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Começa paralisação do governo dos EUA; impasse no Congresso continua

01/10/2013 09h28

Por John Whitesides

WASHINGTON, 1 Out (Reuters) - O governo dos Estados Unidos começou uma paralisação parcial nesta terça-feira pela primeira vez em 17 anos, colocando até 1 milhão de trabalhadores em licença não remunerada, fechando parques nacionais e atrasando projetos de pesquisa médica.

Agências federais foram direcionadas a reduzir os serviços, depois que os parlamentares não conseguiram romper um impasse político que provocou novas dúvidas sobre a capacidade de um Congresso profundamente dividido executar suas funções mais básicas.

Depois que os republicanos da Câmara apresentaram uma oferta tardia para romper o impasse, o líder da maioria no Senado, o democrata Harry Reid, rejeitou a ideia, dizendo que os democratas não entrariam em negociações oficiais sobre gastos "com uma arma na cabeça" na forma de paralisação do governo.

Nas horas anteriores ao prazo final (meia-noite de Washington), o Senado controlado pelos democratas repetidamente esvaziou as medidas aprovadas pela Câmara que amarravam temporariamente o financiamento para as operações do governo a atrasar ou redimensionar a reforma do setor de saúde conhecida como "Obamacare".

Pouco depois da meia-noite, o presidente Barack Obama tuitou: "A Lei de Serviços de Saúde Acessíveis ("Obamacare") segue adiante. Vocês não podem paralisá-la".

Se a paralisação representa outro obstáculo na estrada para um Congresso cada vez mais assolado por disfunções, ou se é um sinal de uma paralisação mais alarmante no processo político, será determinado pela reação do eleitorado e de Wall Street.

O dólar caiu 0,2 por cento. O preço da nota do Tesouro americano em 10 anos, uma referência estável para os mercados de títulos, caiu 0,3 por cento. O futuro de S&P subiu 0,5 por cento, apontando para uma alta na abertura de Wall Street. Na segunda-feira, o índice S&P 500 fechou com uma baixa de 0,6 por cento, pressionado por fornecedores da área de defesa, já que a paralisação provavelmente vai diminuir seus novos negócios.

A perturbação política no Congresso também levantou novos temores sobre se os parlamentares podem cumprir um prazo vital em meados de outubro para elevar o teto da dívida do governo, de 16,7 trilhões de dólares.

"Pode se seguir um default técnico do Tesouro, provocando queda nos mercados financeiros", escreveu o analista da ING Tom Levinson.

Depois de perder o prazo para evitar a paralisação, republicanos e democratas na Câmara continuaram um amargo jogo de empurra, cada lado colocando a responsabilidade no outro em esforços de redirecionar uma possível repercussão pública.

Se o Congresso conseguir chegar logo a um acordo sobre uma nova lei de financiamento do governo, a paralisação duraria dias em vez de semanas. Mas não há sinais de uma estratégia para reunir os partidos.

De olho nas eleições do Congresso em 2014, os dois partidos tentaram se livrar da responsabilidade pela paralisação. O presidente Barack Obama acusou os republicanos de estarem endividados demais com os conservadores do Tea Party na Câmara dos Deputados, e disse que a paralisação poderia ameaçar a recuperação econômica.

As apostas políticas são altas principalmente para os republicanos, que vão tentar recuperar o controle do Senado no ano que vem. As pesquisas mostram que é mais provável que eles sejam responsabilizados pela paralisação, como aconteceu na última, em 1996.

"Alguém vai ganhar e alguém vai perder", disse o pesquisador de opinião pública Peter Brown, da Universidade Quinnipiac. "Obama e os democratas têm uma pequena vantagem".

POLARIZAÇÃO POLÍTICA

A paralisação, o auge de três anos de polarização política crescente e de governo dividido, foi liderada pelos conservadores do Tea Party, unidos em sua oposição a Obama, seu desgosto pela lei de reforma do sistema de saúde do presidente e suas promessas de campanha de controlar os gastos do governo.

Obama se recusou a negociar as exigências e advertiu que uma paralisação poderia "atirar uma chave inglesa nas engrenagens de nossa economia".

Alguns escritórios do governo e parques nacionais serão fechados, mas os gastos para as funções essenciais relacionadas à segurança nacional e pública continuarão, incluindo o pagamento para os soldados norte-americanos.

"Não é um choque ter havido uma paralisação, o choque é não ter acontecido antes", disse o estrategista republicano John Feehery, um ex-assessor do Congresso. "Temos um governo dividido com opiniões tão diametralmente opostas, precisamos de uma crise para obter qualquer tipo de resultado".

"A chave para isso não é o que acontece em Washington", disse o estrategista democrata Chris Kofinis. "A chave é o que acontece no mundo real. Quando o público começar a se rebelar e o mercado financeiro começar a se dissolver, aí vamos ver o que esses caras fazem".

Uma pesquisa Reuters/Ipsos mostrou que um quarto dos norte-americanos culparia os republicanos por uma paralisação, 14 por cento culpariam Obama e 5 por cento iriam culpar os democratas no Congresso, enquanto 44 por cento disseram que todos tinham culpa.

Não está claro quanto tempo a paralisação vai durar, e não há um plano nítido para romper o impasse. O Senado paralisou os trabalhos até as 9h30 (10h30 no horário de Brasília) desta terça-feira, quando os democratas esperam rejeitar oficialmente a última oferta da Câmara dos Deputados para financiar o governo.

A paralisação vai continuar até que o Congresso resolva suas diferenças, o que pode significar dias ou meses. Mas o conflito pode se espalhar para a disputa mais importante sobre aumentar a capacidade de endividamento do governo federal.

Um fracasso em aumentar o teto da dívida de 16,7 trilhões de dólares iria forçar o país a não cumprir com suas obrigações, dando um golpe potencialmente doloroso na economia e enviando ondas de choque aos mercados mundiais.

Alguns analistas dizem que uma breve paralisação do governo --e um resultante revés contra os parlamentares-- poderia esfriar as exigências republicanas em um confronto sobre o limite da dívida.

(Reportagem adicional de Walker Simon e Franklin Paul, em Nova York)