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PF prende pecuarista Bumlai em nova etapa da Lava Jato

UESLEI MARCELINO
Imagem: UESLEI MARCELINO

24/11/2015 09h20

RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Polícia Federal prendeu nesta terça-feira o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em nova etapa da operação Lava Jato que investiga concessão de empréstimos milionários em benefício de políticos e contratação de navio sonda pela Petrobras.

Bumlai foi preso em um hotel de Brasília nesta manhã na 21ª fase da Lava Jato, que ganhou o nome Passe Livre em referência ao suposto acesso livre que o pecuarista tinha ao Palácio Planalto durante o governo Lula, segundo a PF.

O pecuarista tinha depoimento previsto, nesta terça-feira, na CPI do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

As investigações da Lava Jato apontaram que a Petrobras contratou o grupo Schahin em 2009 para operação do navio sonda Vitória 10.000, em processo sem licitação, como forma de pagamento por um empréstimo de 12 milhões de reais contraído por Bumlai junto ao grupo em 2004. Segundo o MPF, o empréstimo se destinava ao PT e nunca foi pago.

De acordo com o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, o contrato da estatal com a Schahin teve envolvimento direto do então ministro-chefe da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu, e do então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, ambos condenados por corrupção no processo do mensalão. Dirceu também foi preso no âmbito da Lava Jato.

"No momento em que foi determinada a contratação da Schahin, a ordem que veio para a parte técnica da Petrobras foi de que havia uma determinação de cima para que se resolvesse o problema da Schahin com a contratação dessa sonda", disse Lima em entrevista coletiva em Curitiba, onde estão concentradas as investigações da Lava Jato.

"Existe claramente uma vinculação política a esse primeiro empréstimo", afirmou, acrescentando que o mecanismo de empréstimos que nunca são cobrados já se vê desde a denúncia do mensalão.

A Receita Federal, que atua junto à PF na operação, informou que também estão sendo investigados outros empréstimos de grandes valores por parte de instituições financeiras em benefício de agentes políticos, sem serem cobrados até que ocorressem pagamentos simulados ou o perdão pelas próprias instituições.

Em alguns casos, os investigados serviram como intermediários em repasses de valores a terceiros, supostamente atendendo a interesses de agentes políticos, segundo a Receita.

"Nesta fase investigam-se sucessivas contabilizações de supostos empréstimos com o objetivo de dissimular a real circulação de recursos saídos de instituições financeiras até os beneficiários finais dos valores, em intrincado esquema de interposição fraudulenta e de lavagem de dinheiro", disse a Receita em nota.

Além do empréstimo de 12 milhões de reais da Schahin, mais de uma dezenas de empréstimos que não são pagos e contraídos de diferentes instituições estão sendo investigados, totalizando dezenas de milhões de reais, segundo o MPG

BNDES

Também fazem parte das investigações da nova etapa da Lava Jato empréstimos concedidos pelo BNDES a empresas de Bumlai e familiares nos setores de açúcar e etanol. Um dos alvos é o Grupo São Fernando, que recebeu empréstimos do banco de fomento em torno de 500 milhões de reais, segundo o MPF.

Uma das empresas, a São Fernando Açúcar e Álcool, que contraiu dois empréstimos junto ao BNDES totalizando mais de 400 milhões de reais, hoje deve mais de 1 bilhão de reais e teve pedido de falência decretado.

A sede do banco, no Rio de Janeiro, foi alvo da operação da PF nesta terça, quando foram solicitados documentos referentes a operações com as empresas.

"Os créditos eram concedidos e não eram pagos ao longo do tempo", disse o procurador Diego Castor de Mattos.

Em nota, o BNDES reafirmou a "lisura" de todos os procedimentos relacionados ao Grupo São Fernando.

"Não houve qualquer irregularidade nas operações; o BNDES possui garantias reais suficientes para fazer frente à dívida existente e todas as medidas judiciais pertinentes para a recuperação do crédito foram tomadas pela instituição", disse o banco.

De acordo com a Polícia Federal, 140 policiais e 23 auditores fiscais cumprem nesta terça-feira 25 mandados de busca e apreensão, 6 de condução coercitiva e 1 de prisão preventiva nas cidades de São Paulo, Lins (SP), Piracicaba (SP), Rio de Janeiro, Campo Grande, Dourados (MS) e Brasília como parte da nova etapa da Lava Jato.

Dois administradores do grupo Bertin, Natalino e Silmar Bertin, estão entre as pessoas que foram conduzidas à polícia, segundo a PF. Segundo as investigações, Bumlai fez transferências para o frigorífico Bertin em 2004, e também existe suspeita pelo fato de a São Fernando Açúcar e Álcool ter sido administrada conjuntamente por Silmar e Natalino Bertin e a família de Bumlai entre 2007 e 2012.

A operação Lava Jato investiga um esquema bilionário de corrupção na Petrobras e em outros órgãos da administração pública, com o envolvimento de empreiteiras que formaram um cartel para obter contratos e pagavam propina a funcionários das companhias a operadores que lavavam o dinheiro do esquema e a políticos e partidos.

(Por Pedro Fonseca; Reportagem adicional de Caio Saad)