Novo boom das commodities ergue o PIB, mas esconde queda nas importações
Os recordes históricos da balança comercial brasileira em setembro finalmente conseguiram tirar um pouco do foco dos problemas das contas públicas.
No mês passado, a diferença entre exportações e importações foi a mais alta para o mês desde o início da série, há 34 anos, no já longíquo 1989.
Foi também a mais alta da história registrada no acumulado do ano até setembro. O saldo comercial, de janeiro a setembro, de US$ 71,31 bilhões, é 50% superior ao registrado, no mesmo período, em 2022. Esse volume já supera em 16% o saldo de todo o ano de 2022, que somou US$ 61,5 bilhões
Máxima histórica ainda para as projeções de superávit comercial em 2023. As mais conservadoras estimavam superávit de US$ 80 bilhões, enquanto as mais otimistas, inclusive a do governo, apontam saldo acima de US$ 90 bilhões.
Alta na produção compensa baixa nos preços
O avanço do setor externo e a influência decisiva dos setores exportadores da economia na atividade interna mostram que a economia brasileira está sendo favorecida por um novo "boom de commodities", com semelhanças ao que ajudou no impulso observado nos governos anteriores de Lula, até a grande crise global de 2008.
O "boom" atual não tem a mesma amplitude e nem se prevê que venha a ter a extensão daquele, mas é o que explica, ao lado da injeção de recursos dos programas sociais de transferência de renda, a resistência da economia brasileira, com mais renda e mercado de trabalho mais aquecido do que anteriormente previsto.
Saldos comerciais, formados pela diferença entre volumes de exportações de importações, são importantes fontes de ingressos de recursos em moeda estrangeira e de renda interna, que ajudam a impulsionar a atividade econômica. Mas também podem expressar dificuldades de crescimento da economia, quando registram recuo nas importações.
Os dois vetores — o do aumento das exportações e o do recuo das importações — estão presentes, no atual caso do setor externo brasileiro.
Brasil ocupa espaços no comércio exterior
Em relação às exportações, a receita obtida em 2023 pode ser explicada mais pela ampliação da produção exportada do que por elevações de preços internacionais. Com produção em alta, tanto no setor agropecuário — aqui se está falando principalmente de soja, milho e café — quanto na indústria extrativa — sobretudo petróleo e minério de ferro —, o Brasil tem ocupado espaços deixados por grandes fornecedores, em razão de questões geopolíticas, com destaque para a guerra na Ucrânia.
Um outro lado moeda do setor externo, que também contribui para explicar os atuais saldos comerciais recordes, é o da queda nas importações. Nem sempre, mas não raro, superávits na balança comercial indicam problemas de baixo crescimento na economia doméstica.
De janeiro a setembro, enquanto as receitas de exportação avançavam apenas 0,4% sobre o mesmo período de 2022, os gastos com importações recuavam 11,3%. O pequeno avanço das exportações se deve à base de comparação elevada. Já a queda nas importações, embora tenha relação com o recuo de preços internacionais, se concentrou no segmento de bens intermediários, refletindo as dificuldades de expansão da indústria.
Corrente de comércio em queda
O peso da redução nas importações pode ser conferido pelas projeções para o volume da corrente de comércio brasileira em 2023. A corrente de comércio expressa a soma do total das exportações com o total das importações. Estimativas da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil) apontam uma corrente de comércio, em 2023, de US$ 575 bilhões, 5% menor do que a de 2022.
Newsletter
OLHAR APURADO
Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receberAinda que ocupe lugar de liderança em exportações mundiais de produtos agrícolas e minerais, a participação do Brasil no comércio internacional não se destaca. No ranking do comercial global, o país ocupa apenas a vigésima quinta posição.
A produção agropecuária e a extração mineral destinada à exportação, de todo modo, têm contribuído não só para a manutenção da posição confortável das reservas internacionais, garantido a entrada de dólares, mas também para impulsionar a atividade econômica interna.
Nos dois primeiros trimestres de 2023, a agropecuária, no período janeiro a março, e a produção mineral, entre abril e junho, foram os principais responsáveis por um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) bem maior do que as previsões. Os dois setores, nos quais o peso das exportações é relevante, garantiram crescimento acima de 3% em 2023, se não houver recuo na atividade, no segundo semestre.
Deixe seu comentário