negócio é aberto até em favela
De olho na Copa do Mundo de 2014, cresce o número de hostels (albergues da juventude) –hospedagens de baixo custo– nas cidades brasileiras que sediarão o evento. Há, inclusive, estabelecimentos abertos em favelas do Rio de Janeiro (RJ).
De acordo com a RioTur, empresa municipal de turismo do Rio, já são 72 estabelecimentos com alvará de funcionamento e capacidade para comportar até 3.185 pessoas.
Em São Paulo (SP), segundo a Ahostelsp (Associação de Hostels de São Paulo), no primeiro semestre de 2013 foram abertos seis estabelecimentos. No total, a cidade conta com 54 empresas no segmento e capacidade para mais de 2.500 hóspedes.
Há menos de um mês, o empresário Gustavo Dermendjian, 31, e mais três amigos se uniram para abrir o BeeW Hostel, na capital paulista. Todos os sócios falam inglês. O estabelecimento fica próximo à Avenida Paulista, um dos cartões-postais da cidade.
Foram nove meses de obras e R$ 700 mil investidos para transformar um casarão de 1930 em hostel. Segundo Dermendjian, os principais gastos foram com o projeto arquitetônico, mobiliário e com a retirada do telhado para criar um terraço de convivência.
“Fizemos uma área verde e adotamos um posicionamento mais sustentável, que está em alta hoje”, diz. Na frente do imóvel também há um bar para atender hóspedes e o público em geral.
Durante a Copa do Mundo, Dermendjian espera estar com lotação máxima no hostel, que tem capacidade para 44 hóspedes. Segundo ele, o preço da diária poderá até dobrar no período. “É uma prática comum das empresas de turismo subirem os preços quando a procura é maior.”
O BeeW tem sete quartos, sendo cinco coletivos e duas suítes privativas. As diárias são de R$ 60 para os quartos compartilhados e R$ 250 para as suítes particulares. A expectativa, segundo o empresário, é faturar R$ 600 mil até o fim de 2013.
“São Paulo tem uma rotina de grandes eventos, como shows e feiras durante o ano todo, e pretendemos atender esses turistas também após a Copa do Mundo”, afirma.
Albergue é aberto em favela do Rio
Na favela Cantagalo, no Rio, desde janeiro funciona o albergue Ralé Chateau. Além da Copa do Mundo, o estabelecimento também quer aproveitar os turistas que visitarão a cidade por conta da Copa das Confederações e da Jornada Mundial da Juventude este ano.
“Para a Copa do Mundo, já fechamos mais da metade das vagas para um grupo estrangeiro. Nos demais eventos, esperamos estar com lotação máxima”, diz a sócia do hostel, Silvia Pinheiro, 49.
Dicas para abrir um hostel
1
Diárias
O cálculo das diárias deve levar em consideração a estrutura e os custos fixos do imóvel. Ter ar-condicionado nos quartos eleva o valor, enquanto ter mais camas diminui o preço
2
Localização
Um albergue precisa estar próximo a pontos turísticos da cidade. Além disso, o local deve ter fácil acesso, com metrô e ônibus por perto
3
Planejamento
Antes de abrir o negócio, é importante checar com outros empresários do setor como está o mercado, qual a taxa de ocupação média e quanto eles faturam
4
Ocupação
Para ser viável, a taxa média de ocupação de um hostel deve ser de 70%, levando em consideração períodos de alta e baixa temporada
5
Funcionários
Dependendo do tamanho e do número de quartos, um hostel pode ter de três a dez funcionários, entre recepcionistas, faxineiros, cozinheiros e camareiras
As diárias no Ralé Chateau variam de R$ 35 a R$ 50. São três quartos coletivos que comportam até 18 hóspedes. O faturamento médio é de R$ 15 mil por mês. O investimento inicial não foi divulgado.
Segundo Pinheiro, é fundamental que o empreendedor que vai abrir um hostel tenha domínio de outros idiomas. No Ralé Chateau, dos seis funcionários, dois falam inglês e um, espanhol.
“Sem saber se comunicar em inglês, pelo menos, fica muito difícil atender o turista estrangeiro”, declara.
Investimento inicial é baixo
De acordo com a consultora de negócios especializada em hostels, Laura Maia, o investimento para a abertura de hospedagens populares é baixo, se comparado a um hotel.
Normalmente, segundo ela, os gastos ficam entre R$ 150 mil e R$ 400 mil. Mas, dependendo da localização e do tamanho da obra, o valor pode ficar próximo à R$ 1 milhão, como no caso do BeeW.
Um hotel de porte médio exige um investimento aproximado de R$ 100 mil por quarto, segundo estimativa da Fhoresp (Federação de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de São Paulo).
De acordo com Maia, muito empreendedor que atua com hospedagens de baixo custo trata o negócio de forma informal ou amadora.
“Tem gente que acha que é só botar umas camas e receber os hóspedes. O empresário tem de tratar o negócio como um mini-hotel, prestar o serviço de forma profissional e com qualidade semelhante à de um hotel”, diz.
Faturamento é proporcional ao investimento
Se por um lado o investimento é baixo, o diretor da Fhoresp, Maurício Bernardino, afirma que o faturamento também é baixo.
Segundo Bernardino, hostels, na maioria das vezes, são enquadrados como micro empresas. Nesse caso, o faturamento não ultrapassa a quantia de R$ 360 mil por ano.
Para o diretor da Fhoresp, as hospedagens de baixo custo são bem-sucedidas quando ficam próximas a pontos turísticos e estações de metrô ou de ônibus.
“Normalmente, quem se hospeda em albergues utiliza transporte público. Se o estabelecimento ficar escondido e tiver difícil acesso, a procura tende a ser menor”, diz.
De acordo com Bernardino, para a abertura de empresas que atuem com turismo é necessário um cadastro no Ministério Turismo, o Cadastur. O cadastro é gratuito é pode ser feito no site do ministério.
Segundo estudo do Ministério do Turismo, durante os 30 dias da Copa do Mundo, o Brasil receberá 600 mil turistas estrangeiros. Outros 3 milhões de brasileiros também viajarão às cidades-sedes. No total, eles deverão movimentar R$ 9,4 bilhões.
As 12 cidades-sedes são: Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.
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