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Conheça as melhores ações defensivas da Bolsa para investir na crise

César Esperandio

08/05/2020 04h00

Quais são ações para ter na carteira de investimentos durante a crise?

Eu sou César Esperandio, economista do Econoweek, a tradução da economia e dos investimentos. E agora vou contar quais são as ações defensivas do setor financeiro e os motivos de elas serem mais seguras.

A quarentena para enfrentar a disseminação da pandemia do novo coronavírus trouxe uma série de consequências econômicas para o nosso cotidiano.

Empresas foram colocadas em xeque frente a suas capacidades de absorverem o impacto gerado pela paralisação dos negócios na maioria dos segmentos.

No mercado financeiro não é diferente. E as ações das empresas caíram bastante, causando prejuízo a muitos que sacaram o dinheiro investido.

Por isso, para quem investe em ações nesse momento, uma boa ideia é dar uma olhada nas ações defensivas.

As ações defensivas são aquelas de empresas mais maduras, com baixo nível de endividamento, que conseguem obter forte geração de caixa e possuem uma boa previsibilidade em suas receitas e em seus principais custos, segundo estudo da Levante de ações defensivas na atual conjuntura.

Hoje, vou mostrar as ações defensivas dentro do setor financeiro. Afinal, eu sou fã desse tipo de ações.

O setor financeiro tem divisões internas. Além do segmento bancário, ações de bancos tradicionais, como Itaú e Bradesco, há o segmento de serviços financeiros diversos, que conta com as ações da própria Bolsa de Valores - a B3 - e a adquirente Cielo, além do segmento de seguradoras.

E é justamente das ações de seguradoras que vou falar hoje. Especificamente das ações da SulAmérica, Porto Seguro, e BB Seguridade.

O que fazem as seguradoras?

Um seguro é um contrato que faz a seguradora contratada indenizar o cliente quando acontece algum sinistro.

Um exemplo é o seguro automotivo. O cliente paga o "prêmio", como é chamado o preço pela contratação do seguro, que pode ser pago à vista ou parcelado, e se o carro for roubado ou se envolver em um acidente, a seguradora cobre os prejuízos.

Mas há seguro de tudo quanto é tipo: de veículos, de saúde, para ir ao dentista, seguro residencial, previdência privada, seguro de vida, e por aí vai.

Por que as ações de seguradoras são defensivas?

1. Negócio pouco arriscado - O primeiro ponto é que as seguradoras não correm muito risco. Teoricamente, elas precificam com assertividade o preço de cada apólice de seguro, levando em contas as probabilidades da proporção de clientes que vão acionar o seguro e quanto elas gastarão com isso. Se a conta for feita com precisão, e o valor do prêmio for adequado, as seguradoras sempre lucrarão em situações normais.

Mas e durante uma crise como essa que vivemos? Já irei falar disso.

2. Pagamento antecipado - Toda seguradora recebe antecipadamente os pagamentos dos segurados, e nem sempre esses valores são "devolvidos", pois o sinistro pode não existir.

Os corretores de seguro vão querer me matar, mas se lembra de um ditado que diz que "a gente paga seguro para não usar"? É exatamente isso.

Com esse recebimento antecipado, as seguradoras têm a grande vantagem de um fluxo de caixa livre para ser reinvestido no negócio ou para passar por esses tempos difíceis com mais tranquilidade do que empresas de outros setores.

Você pode conhecer casos de pessoas que não pagam seguro à vista, que parcelam esses pagamentos no cartão de crédito ou no débito direto da conta corrente. Mas o pagamento em dia é uma condição necessária para os clientes continuarem cobertos pelo seguro contratado.

Assim, "os clientes dificilmente deixarão de pagar seus planos de saúde em uma hora dessas, já que há uma preocupação generalizada com a saúde e a vida", afirma Eduardo Guimarães, especialista em ações da Levante Investimentos.

3. Menos acidentes - A terceira vantagem das seguradoras, que as enquadram como ações defensivas, é que a sinistralidade de vários seguros pode cair por conta dessa crise.

Um exemplo disso é que com menos carros trafegando por conta do distanciamento social, a quantidade de acidentes, roubos e furtos também caíram, o que faz as despesas das seguradoras também caírem.

Por outro lado, o analista da Toro Investimentos, Daniel Herrera, comenta que apesar dessa queda de sinistralidade, o número de emplacamentos deve cair, com impacto na contratação de novos seguros, de modo que "o efeito líquido pode não ser tão positivo assim".

No segmento de planos de saúde, a vantagem pode ser menos clara. Os analistas da Levante mencionam no relatório de ações defensivas que os maiores gastos com exames e consultas relacionadas à Covid-19 deverão ser compensados pela queda de procedimentos eletivos, que são as consultas e cirurgias não urgentes, normalmente feitos com agendamento, e que estão suspensos na maior parte dos casos.

ROE

Uma das maneiras de verificar se as receitas recorrentes de uma empresa estão em níveis saudáveis é olhar o ROE, que é o lucro líquido sobre o patrimônio líquido, e normalmente o aconselhável é estar acima de 15%.

O ROE da SulAmérica está em 16,53%, o da Porto Seguro em 16,68% e o da BB Seguridade em 126,86%.

Como lembrou Daniel Herrera, da corretora Toro, esse ROE superior a 100% do BB Seguridade não é recorrente, mas essa companhia tem resultados expressivos por contar com a rede de distribuição de seus seguros pelas agências do Banco do Brasil sem custos elevados por não serem agências de sua propriedade. BB Seguridade e Banco do Brasil são empresas diferentes, mas têm bastante sinergia.

Mesmo assim, dentre as três seguradoras, a BB Seguridade "apresenta uma vantagem frente às demais por ter ROEs mais altos", afirma Herrera.

Para ter uma noção da constância desses resultados, é bom sempre olhar o ROE dos últimos cinco anos. Como mostrei no vídeo acima, o ROE das três empresas são maiores que 15% nos de 2015 para cá.

Obviamente, é necessário olhar muito mais informações antes de investir, que não é o propósito desse conteúdo.

Aliás, essa não é uma recomendação de compra ou venda, já que, além de conhecer da ação que está interessado, é recomendável que já tenha uma reserva de segurança e sempre alie seus investimentos aos seus objetivos e à sua tolerância ao risco de cada ativo.

Riscos

É claro que as seguradoras não estão imunes e podem sofrer com aumento inesperado no índice de sinistralidade, principalmente as seguradoras com elevada exposição ao setor de saúde.

Há ainda a possibilidade de queda do ritmo de vendas de novos seguros por conta da perda de renda da população, forçando as seguradoras a baixarem os preços de seus serviços.

De qualquer modo, os preços das ações dessas três seguradoras tiveram queda desde o começo dessa crise, mas menores do que a queda do Ibovespa.

Se antes, próximo do pico do Ibovespa, os investidores estavam mais animados com ações de empresas menores e com maior potencial de valorização, o momento agora pede cautela e é interessante "focar nas empresas referências de setores mais blindados, como bancos, energia e commodities", afirma Herrera, da Toro Investimentos.

"Ações de empresas maiores, que têm acesso a linhas de crédito mais interessantes, com alavancagem baixa e bom fluxo de caixa, são características de uma ação defensiva", completa.

Ser um pouco mais prudente no investimento em ações pode ser uma boa ideia em momentos como o que passamos.

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