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Demissionário, presidente da Caixa Econômica Federal é contra IPO de banco

12/02/2015 17h59

Por Aluísio Alves e Guillermo Parra-Bernal

SÃO PAULO (Reuters) - Prestes a deixar o comando da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda manifestou-se nesta quinta-feira contrário à abertura de capital do banco e rebateu a afirmação da presidente Dilma Rousseff de que a instituição precisa ser "saneada".

"Pessoalmente sou contra e acho que não deveria ser feito agora", disse ele a jornalistas ao detalhar os resultados do banco no quarto trimestre. "É importante para o país ter um banco 100 por cento controlado pelo governo."

Seus comentários expõem a falta de consenso no governo federal sobre o nível de independência das estatais, num momento de crescente desconfiança do mercado sobre a governança dessas empresas, após o escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras.

Na virada do ano, Dilma admitiu que o governo federal estuda uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da Caixa, mas que a iniciativa pode levar algum tempo, porque antes o banco precisa ser saneado.

Hereda disse que conversou a respeito com Dilma na terça-feira, antes do anúncio de que ele seria substituído no posto pela ex-ministra do Planejamento Miriam Belchior, no dia 23.

Na avaliação dele, porém, seria viável um IPO do braço de seguros do grupo, a Caixa Seguros, empresa na qual a francesa CNP Assurances detém cerca de 51 por cento do capital. "Faria mais sentido", assim como fez o Banco do Brasil, disse Hereda.

O BB levou à bolsa em abril do ano passado seu braço de seguros BB Seguridade, em uma operação que levantou cerca de 11,5 bilhões de reais.

Desde 2009, quando foi instado pelo governo a aumentar a oferta de crédito para conter os efeitos da crise financeira global, na contramão dos rivais privados, a Caixa viu seu estoque de financiamentos avançar cerca de 400 por cento.

Hereda assumiu em 2011. No ano seguinte, o governo novamente mandou os bancos estatais ampliarem o crédito e a Caixa manteve os empréstimos crescendo mais que o dobro da média do mercado. Em 2014, sua carteira ampliada avançou 22,4 por cento, ante 11,3 por cento do sistema.

"O que seria do país se a Caixa, sendo um banco 100 por cento público, não tivesse feito o que fez", questionou Hereda.

Para 2015, Hereda previu alta de 17 por cento em sua carteira. Oficialmente, a previsão da Caixa é de aumento de 14 a 18 por cento. Na média, os rivais Itaú Unibanco, Bradesco e o Banco do Brasil previram expansão de um dígito nos empréstimos este ano.

Hereda e executivos da Caixa rebateram críticas de que o banco opera com alta alavancagem e que tenha "esqueletos". Segundo ele, a meta da instituição é manter o índice de inadimplência acima de 90 dias nos 2,6 por cento obtido no quarto trimestre.

Mais cedo nesta quinta-feira, a Caixa anunciou que fechou o quarto trimestre com lucro líquido de 1,8 bilhão de reais, alta de 5,1 por cento ante igual etapa do ano anterior.

LAVA JATO

O presidente da Caixa também negou que o banco tenha tido menos cuidado na concessão de empréstimos e que a exposição a empresas envolvidas na operação Lava Jato é pequena.

Segundo a vice-presidente de riscos da Caixa, Alexandra Camelo Braga, a exposição total do banco ao setor de óleo e gás é de 2,28 bilhões de reais, o que corresponde a cerca de 4 por cento da carteira total. Já em relação a empresas de construção pesada, a exposição total corresponde a entre 0,6 e 0,8 por cento do total disse ela.

Em outra frente, o FI-FGTS, fundo de investimentos em infraestrutura gerido pela Caixa, tem cerca de 11 bilhões dos 32 bilhões de reais do patrimônio investidos em projetos dos quais participam empresas de grupos que estão sendo investigados pela Lava Jato.

No entanto, disse o vice-presidente de gestão de recursos de terceiros da Caixa, Marcos Vasconcelos, desse total há operações com valores bem menores que poderiam ser diretamente envolvidas.

Cerca de 240 milhões de reais do fundo estão em dois projetos da OAS, empreiteira que já admitiu que pode vender ativos para equilibrar sua situação financeira. Um refere-se a 150 milhões de reais em debêntures para obras na Rodovia Raposo Tavares. Mais 90 milhões de reais estão no capital do braço da OAS de óleo e gás.

Além disso, o FI-FGTS tem cerca de 2,9 bilhões de reais empenhados na Sete Brasil, companhia de sondas de exploração para águas ultraprofundas e que negocia receber recursos de acionistas para honrar 4 bilhões de reais em dívidas nos próximos meses.