1ª usina de açúcar de Angola é do Brasil e tem até roubo de cana por macaco
Uma empresa que tem a brasileira Odebrecht como acionista inaugurou, na semana passada, a primeira usina de açúcar de Angola (África), um país rico em petróleo e diamantes, mas que só deixou de ser colônia portuguesa em 1975, estava em guerra civil até 2002 e tem grande desigualdade social.
Sem indústria e infraestrutura no país, a Biocom (da Odebrecht Angola e mais dois sócios locais) teve de importar tudo: engenheiros, operários especializados, equipamentos e a própria usina inteira.
Precisou também lidar com choques culturais, burocracia de um governo que está no poder há mais de três décadas e moléstias perigosas, como a malária (diferente da brasileira e muito mais letal) e a doença do sono (transmitida por uma mosca).
Mas também há problemas mais curiosos, como macacos roubando cana-de-açúcar de sua plantação própria. "Os macacos vão lá, puxam o pé de cana e vão embora", conta o engenheiro brasileiro Carlos Mathias, diretor-geral da Biocom.
Além disso, segundo o também brasileiro Alécio Cantalogo Júnior, diretor agrícola da Biocom, um hábito local dos moradores é caçar animais selvagens, como uma espécie de paca local, veados e os próprios macacos. Para fazer isso, eles tocam fogo na mata para encurralar os bichos. Isso acaba ameaçando a plantação de cana, que se incendeia facilmente.
Mathias diz que grande parte da população na região vive de produção de carvão com madeira. "Derrubam árvores para fazer carvão e vender. Estamos iniciando um processo de dar parte de nossa madeira de desmatamento para a evitar que eles ponham fogo na mata." A preocupação da Biocom é que incêndios em canaviais se espalham rapidamente e põem em risco a produção da usina.
Outro risco de incêndio é o costume que os angolanos têm de preparar sua própria comida na hora. Os agricultores faziam fogueiras no meio da plantação para preparar o funge (espécie de pirão grudento de mandioca ou milho). A Biocom teve de fornecer marmitas com funge na hora do almoço para evitar os potenciais focos de incêndio.
Mais uma particularidade local: só 5% do açúcar da Biocom será vendido em embalagens de 1 kg em supermercados. Todo o restante será distribuído em sacos de 50 kg para consumo no mercado informal (barracas pelas ruas e estradas). É onde a população compra o produto fracionado, por causa dos preços menores.
Usina vai produzir também etanol e eletricidade
A usina da Biocom, que fica em Cacuso, na província (Estado) de Malanje, a 400 km de Luanda, teve investimentos de US$ 700 milhões e vai produzir, além de açúcar, etanol e energia elétrica, como é comum atualmente nas usinas do Brasil também.
Até agora, todo o açúcar de Angola era importado (75% do Brasil; 20% da África do Sul e 5% de Portugal). São 260 mil toneladas por ano. Na primeira fase de produção, a usina vai fornecer 70% da necessidade de Angola. Depois, até 2019/20, serão 100%.
O etanol e a energia elétrica são subprodutos da fabricação de açúcar. O etanol é feito a partir do melaço que sobra. Serão 30 milhões de litros por ano em 2020 (neste ano, serão só 2 milhões de litros).
A energia elétrica é produzida com a queima do bagaço de cana (antes não se sabia o que fazer com esse material e era um problema ambiental). O vapor da queima do bagaço movimenta turbinas, que geram energia. Serão 235 GWh.
Essa produção é equivalente a uma hidrelétrica pequena, de 50 MW. Com isso, a usina gera sua própria energia e ainda exporta o excedente. Isso será suficiente para abastecer quase toda a demanda da província de Malange com a duplicação. No pico da produção, o consumo próprio será de 20 MW e a exportação, de 30 MW.
Além da parte econômica, a Odebrecht tem uma atuação social na região, com apoio a projetos de geração de renda para tentar melhorar a situação da comunidade. Numa das ações, ela deslocou agrônomos para orientar na produção de hortifrútis, que são comprados pela própria Biocom para o refeitório da usina. Também participa de projetos de assistência à saúde.
(O jornalista viajou a convite da Odebrecht)
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