IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Quem é Naji Nahas, anfitrião do jantar em que Bolsonaro foi zombado

Empresário, Naji Nahas ficou conhecido em 1989, após ser acusado de quebrar a Bolsa de Valores do Rio - Bruno Poletti/Folhapress
Empresário, Naji Nahas ficou conhecido em 1989, após ser acusado de quebrar a Bolsa de Valores do Rio Imagem: Bruno Poletti/Folhapress

Anaís Motta

Do UOL, em São Paulo

14/09/2021 16h39Atualizada em 04/10/2021 18h14

Viralizou hoje nas redes sociais um vídeo de um jantar em que empresários e políticos dão risada de uma imitação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Entre os presentes, estão o ex-presidente Michel Temer (MDB) e o ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), além do empresário Naji Nahas, anfitrião do evento, que ficou conhecido após a quebra da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, em 1989.

Nascido no Líbano, Naji Robert Nahas, 73, cresceu no Egito e se mudou para o Brasil em 1969, aos 22 anos, trazendo consigo uma fortuna de milhões de dólares doada pela família. Começou a adquirir empresas dos mais diversos segmentos, tendo construído um conglomerado multimilionário que incluía fábricas, bancos, seguradoras e até fazendas de criação de coelhos.

Nahas começou a investir no mercado financeiro na década de 1980, em meio a um contexto econômico de muita volatilidade — com juros altos, moeda desvalorizada e o fracasso dos planos Cruzado (1986), Bresser (1987) e Verão (1989) no controle da inflação. Foi neste cenário de oscilações e incertezas que o empresário ficaria nacionalmente conhecido, após montar um complexo esquema de compra de ações.

Segundo conta reportagem da Veja de 1997, Nahas tomava dinheiro emprestado de bancos e aplicava esses valores na Bolsa, fazendo negócios consigo mesmo por meio de laranjas e corretoras, inflando as cotações. Como resultado, papéis de empresas como Petrobras e Vale, por exemplo, valorizavam muito em pouco tempo, mas de forma artificial, o que não é sustentável a longo prazo.

Nahas chegou a ter mais de 100 laranjas que compravam e vendiam ações para ele próprio, de acordo com a CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

Não demorou para que autoridades ligassem o alerta sobre uma provável "bolha" especulativa e passassem a pedir que os bancos cancelassem os empréstimos feitos a Nahas. Sem dinheiro, as corretoras que intermediavam as transações acumularam dívidas enormes, o que levou à quebra em cascata na Bolsa de Valores do Rio — uma das primeiras a entrar em operação no Brasil, em 1820.

Em 1997, a 25ª Vara Federal do Rio de Janeiro condenou o empresário a 24 anos e 8 meses de prisão por crimes contra a economia popular e o sistema financeiro — decisão posteriormente revertida por seus advogados no TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região).

Todos os processos relativos ao caso já transitaram em julgado, e Nahas foi absolvido das acusações. A Bolsa do Rio, no entanto, nunca se recuperou, tendo sido incorporada pela BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros) em 2002.

Seis anos depois, em 2008, seria criada a BM&FBovespa, uma das maiores do mundo, hoje chamada de B3 — a Bolsa de Valores brasileira.

Operação Satiagraha

Em julho de 2008, Naji Nahas também foi alvo da Operação Satiagraha, um dos desdobramentos das investigações do mensalão, e chegou a ser preso pela Polícia Federal. Na ocasião, também foram detidos Daniel Dantas, sócio-fundador do Grupo Opportunity, e Celso Pitta, ex-prefeito de São Paulo pelo PPB (atual PP).

Segundo a PF, Nahas e Dantas encabeçavam dois grupos criminosos que, associados, usavam informações privilegiadas para faturar no mercado de ações e lavavam dinheiro em paraísos fiscais. Segundo o MPF (Ministério Público Federal), o grupo de Dantas movimentou, entre 1992 e 2004, quase US$ 2 bilhões por meio do Opportunity Fund, nas Ilhas Cayman.

"Eles tinham 'megacontatos' e se privilegiaram de informações do mercado financeiro, como do Fed [Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos], por exemplo", afirmou à época o procurador da República, Rodrigo de Grandis.

Nahas foi solto apenas três dias depois, por determinação do ministro Gilmar Mendes, então presidente do STF (Supremo Tribunal Federal).

Em 2011, a Satiagraha foi anulada pela Quinta Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça) por 3 votos a 2. Na ocasião, os ministros entenderam que as provas colhidas na operação foram comprometidas com a participação da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). A decisão foi confirmada pelo STF em 2015.