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Com peso de quase 25%, Vale e Petrobras comandam oscilações da Bolsa
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O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, abriu o pregão desta terça-feira (30) em pequena baixa, mas logo passou a se recuperar. No fim do expediente matinal, já buscava, embora sem muito impulso, o terreno positivo. A direção não se manteve e o Ibovespa desabou na sessão da tarde do pregão.
Na abertura, o índice seguia o comportamento das bolsas europeias, que registravam quedas ligeiras. As informações de que a variante Ômicron do coronavírus parecia mais transmissível, mas menos letal do que anteriores, podendo, assim, reverter as perspectiva de novos e amplos lockdowns dava, segundo analistas, alívio aos mercados.
Se vai haver ou não novas restrições à movimentação de pessoas e dos negócios, eis a dúvida que os mercados procuram decifrar no momento, entre outras variáveis que acabam interferindo nos pregões. Um deles, com grande potencial de impactar as idas e vindas dos índices é a decisão do Fed (Federal Reserve, banco central americano) de retirar mais cedo e em ritmo mais rápido os estímulos monetários injetados na economia em resposta à pandemia.
A derrubada do Ibovespa, que recuava mais de 2% no meio da tarde, está sendo atribuída a declarações do presidente do Fed, Jerome Powell, que será reconduzido para um segundo mandato em fevereiro, segundo as quais a presente alta da inflação na economia americana parece menos passageira do que se imaginava. Foi o sinal para a conclusão de que está sendo desenhada uma aceleração no ritmo de enxugamento dos estímulos.
Resumo da ópera, as oscilações nos mercados de ações podem ser reflexo de uma ampla lista de causas, inclusive as com origem em fundamentos da economia. Estas, porém, influenciam os índices das bolsas de valores, a prazo mais longo. No dia a dia, são muito mais as expectativas que dão as cartas.
É por isso que se diz que as bolsas sobem nos boatos e caem nos fatos - a alta dos juros, puxadoras para baixo das bolsas, é um bom exemplo. É corriqueiro que uma alta (ou uma baixa) mais forte ocorra porque se espera que algum acontecimento futuro afete os pregões, e o movimento das ações não responda, ou responda no sentido contrário, quando tal acontecimento se confirma.
Intuitivamente, porém, acredita-se que o comportamento da Bolsa resume e antecipa o comportamento da economia. Se, por exemplo, um movimento de alta nos pregões se prolonga, a impressão que fica é a de que a economia também está em alta.
Os mais experientes e os menos crentes, contudo, sabem que essa impressão, sobretudo no curto prazo, não reflete a realidade. São tantas, na verdade, as variáveis envolvidas nos movimentos dos pregões que, de um jeito entre o irônico e o jocoso, dizem que, no fundo, os papéis das empresas nos mercados acionários sobem quando as cotações estão muito baixas e caem quando estão muito altas.
A história fica ainda um pouco mais preocupada porque a impressão de que a Bolsa vai bem (ou mal), logo a economia vai bem (ou mal), se baseia no comportamento dos índices que resumem e refletem as oscilações de mercado. É possível montar uma infinidade de índices, reunindo papéis de empresas negociadas em bolsa por segmento de negócios, normas de administração etc. Entre esses índices, os principais são os que procuram refletir o funcionamento do mercado como um todo.
No caso da B3, a bolsa de valores brasileira, esse índice mais geral e importante é o Ibovespa. O Ibovespa é composto, basicamente, pelas ações mais negociadas no dia a dia dos pregões. Sua composição busca refletir o peso de cada papel nessas negociações, espelhando um retrato dos pregões. Abarca em geral movimentações que respondem por cerca de 80% das compras e vendas efetuadas.
O Ibovespa é redefinido a cada quatro meses, mas a B3 informa diariamente o peso de cada papel no pregão do dia anterior. No indice válido de setembro a dezembro deste ano, por exemplo, estão listadas ações de 92 empresas.
Desde que foi criado, há mais de 50 anos, os principais critérios, que definem a composição do Ibovespa, permanecem os mesmos. Mas alguns ajustes foram feitos ao longo do tempo. Em 2014, por exemplo, o peso de um papel no índice não pode passar de 20%.
A tentativa de limitar a concentração exagerada em determinadas ações, no índice que funciona como principal indicador do comportamento do mercado, faz todo o sentido. Concentrações exageradas distorcem, por definição, as funções de qualquer mercado livre. Não seria diferente no mercado de ações.
Esse parece ser um problema do atual momento no mercado brasileiro, captado pelo Ibovespa. Há uma concentração dos negócios diários em um número relativamente pequeno de ações. O peso dos papéis da Vale, por exemplo, no Ibovespa atual, chega perto de 15%. Somado ao peso das ações da Petrobras, os negócios com papéis das duas empresas respondem por quase 25% do total - uma a cada quatro operações envolvem ações das duas empresas.
Se incluir as ações de dois bancos, Itaú e Bradesco, a concentração no Ibovespa sobe para 35%. Quase 60% dos negócios giram em torno de uma dúzia de papéis entre os mais de 90 que compõem o índice.
Além de Vale e Petrobras, que operam fortemente em mercados internacionais de commodities, e de bancos, entre as ações mais negociadas estão as de empresas exportadoras, como JBS, do setor de proteínas animais, e Suzano, de papel e celulose. Das empresas voltadas para o mercado interno, apenas a Ambev, do setor de bebidas, está no primeiro time das mais negociadas. Ações de empresas de varejo, por exemplo, que poderiam refletir mais diretamente o desempenho da economia doméstica, não chegam a representar, cada uma, nem 2% no Ibovespa.
A moral dessa história é a de que as oscilações na Bolsa brasileira, atualmente, tendem a refletir menos ainda o comportamento da economia brasileira ou mesmo predizer o seu comportamento no futuro próximo. São as oscilações nos mercados internacionais de commodities que estão comandando, no momento, o vaivém na Bolsa brasileira.
Problemas no setor de construção civil da China, que afetam diretamente os negócios da Vale, vão bater forte no Ibovespa. Assim como a queda de braço no mercado internacional de petróleo, entre grandes consumidores, Estados Unidos à frente, e a Opep, o cartel dos produtores, que ditam as variações nas ações da Petrobras.
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