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Incorporar a criatividade alheia para sobreviver num mundo globalizado

Marco Roza

Colunista do UOL, em São Paulo

13/11/2013 06h00

O que a gente mais encontra nos depósitos de empresas acomodadas, na antessala das falências, são as grandes bravatas de empresários geniais, que construíram seus “grupos empresariais” do quase nada.

São homens e mulheres que tiveram a sorte grande em determinada fase de suas vidas profissionais, que aproveitaram com garra oportunidades únicas, muitas delas geradas por clientes desesperados.

Conseguiram, assim, acumular prédios, empregados, alguns bens e uma fé inabalável na própria inteligência. A ponto de muitos colocarem o próprio nome, ou suas iniciais, nos “grupos empresariais” que criaram.

Apesar de serem engenheiros, advogados, médicos, herdeiros ou especialistas em alguma função, a “criatividade” desses empreendedores domina seus egos e contagia suas estratégias.

Têm enorme dificuldade em captar ideias alheias e quando o fazem não sabem como incorporar a criatividade alheia ao DNA de suas empresas.

Porque cada vez mais as organizações crescem primeiro em complexidade para, no caso de acerto, conseguir confirmar suas novas etapas por meio do faturamento e eventual lucro.

Uma empresa, então, é uma organização altamente complexa que se alimenta de informações, análises, comparações, nuances, enfoques que exigem muita criatividade, além da especialização e motivação de quem sugere uma nova ideia.

O gênio está nu

É aí que o “genial” empreendedor, que acha que se fez sozinho por ter tido a sorte de estar à frente de um projeto que já acumula duas décadas ou mais, enfrenta tremendas dificuldades de se ajustar a um ambiente de altíssima complexidade e competitividade.

Se antes dependia da iniciativa do dono formular e escrever os objetivos e a missão da empresa, hoje poucos levam a sério essas bandeiras se não forem sustentadas por operações que as legitimem em todos os níveis, de maneira continuada, dentro e fora da empresa.

Até alguns anos atrás bastava anunciar o nome e as características da empresa ou dos seus produtos em determinados veículos para conseguir recuperar o capital investido em publicidade por meio de uma demanda aumentada.

Hoje em dia, no entanto, o consumidor dialoga com as marcas, com as intenções e manipulações contidas nas mensagens. E testa o atendimento no pós-venda.

E diante de qualquer problema registra sua insatisfação nas redes sociais. Cristalizando uma memória perene, que vai muito além da provável correção do problema que deu origem à reclamação.

Terceirizar sabedorias

Portanto, dada a alta complexidade que envolve os atuais empreendimentos é bom que o líder de um novo negócio esteja preparado para terceirizar criatividades.

Estimular, respeitar e estar disposto a dividir ganhos com parceiros que agreguem criatividade ao negócio, a partir de suas experiências consolidadas e testadas no mercado.

A principal barreira que o empreendedor terá de enfrentar é seu próprio ego e/ou seus vícios de relacionamento interpessoal.

Um empresário que desconfia de todo mundo, que só vê no outro o algoz, o sócio traíra, o empregado com um punhal nas mãos, disposto a prejudicá-lo a qualquer instante, dificilmente conseguirá assimilar o que o outro tem de bom.

O que ele pode oferecer para salvar (isso, mesmo, salvar) sua empresa de um destino linear, como os gráficos que indicam a morte de um paciente.

Continuará a gerenciar a empresa acumulando desgastes naturais das próprias energias, das vitórias passadas e do capital acumulado e a tornará cega diante de oportunidades de um ambiente altamente complicado ao nosso redor.

Criatividade complementar

Mas é possível, com um pouquinho de distanciamento, humildade e sorte encontrar pela frente os ensinamentos de Lao-Tsé, no seu livro de 2.600 anos, o “Tao Te King” e ler:

“Quem é rico e estimado,/Mas não se conhece a si mesmo,/Atrai sua própria desgraça./Quem faz grandes coisas,/E delas não se envaidece,/Esse realiza o céu em si mesmo.”

Se você estiver preparado para ir muito além do tsunami de sorte que seus pais, sua garra juvenil ou circunstâncias do mercado criaram para seu “grupo empresarial”, é possível que não leve muito a sério seu ego vaidoso. Principalmente, se investiu algumas reflexões em conhecer a si mesmo.

Estará, quem sabe, preparado para incorporar a criatividade de terceiros. E a formalizar com eles (e elas) a divisão dos louros e lucros para motivá-los a ajudá-lo a conduzir seu empreendimento num mundo globalizado e altamente complexo.