35 países e R$ 1 mi: O 1º brasileiro a dar a volta ao mundo de helicóptero
O catarinense André Borges de Freitas alcançou uma façanha que muitos pilotos sonham em realizar: completou uma volta ao mundo em seu próprio helicóptero.
Aos 55 anos, esse empresário do ramo de vinhos cruzou o planeta entre dois polos opostos — pontos da Terra conectados por uma linha imaginária que atravessa o centro do globo (sim, a Terra é redonda). Ao seu lado esteve o piloto Peter Wilson, atual recordista de volta mais rápida nessa modalidade.
Freitas, que é piloto de helicóptero e de avião, concedeu entrevista ao UOL durante um evento promovido pela Webull, plataforma líder de investimentos digitais. Confira os detalhes da jornada, incluindo os momentos mais belos e os mais críticos, segundo o viajante.
Planejamento
Antes da decolagem, foi necessário um extenso planejamento que durou meses. Ele e Wilson precisaram organizar locais para dormir, pontos de pouso, rotas de contingência e outros fatores.
As dificuldades de comunicação também foram um desafio. Freitas usava um celular conectado ao Google Tradutor para interagir com as diversas pessoas que encontrava, principalmente na Rússia, país cujo idioma não domina.
Na Rússia, houve ainda um planejamento extra relacionado às questões financeiras. Como o país não faz parte do sistema financeiro global, foi necessário calcular como realizar o câmbio para moeda local e arcar com hospedagem, combustível e outros gastos.
Eles também precisaram seguir as diferentes exigências documentais de cada país ao longo do trajeto.
A aventura
Os dois polos da viagem foram as cidades de Bishura, na Rússia, e El Calafate, na Argentina. O primeiro voo decolou em 18 de junho de 2024, e o pouso final ocorreu em 1º de outubro de 2024.
No total, foram 106 dias sobrevoando 35 países. Inicialmente, o planejamento previa uma viagem de cem dias, 21 a menos que o recorde vigente.
Contudo, um problema com mau tempo no norte da Groenlândia atrasou a dupla em seis dias. Os voos foram suspensos devido a fortes ventos e nevascas na região.
No total, a aventura somou 340 horas de voo, consumiu 27 mil litros de combustível e cobriu uma distância de 63 mil quilômetros.
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Quero receberO empresário explicou que os voos eram realizados em duas etapas diárias. Após o primeiro trecho, reabasteciam e decolavam novamente.
As refeições, geralmente compostas por lanches, eram feitas a bordo. Para garantir a precisão da rota e evitar áreas sem autorização de sobrevoo, o piloto automático era usado nas etapas de navegação, exceto durante pousos e decolagens.
O helicóptero
O helicóptero utilizado foi um Robinson R66 adquirido no Canadá no final de 2023 e entregue poucos dias antes do início da viagem. Equipado com um tanque extra, ele oferecia duas horas adicionais de autonomia, totalizando cinco horas e meia de voo.
O modelo também contava com sistemas de navegação e telas de GPS essenciais para a jornada.
Ficha técnica
Modelo: R66
Fabricante: Robinson
Velocidade: 200 km/h
Comprimento: 9 metros
Largura: 1,5 metro
Altura: 3,5 metros
Diâmetro do rotor principal: 10 metros
Distância máxima de voo sem reabastecimento: 650 km
Perrengues
Frequentemente, os pilotos pousavam em cidades remotas e precisavam buscar locais para descansar. Em uma ocasião, numa pequena cidade, não havia vagas disponíveis. Sem poder dormir no aeroporto ou na aeronave, saíram perguntando nos estabelecimentos locais se alguém poderia ajudar.
Numa cafeteria, uma jovem ofereceu ajuda e pediu autorização ao pai, que era piloto de helicóptero, para que eles passassem a noite em sua casa. Graças à hospitalidade da família, puderam descansar e seguir viagem no dia seguinte.
Entre os problemas técnicos, destacam-se a falha do GPS na Bulgária, próximo à Ucrânia, e o sobrevoo de um vulcão recém-ativado na Rússia, após um terremoto.
Quase jogou o helicóptero no mar
Durante a travessia entre a Islândia e as Ilhas Faroé, Freitas enfrentou o momento mais crítico da viagem.
"Fizemos uma travessia atlântica de três horas e meia e, no meio do caminho, o controlador de voo do destino avisou que o aeroporto estava fechado para pouso. Tivemos de prosseguir, pois não havia mais como voltar", relatou.
Ele completou: "A gente chegou às Ilhas Faroé e, nos últimos minutos antes do pouso, o tempo abriu. Estava uma neblina muito forte e densa, e a gente no meio do oceano quando, de repente, abriu o tempo. Foi um milagre, pois não tínhamos onde pousar, já que o local é formado por rochedos."
Quando perguntado sobre o que fariam caso o pouso não fosse autorizado, Freitas lembrou do momento mais dramático. "A gente teria de jogar o helicóptero na água. Então eu tinha falado com o Peter que, se não fosse possível o pouso, seria o caso de jogar o helicóptero na água, abrir o bote salva-vidas e pedir socorro", contou, comemorando que o desfecho foi bem diferente.
Confirmação do recorde
A dupla de pilotos aguarda a validação do recorde pelo Guinness Book. Peter Wilson, que acompanhou Freitas e é o atual recordista, está encarregado de acompanhar o processo de certificação.
Será necessário comprovar que todas as etapas foram cumpridas corretamente, um processo que está em andamento desde o término da aventura.
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