Cachimbos de brasileiros custam R$ 1.650 e fazem sucesso até na China
A profissão exercida pelo paranaense Edson Ramos, 46, e o mineiro Gustavo Cunha, 29, foge do convencional. Eles fabricam cachimbos artesanalmente. E para um público disposto a gastar: as peças custam de R$ 400 a R$ 1.650 e são vendidas até fora do país.
"É uma profissão leve, a concorrência é suave e não há brigas. Adoraria que o mercado brasileiro fosse maior. Assim, haveria com quem compartilhar ideias e trocar conhecimentos", diz Cunha. "Não tenho meta a cumprir. A ideia não é essa. É ter prazer no que faço", afirma Ramos.
Músicos que gostavam de cachimbo
Cunha e Ramos têm outras coisas em comum. Ambos são músicos e se tornaram fabricantes a partir do gosto pelos cachimbos. "Em 2002, quando comecei a fumar, me propus a limpar e recuperar a coleção de cachimbos que era do meu sogro, mas alguns estavam sem piteira. Pensei que era fácil achar, mas não, e as que consegui eram de qualidade duvidosa", conta o paranaense.
"Daí veio a ideia de restaurar cachimbos, fabricar piteiras. Investi, comprei um torno e, em algum tempo, apenas com divulgação pela internet, em comunidades especializadas, já tinha mais de 200 clientes, do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte. Em 2013, comecei a fabricar os cachimbos, e dois anos depois parei com as restaurações para me dedicar exclusivamente às minhas peças", diz Ramos, que vive em Curitiba.
"Adoro o cachimbo, que fumo desde os 18 anos, como peça funcional e artística", diz Cunha. Designer formado pela Universidade Estadual de Minas Gerais, ele chegou a trabalhar com design de móveis em Belo Horizonte. "Comecei a fazer cachimbos para os amigos e para mim mesmo, como hobby. Meu interesse foi aumentando, alguns clientes apareceram e, então, decidi que era hora de me aprofundar."
Para isso, foi à Dinamarca, onde visitou Tom Eltang, a quem qualifica como "um dos maiores fabricantes de cachimbos da história, uma lenda viva". "Fiquei por dois dias com ele e voltei para o Brasil decidido a comprar meu torno mecânico e mudar de profissão. Desde 2013, faço cachimbos em tempo integral", afirma o mineiro.
R$ 4.000 por um torno, R$ 300 por um bloco de madeira
Fabricar cachimbos não é tarefa das mais simples. "Não é apenas fazer dois ou três furos na madeira. Existe cuidado e precisão, para possibilitar o bom uso e preservar a madeira", diz Ramos.
Exige investimento em equipamentos --um torno mecânico é essencial. O que Ramos usa para furar e dar forma a seus cachimbos, fabricado no Brasil na década de 1950, custou R$ 4.000. "É preciso também de uma série de equipamentos auxiliares, como serras, microrretíficas, ferramentas de corte, lixas, politrizes, material de polimento, ceras."
A matéria-prima também é cara. A madeira mais apreciada mundialmente pelos fumantes de cachimbo chama-se briar. "É o bulbo de um um arbusto típico do solo árido da região mediterrânea, localizado na intersecção entre o caule e a raiz da planta", explica Ramos. Um bloco da madeira, importada, suficiente para fabricar uma peça, chega a custar R$ 300 ou mais, a depender do desenho dos veios.
Cunha trabalha apenas com briar. Ramos irá começar a produzir cachimbos com a madeira neste ano. Até agora, usou espécies nacionais --oliveira, pau ferro, imbuia e "morta", madeira de árvores encontradas soterradas em antigos leitos de rios.
No exterior, entre US$ 440 e US$ 530
Cunha estima que produz 70 cachimbos por ano, em média. "No Brasil, cada um custa de R$ 900 a R$ 1.100. Mas a maioria dos meus clientes hoje são estrangeiros, de China, Japão, EUA, Canadá, Holanda, Itália, Grécia, Suécia, Chile, Argentina", diz o mineiro.
No exterior, os cachimbos dele custam entre US$ 440 e US$ 530 (aproximadamente R$ 1.370 a R$ 1.650). O site dele, Martelo Pipes, informa que, no momento, não há peças disponíveis para venda. Ele não revela faturamento nem lucro.
Ramos diz que já produziu mais de 100 peças, todas vendidas --sob a marca Terra Cachimbos-- para fumantes brasileiros por preços que variam entre R$ 400 e R$ 600 cada. "Estimo que R$ 4.000 investidos em matéria-prima sejam o suficiente para produzir 30 cachimbos, ao longo de três meses. Com a venda deles, faturo R$ 15 mil", calcula o paranaense.
Cliente busca produto artesanal
O preço alto parece não assustar os clientes. "Um cliente que busca um cachimbo artesanal, na verdade, busca uma assinatura de um pipemaker (fabricante de cachimbos). Quando um cliente quer um cachimbo meu, por exemplo, ele sabe que linhas, proporções e acabamento da peça serão únicos. A cada vez que ele escolher fumar um cachimbo meu, ele estará de certa forma me visitando, conversando comigo", diz o mineiro.
"É a diferença entre comprar um violão fabricado em série ou um feito a mão por um luthier. Levo de cinco dias a uma semana de trabalho em cada peça minha. É tudo feito com extremo cuidado. É um trabalho de manufatura, mas que está no limite da arte", afirma o paranaense.
Onde encontrar
- Martelo Pipes: http://www.martelopipes.com/
- Terra Cachimbos: https://cachimbosterra.com/
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