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João Branco

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Se você ganhasse R$ 100 milhões, continuaria trabalhando?

Colunista do UOL

31/03/2021 04h00

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Um dos ganhadores da Mega-Sena da virada ainda não foi buscar seu prêmio. Hoje é o prazo limite para que ele consiga resgatar os R$ 162,6 milhões que ganhou.

Eu não sou do grupo que faz apostas na loteria, mas achei esse caso muito curioso. Por que será que ele não foi pegar o dinheiro? Será que perdeu o bilhete? Não percebeu que ganhou? Ou existe alguma chance de alguém ganhar e decidir não resgatar?

Aumentar a conta bancária para 9 dígitos muda muita coisa. É difícil até imaginar o que faria se recebesse uma bolada assim do dia pra noite.

Mas achei o tema tão intrigante que fiz uma pesquisa, exclusiva para essa coluna. Com a ajuda da Provokers, entrevistamos 904 trabalhadores brasileiros, de todas as áreas de atuação e regiões do país, agora em março. Perguntamos: se você ganhasse R$ 100 milhões, o que faria: continuaria no trabalho atual, parava de trabalhar ou mudaria de trabalho?

As respostas foram assim:

  • 56% sairia do trabalho atual, sendo que, desses, 30% mudaria de trabalho enquanto 26% parava de trabalhar e iria apenas aproveitar o dinheiro que ganhou
  • 44% continuaria no trabalho atual

Fiz a mesma pergunta no meu perfil do Linkedin e tive mais de 15 mil participações, com resultados parecidos.

Isso significa que a maioria das pessoas disse que, se ganhasse R$ 100 milhões, abandonaria a sua atividade profissional atual. Mas, ao mesmo tempo, a maioria também afirma que vai continuar fazendo algum tipo de trabalho.

Esse dilema leva a muitas reflexões. A principal delas é sobre as motivações de cada um. O que te faz acordar cedo todo dia? Qual é a real razão para você trabalhar com o que trabalha?

O exercício proposto elimina a implicação financeira. É quase como se eu te desse tranquilidade de recursos, mas perguntasse se você toparia seguir fazendo o seu trabalho atual de graça para o resto da vida. Você faria?

O problema é que trabalho é perrengue. Trabalho cansa e desgasta. Trabalho consome energia, sua a camisa, provoca frustrações.

Mas, ao mesmo tempo, trabalho traz frutos, realizações, desenvolvimento e conquistas. A gente se sente útil produzindo.

Várias pessoas me escreveram dizendo que largariam tudo para se dedicarem a fins sociais. E achei isso extremamente intrigante. Será que elas pensam que o trabalho em ONGs é mais tranquilo? Ou será que acham que o seu trabalho atual não tem um fim social?

Quero deixar duas observações sobre isso:

  1. Seja qual for o seu trabalho, as pessoas precisam dele. Você corta cabelo? Limpa a rua? Constrói cadeiras? Planta tomate? Processa um pagamento? Manda aviões pro espaço? Eu preciso de todos vocês. Você ensina crianças? Joga futebol? Propõe leis? Entrega encomendas? Se você fizer bem o seu trabalho, você deixa a minha vida melhor. Eu preciso de você. Talvez você não esteja vendo a sua atividade com um propósito maior ou sinta que ele não é tão importante quanto a de alguém que salva vidas ou tira pessoas da miséria. Mas, se você refletir bem, vai descobrir que a diferença entre o seu trabalho e o de alguém que se dedica a fins sociais é menor do que parece. Principalmente se você tentar trabalhar com excelência e com a intenção certa.
  1. Onde está o seu tesouro, aí está o seu coração. No fundo, você vai acabar colocando sua energia e seus sentimentos naquilo que valoriza e prioriza. O que você coloca no topo da lista das coisas mais importantes da sua vida? Elas mudariam se você ganhasse um dinheirão ou não?

Não sei se o sortudo ganhador da mega-sena vai chegar a tempo para resgatar sua fortuna. Mas espero que ele tenha um coração preparado para lidar com isso. Está aí algo que vale mais do que R$100 milhões na conta.

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Imagem: Felipe Tomazelli