Conhecer a dimensão do seu negócio evita riscos futuros

Um evento mundial de superlativas proporções, envolve muitos aspectos, atores e providências de logística.

A Jornada Mundial da Juventude certamente envolve um balanço geral mais positivo do que negativo, propiciando muitas lições interessantes para os que empreendem, nas diversas esferas, pública, religiosa, civil e militar.

E, para que a cidade, o país e os empreendedores se preparem melhor para os próximos eventos: Copa do Mundo e as Olimpíadas.

Toda oportunidade enseja riscos que devem ser avaliados, procurando-se identificar os fatores que os afetam.

Certamente que o próprio fato de se atrair milhões de pessoas para uma mesma cidade, num curto espaço de tempo, concentrando-as em grandes atividades centrais, num mesmo local, envolvem desafios e riscos de imensas proporções.

Adaptar um local já existente para este tipo de evento decerto minimizaria as dificuldades e riscos, bem como a necessidade de criar-se infraestrutura: transporte e estruturas de apoio (água, alimentação, banheiros, atendimento médico, segurança etc.).

Mas, como somos ousados, resolveu-se criar tudo, que ficaria lindo e estalando de novo para os eventos de fechamento desta Jornada: a vigília e a missa de envio. Ou seja, um mega empreendimento numa área do Rio, distante uns 60 km do seu centro. Uma área virgem de tudo: de acessos e de toda a infraestrutura.

Em outra cidade já acompanhei empreendimento imobiliário que transformou antiga gleba em condomínio residencial. Igualmente envolveu desafios: preservação de área ambiental (exigência de replantio de espécies nativas e preservação de nascentes), criação de acessos e de infraestrutura – avenidas e ruas, água, esgoto, energia elétrica, telecomunicações.

Somente na fase de projeto e aprovações foram mais de 5 anos de idas e vindas em quase meia centena de órgãos públicos de diversas esferas, exigências de alterações do empreendimento para obtenção de aprovação final e iniciar a execução. E, esta área era num terreno firme, sem as complicações envolvidas com o terreno escolhido em Guaratiba.

Num empreendimento imobiliário há que se avaliar muito bem o tipo de terreno frente ao uso que se vai fazer e as estruturas que nele serão erigidas.

Ora, neste caso, da antiga Fazenda Sagap, os fatores de risco apontavam para áreas abaixo do nível do mar e próximas ao rio Piraquê que, na maré alta alaga os canais próximos que tem trechos e canais assoreados. Além disto: área de mangue com apicum, que é um tipo de terreno arenoso que cerca dos manguezais.

Os trechos II e V foram apontados como frágeis pelo Instituto Estadual do Meio Ambiente, que demandava a não ocupação de áreas marginais para proteção e preservação da vegetação do mangue. Isto resultava na diminuição da área aproveitável, reduzindo o número de lotes.

Mesmo com obras de terraplanagem, dragagem de rios, drenagem, o clima também compunha o risco. Chuvas, mesmo pouco prováveis nesta época do ano, poderiam ocorrer.

E, o clima não é ainda um fator controlável pelos homens: o empreendedor deve considerar, mesmo a contragosto, que o pouco provável também pode acontecer, prevenindo-se no que pode ser prevenido.

Infelizmente, neste caso da Jornada Mundial da Juventude, os atores envolvidos parece que resolveram ignorar os alertas para os riscos. O desenlace foi um dos campos mais caros e enlameados de nossa história, numa confissão de não planejamento, imprudência e desorganização carioca e brasileira perante o mundo.

E que botou por água abaixo o sonho de muitos outros pequenos empreendedores que iriam se aproveitar da oportunidade destes eventos.

O Papa que veio nos reensinar a ética, a compaixão e o atendimento das necessidades do próximo, saiu do país com a promessa de que este lamaçal será desapropriado e transformado num bairro de casas populares.

Esperemos com fé, que os atores e empreendedores envolvidos nesta nova etapa, se desdobrem para oferecer moradias numa situação saudável, digna e sem riscos!