Por que o rotativo do cartão é tão caro? Entenda como juros são calculados

O rotativo do cartão de crédito é uma das modalidades de crédito com maior taxa de juros do país. Dados do Banco Central de junho mostram que os juros do rotativo foram, em média, de 437,3% ao ano. O governo busca uma solução para reduzir os juros e a inadimplência da modalidade. Entenda como funciona hoje.

Entenda o custo do rotativo do cartão de crédito

Taxa de inadimplência alta é um dos motivos para os juros elevados. José Faria Júnior, planejador financeiro CFP pela Planejar, afirma que a inadimplência e atrasos no pagamento da fatura justificam a cobrança de juros mais altos. Dados do BC mostram que a taxa de inadimplência no rotativo foi de 49,1% em junho.

Prazos longos de pagamentos aumentam o custo da operação. Segundo os bancos, o prazo de financiamento impacta diretamente no custo de capital e no risco de crédito da modalidade. "A inadimplência das compras parceladas em longo prazo é bem maior do que na modalidade à vista, cerca de duas vezes na média da carteira e três vezes para o público de baixa renda", afirma a Febraban, em nota. Segundo a federação, é necessário debater "a grande distorção que só no Brasil existe, em que 75% das carteiras dos emissores e 50% das compras são feitas com parcelado sem juros".

Rotativo ajuda a cobrir risco da concessão de crédito. "Cerca de 75% das operações de cartão dos bancos emissores são realizadas no modelo de parcelado sem juros, em que uma operação de compra é parcelada em até 10 a 12 pagamentos. Nesta operação, o banco emissor garante integralmente o pagamento ao lojista (que não corre nenhum risco de crédito), mas não recebe nada de juros para cobrir este risco", afirma a Febraban em nota.

Rotativo é usado quando o consumidor não faz o pagamento total da fatura. O valor que ele não paga após o vencimento da fatura entra no rotativo. Assim, passam a ser cobrados juros sobre o valor que faltou pagar. Atualmente, essa taxa é de cerca de 15% ao mês. Crédito rotativo só pode ser usado por 30 dias. Depois disso, o banco é obrigado a transferir a dívida para uma linha de crédito com melhores condições e juros mais baixos. Isso acontece desde 2017, quando houve uma mudança na lei.

Quanto custa rotativo na prática?

Hoje, uma dívida no cartão de crédito chega a quase dobrar depois de um ano. Cálculos da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), mostram que um débito inicial de R$ 5.000 vira R$ 9.621,60 após 12 meses. A simulação consideram juros de 14,83% ao mês no rotativo e de 9% ao mês no parcelamento. Veja abaixo:

Simulação com dívida de R$ 1.000

  • Dívida inicial: R$ 1.000
  • Valor no 1º mês sem pagamento: R$ 1.148,30
  • Valor da parcela nos 12 meses seguintes: R$ 146,40
  • Total a ser pago após um ano: R$ 1.756,80
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Simulação com dívida de R$ 3.000

  • Dívida inicial: R$ 3.000
  • Valor no 1º mês sem pagamento: R$ 3.444,90
  • Valor da parcela nos 12 meses seguintes: R$ 481,08
  • Total a ser pago após um ano: R$ 5.772,96

Simulação com dívida de R$ 5.000

  • Dívida inicial: R$ 5.000
  • Valor no 1º mês sem pagamento: R$ 5.741,50
  • Valor da parcela nos 12 meses seguintes: R$ 801,80
  • Total a ser pago após um ano: R$ 9.621,60

Rotativo está na mira do BC e do governo

Ideia é reduzir a taxa de juros do cartão de crédito e até mesmo acabar com o rotativo. Campos Neto sugeriu que as faturas não pagas iriam direito para o parcelamento, com taxa mensal de 9%, o que corresponderia a 181% ao ano, bem abaixo dos juros atuais do rotativo.

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Limitar o parcelamento sem juros é outra possibilidade em discussão. Campos Neto defendeu a adoção de um modelo de parcelamento que leve em consideração o tipo de bem a ser adquirido e o prazo da operação. Um bem mais caro, como uma geladeira, poderia ser pago em um número de parcelas maior que uma roupa, que é um bem não durável. Quanto maior o número de parcelas, maior o juro pago pelo consumidor.

Haddad diz que solução não pode prejudicar varejo. Para o ministro da Fazenda, o fim do parcelamento sem juros não seria a resposta para acabar com as altas taxas de juros do rotativo. Segundo ministro, é preciso garantir proteção a quem está no crédito rotativo sem comprometer o varejo, que vende muito em parcelas sem juros no cartão de crédito.

Bancos poderiam controlar limites de crédito para reduzir os juros. A opinião é de Carla Beni, economista e professora dos MBAs da FGV. Ela afirma que o cartão de crédito em tese tem menos garantias, o que justificaria a taxa mais alta, mas o banco é o responsável por controlar o limite de crédito que dá ao consumidor.

Dívidas com bancos e cartões de crédito lidera o volume de inadimplentes no país. O segmento representou em julho 31,13% das dívidas não pagas, segundo a Serasa. Entre os mais jovens, a representatividade é ainda maior: 35,69% na faixa de 18 a 25 anos. Ao todo, o Brasil registra 71 milhões de inadimplentes.

Não existe nada que justifique como o custo do dinheiro, que seria uma Selic (a 13,25%), virar quase 440% ao ano. Não tem explicação. A inadimplência não explica, nem o custo de impostos, do dinheiro, nem as despesas administrativas.
Carla Beni, economista e professora da FGV

Como escapar das dívidas do rotativo

Serasa dá algumas dicas para não entrar no rotativo do cartão de crédito. São elas:

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  • Pagamento da fatura em dia. Vale usar alertas no celular ou programar débito automático em conta para não esquecer de realizar os pagamentos.
  • Acompanhe o valor da fatura ao longo do mês. Dessa forma, é possível controlar o valor que pode ser gasto no mês e não ter nenhuma surpresa na hora de pagar a fatura.
  • Estabeleça um limite de gastos pessoal. A Serasa orienta que o consumidor gaste, no máximo, 30% de sua renda com o cartão de crédito. Quem ganha R$ 3.000, por exemplo, deve gastar, no máximo, R$ 900 no cartão por mês.
  • Controle as compras parceladas. Apesar de facilitar a compra de bens mais caros, o parcelamento pode atrapalhar a vida financeira da família se não for usado com cautela. Por isso, escolha quais compras quer parcelar.

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