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Baianas fazem cardápio trilíngue para vender acarajé a turista na Copa

Afonso Ferreira

Do UOL, em São Paulo

27/06/2013 06h00

O tradicional acarajé –salgado feito de feijão fradinho moído com cebola e camarão frito no azeite de dendê– ganhou uma nova ferramenta de vendas este ano: um cardápio trilíngue com os idiomas português, inglês e espanhol. 

O material será usado pelo grupo Baianas do Acarajé e outras vendedoras do quitute, de Salvador (BA), para oferecer o bolinho para os turistas durante a Copa das Confederações, neste mês, e para a Copa do Mundo, em 2014.

São cardápios, cartazes e cartões-postais explicando como o quitute é feito e sua importância cultural. O material foi elaborado para a Abam (Associação das Baianas de Acarajé e Mingau) pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa).

Segundo a coordenadora do Sebrae em Salvador (BA), Madalena Seixas, as primeiras beneficiadas foram as 200 associadas da Abam. Ao todo, foram entregues 300 cardápios, 350 cartazes e 2.000 cartões-postais às baianas, de acordo com Seixas. Mas, o objetivo é expandir o programa.

“Estimamos que existam entre 2.000 e 3.000 baianas de acarajé só em Salvador. A ideia é que todas elas tenham esse material até a Copa do Mundo no próximo ano”, afirma Seixas.

De acordo com a presidente da Abam, Rita Santos, 56, o material também fala sobre a ligação do acarajé com a cultura da Bahia. Os cardápios, segundo ela, devem aumentar o vínculo entre o cliente e a baiana.

“O turista vai ter acesso não só aos ingredientes, mas vai conhecer também um pouco da relação entre costumes, religião e culinária. Ele vai se deliciar com segurança e tranquilidade, sabendo o que está comendo sem precisar perguntar”, diz.

Antes, segundo Santos, as baianas tinham dificuldade para explicar ao turista o que era o acarajé. “Usávamos o famoso ‘enrolation’ brasileiro para falar com os [turistas] estrangeiros, o que causava confusões e situações engraçadas já que eles não entendiam o que nós tentávamos falar”, declara a baiana.

O cardápio tem um erro de tradução. Ao escrever a palavra salsa em espanhol (molho em português), foi utilizada a letra "U", quando na verdade deveria estar com "L".

O Sebrae já detectou o erro e está imprimindo novos cardápios para entregar para as baianas. A previsão é que o novo lote esteja pronto até o fim de julho. 

Apesar do erro, a iniciativa foi elogiada pelo consultor em gastronomia David Eleutério. Para ele, o cardápio é simples e objetivo, o que atende às necessidades das baianas. "Em um restaurante, poderia ser usada uma linguagem mais poética e menos ao pé da letra, mas não é esse o caso das barracas de acarajé".

Com relação a melhorias no material, Eleutério afirma que a foto do acarajé no cardápio não valoriza o produto. "Uma imagem do acarajé recheado com o vatapá, camarão e salada, por exemplo, tornaria o cardápio mais apetitoso."

Grupo quer dobrar produção

Com o material em mãos, a presidente da Abam diz que algumas baianas já estão treinando os novos idiomas. “Elas já sabem que feijão em espanhol é ‘frijol’. O problema é quando o ‘j’ tem som de ‘rr’, aí confunde um pouco”, declara.

O preço do acarajé varia de R$ 2 a R$ 8, dependendo do tamanho e do acompanhamento. Em média, uma baiana consegue vender 50 bolinhos em um dia, de acordo com Santos.

Para a Copa das Confederações e a Copa do Mundo, Santos pretende dobrar as vendas do quitute. “Com o cardápio e os cartazes em outras línguas, esperamos vender bastante para os turistas”, afirma.

As baianas da Abam conseguiram autorização da Fifa para comercializar acarajé no estádio Fonte Nova, em Salvador. Elas terão um espaço fixo para vender o produto durante jogos da Copa das Confederações e do Mundo.

De acordo com a coordenadora do Sebrae em Salvador, o material entregue às baianas também aumenta a segurança do turista em relação ao produto.

“Se alguém for alérgico a camarão, por exemplo, agora com o novo cardápio, vai saber que não pode comer o produto. Apesar da fama, poucas pessoas sabem como o acarajé é feito”, diz.

Segundo Seixas, os cardápios e os cartazes em outras línguas serão uma espécie de legado para as baianas após a Copa do Mundo.

“Este material vai continuar com elas após o mundial para auxiliar os turistas que visitam a cidade o ano todo. Quem sabe não aumente até o turismo interno agora que todos vão saber o que é o acarajé”, declara.

Cardápio pode ter outros idiomas

Para o presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), Paulo Solmucci Júnior, empresas do setor de alimentação também podem adotar cardápios em inglês e espanhol para atender os turistas durante a Copa do Mundo.

No entanto, Solmucci Júnior vai além e diz que os estabelecimentos podem investir em outros idiomas. “Se a cidade receberá jogos da França e da Itália no mundial, por exemplo, por que não fazer um cardápio também na língua deles?”, declara.

Outra dica do presidente da Abrasel é dar uma “cara” estrangeira a produtos tipicamente brasileiros. “Na hora de servir uma caipirinha, o empresário pode colocar uma bandeirinha do país do cliente no copo. Já será um grande diferencial”, afirma.