José Paulo Kupfer

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Opinião

Novo boom das commodities ergue o PIB, mas esconde queda nas importações

Os recordes históricos da balança comercial brasileira em setembro finalmente conseguiram tirar um pouco do foco dos problemas das contas públicas.

No mês passado, a diferença entre exportações e importações foi a mais alta para o mês desde o início da série, há 34 anos, no já longíquo 1989.

Foi também a mais alta da história registrada no acumulado do ano até setembro. O saldo comercial, de janeiro a setembro, de US$ 71,31 bilhões, é 50% superior ao registrado, no mesmo período, em 2022. Esse volume já supera em 16% o saldo de todo o ano de 2022, que somou US$ 61,5 bilhões

Máxima histórica ainda para as projeções de superávit comercial em 2023. As mais conservadoras estimavam superávit de US$ 80 bilhões, enquanto as mais otimistas, inclusive a do governo, apontam saldo acima de US$ 90 bilhões.

Alta na produção compensa baixa nos preços

O avanço do setor externo e a influência decisiva dos setores exportadores da economia na atividade interna mostram que a economia brasileira está sendo favorecida por um novo "boom de commodities", com semelhanças ao que ajudou no impulso observado nos governos anteriores de Lula, até a grande crise global de 2008.

O "boom" atual não tem a mesma amplitude e nem se prevê que venha a ter a extensão daquele, mas é o que explica, ao lado da injeção de recursos dos programas sociais de transferência de renda, a resistência da economia brasileira, com mais renda e mercado de trabalho mais aquecido do que anteriormente previsto.

Saldos comerciais, formados pela diferença entre volumes de exportações de importações, são importantes fontes de ingressos de recursos em moeda estrangeira e de renda interna, que ajudam a impulsionar a atividade econômica. Mas também podem expressar dificuldades de crescimento da economia, quando registram recuo nas importações.

Os dois vetores — o do aumento das exportações e o do recuo das importações — estão presentes, no atual caso do setor externo brasileiro.

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Brasil ocupa espaços no comércio exterior

Em relação às exportações, a receita obtida em 2023 pode ser explicada mais pela ampliação da produção exportada do que por elevações de preços internacionais. Com produção em alta, tanto no setor agropecuário — aqui se está falando principalmente de soja, milho e café — quanto na indústria extrativa — sobretudo petróleo e minério de ferro —, o Brasil tem ocupado espaços deixados por grandes fornecedores, em razão de questões geopolíticas, com destaque para a guerra na Ucrânia.

Um outro lado moeda do setor externo, que também contribui para explicar os atuais saldos comerciais recordes, é o da queda nas importações. Nem sempre, mas não raro, superávits na balança comercial indicam problemas de baixo crescimento na economia doméstica.

De janeiro a setembro, enquanto as receitas de exportação avançavam apenas 0,4% sobre o mesmo período de 2022, os gastos com importações recuavam 11,3%. O pequeno avanço das exportações se deve à base de comparação elevada. Já a queda nas importações, embora tenha relação com o recuo de preços internacionais, se concentrou no segmento de bens intermediários, refletindo as dificuldades de expansão da indústria.

Corrente de comércio em queda

O peso da redução nas importações pode ser conferido pelas projeções para o volume da corrente de comércio brasileira em 2023. A corrente de comércio expressa a soma do total das exportações com o total das importações. Estimativas da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil) apontam uma corrente de comércio, em 2023, de US$ 575 bilhões, 5% menor do que a de 2022.

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Ainda que ocupe lugar de liderança em exportações mundiais de produtos agrícolas e minerais, a participação do Brasil no comércio internacional não se destaca. No ranking do comercial global, o país ocupa apenas a vigésima quinta posição.

A produção agropecuária e a extração mineral destinada à exportação, de todo modo, têm contribuído não só para a manutenção da posição confortável das reservas internacionais, garantido a entrada de dólares, mas também para impulsionar a atividade econômica interna.

Nos dois primeiros trimestres de 2023, a agropecuária, no período janeiro a março, e a produção mineral, entre abril e junho, foram os principais responsáveis por um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) bem maior do que as previsões. Os dois setores, nos quais o peso das exportações é relevante, garantiram crescimento acima de 3% em 2023, se não houver recuo na atividade, no segundo semestre.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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