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Empresas dos EUA se ajustaram bem à valorização do dólar, diz estudo

06/01/2017 13h56

Em tempos de expectativa de mais valorização do dólar por conta das alardeadas políticas expansionista e protecionista que serão abraçadas pelo novo governo de Donald Trump (e suas consequências na política monetária), o Federal Reserve (Fed) de St Louis publicou um estudo analisando quais os impactos possíveis da moeda mais forte sobre a rentabilidade das empresas americanas.

A conclusão é que, "apesar do impacto negativo observável no curto prazo, as empresas podem se ajustar bastante bem em resposta a uma grande e acentuada flutuação da taxa de câmbio".

Analisando o período entre o segundo trimestre de 2014 e o primeiro trimestre de 2016, o dólar americano ponderado pelo comércio apreciou mais de 20%, segundo o Fed de St Louis. "Essa apreciação tão grande e rápida cria algumas preocupações sobre a saúde da economia dos EUA", dizem os autores. "Uma grande preocupação é a lucratividade das empresas, especialmente aquelas que dependem fortemente das vendas externas".

Para ilustrar, dizem os autores, em 2015, 44,3% da receita das empresas do S&P 500 vieram das exportações. Dessa forma, é inevitável concluir que, com os produtos se tornando mais caros para os estrangeiros, as exportações são potencialmente prejudicadas, além do fato de que as receitas estrangeiras denominadas em dólares de empresas que produzem e vendem em países estrangeiros são reduzidas.

Para analisar o impacto da valorização do dólar sobre o valor de mercado das firmas, o Fed de St Louis usou dados de 2.992 empresas negociadas em bolsa, divididas em dois grupos. O primeiro grupo foi composto de firmas cujas vendas no exterior são de no mínimo 50% das vendas totais; a segundo com empresas cujas vendas no exterior são inferiores a 50% das vendas totais. Na sequência, os economistas construíram uma carteira de investimentos ponderada para cada grupo e baseada nos valores de mercado de 2013.

Foram deixadas de fora do modelo as empresas petrolíferas porque seus retornos foram fortemente reduzidos pela forte queda nos preços do petróleo durante este período. Foram excluídas também as empresas financeiras da análise porque são as empresas não financeiras as que têm maior exposição aos riscos cambiais.

Entre julho e dezembro de 2014, o valor do dólar aumentou mais de 10% e a carteira de empresas com baixo índice de vendas no exterior superou a carteira com vendas predominantes por uma margem considerável - mais de seis pontos percentuais. No entanto, o efeito foi revertido na segunda metade do período de amostragem, de janeiro a setembro de 2016. Neste período, a carteira de empresas com alto nível de vendas no exterior teve um desempenho melhor, apesar de o dólar ter apreciado mais 10%.

"Esse resultado mostra que o forte dólar corroeu o valor de mercado das empresas no curto prazo, mas não no longo prazo". Em suma, diz o Fed de St Louis, "o dólar forte não tem permanentemente danificado a rentabilidade das empresas com uma quantidade significativa de vendas no exterior".

Segundo o estudo, uma explicação possível para esse resultado diz respeito à cadeia de fornecimento global. "As empresas com altas vendas externas são maiores e tendem a ser multinacionais". Com a globalização, portanto, é provável que estas empresas sejam capazes de ajustar sua produção e suas vendas entre os Estados Unidos e os países estrangeiros.

No curto prazo, o ajuste poderia "ser caro e lento e, portanto, não viável". Mas no longo prazo, diz o Fed de St Louis, "as empresas poderiam mudar a produção e possivelmente se concentrar mais no mercado interno para reduzir o impacto sobre os lucros causados pela apreciação do dólar".

Analisando os resultados do mesmo exercício para as empresas manufatureiras, vê-se que o impacto negativo é mais longo e persistente, por serem menos flexíveis quando se trata de ajustar a produção ou foco no mercado em resposta a uma mudança na taxa de câmbio. Isso se explica pela "exposição assimétrica ao risco entre os diferentes tipos de empresas".

Em conclusão, "os dados mostram que a recente apreciação do dólar a partir de 2014 reduziu o valor das empresas apenas no curto prazo. Em agosto de 2016, o valor das empresas com altas vendas no exterior se recuperou ou mesmo superou o valor das empresas com baixas vendas no exterior".