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O empreendedor angustiado

Marco Roza

Colunista do UOL, em São Paulo

14/08/2013 06h00

Se você pretende ser empreendedor e sonha com o lado bom de ser empresário, é bom começar sua jornada preparado para enfrentar e superar, também, as angústias do meio do caminho.

Ter lucros crescentes e reinvestidos, a ponto de sobrar uma folga para sustentar uma vida glamorosa, com bons carros, roupas de marcas, bons convênios médicos e uma sólida reserva, é o sonho de todo empreendedor, mas sempre haverá uma angústia a ser superada, todos os dias, no meio do caminho.

Ainda mais quando estiver vinculada com as dificuldades permanentes enfrentadas pelo nicho de mercado que você se dedicou para apresentar soluções para ter mais beleza e funcionalidade, mais harmonia e qualidade, mais bem-estar e satisfação pessoal.

O que para alguns consumidores é apenas um design bonito e funcional, a ponto de ter garantido o sucesso de empresas como a Apple, para o empresário do perfil de Steve Jobs, por exemplo, se trata de uma vida em permanente angústia.

Sentimento este consumido pela busca do detalhe, da experiência, do prazer que a concorrência ainda não havia percebido e que exige novos desafios para incorporar aos produtos e serviços.

Porque o mundo real do investimento em uma empresa não se repete nunca e faz questão de escapar dos nossos planos mais detalhados. Pois se trata de uma organização apoiada e renovada pela integração e harmonização de vidas e expectativas de homens e mulheres, consumidores, colaboradores e fornecedores.

Em cada detalhe do produto ou do serviço estará o DNA criativo, intempestivo, revolucionário.

Que se alimenta das condições disponíveis no atual momento (matéria-prima, investimentos e capital intelectual) para emergir, no dia seguinte, renovado a ponto de manter a atenção dos consumidores que se cansam rapidamente da mesmice dos nossos produtos e serviços, por mais bem embalados que estejam.

Foco absoluto

É por isso que com o tempo, com os tombos e as superações, o empresário mais amadurecido adquire um foco com têmpera de raio laser. Tem sempre um objetivo em mente quando troca ideias, relaxa ou decide a contratação de um novo colaborador ou define um acordo comercial.

São homens e mulheres que depois de superarem várias etapas de angústia empreendedora que aprendem a “não dar ponto sem nó”, como nos ensinam os ditos populares. A ponto de se tornarem, às vezes, pessoas antissociais para seus parentes e amigos mais próximos.

É o preço que estão acostumados a pagar para se alimentar das incertezas, dos erros e dos imprevistos que o ambiente em que a empresa sobrevive lhes entrega nas entrelinhas, nas nuances e até mesmo nos lapsos de linguagem de um cliente ou concorrente.

A partir dessas informações sutis, estrelas cadentes que piscam e se apagam para sempre, é que surgem as grandes ideias que consumirão tempo, capital e mobilização de talentos para fazer a organização sobreviver mais um dia, uma semana, um mês.

Se você, portanto, estiver preparado para viver esse tipo de vida angustiada, que o manterá atento a oportunidades ainda não percebidas por seus concorrentes e a traduzir essa visão para seus colaboradores, fornecedores e investidores é provável que consiga dar a volta por cima nos grandes  tombos de sua futura vida de empreendedor.

Se faz parte da missão de sua vida ser empreendedor, você assimilará, com naturalidade, o tratamento que damos à angústia necessária de ser empresário.

Porque terá se decidido, depois que deixou para trás a aparente segurança do holerite a se dedicar, de corpo e alma, às necessidades de um mercado consumidor pulsante, com bolsos ansiosos, com necessidades que se organizam e focam na capacidade de sua empresa em atendê-las.

E você, empreendedor angustiado, estará sempre preparado para buscar a solução que surpreenda, evitando os lugares comuns, a mesmice e o morno.

Terá seu sucesso e relativa folga financeira, sustentados pelos diferenciais que agrega aos seus produtos e serviços, e evitará que seus clientes lhes deem o destino antecipado por Apocalipse 3:16: “Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.”