José Paulo Kupfer

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Opinião

Recordes no mercado de trabalho escondem desaceleração no emprego

O mercado de trabalho brasileiro bombou no trimestre encerrado em outubro. Seja no Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que registra o movimento de admissão e demissão no segmento com carteira assinada, seja na Pnad ContÍnua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), que afere a marcha do desemprego e da ocupação de trabalhadores formais e informais, os números são positivos e recordes.

Pela primeira vez, a população ocupada superou 100 milhões pessoais, a taxa de desemprego caiu para 7,6%, a mais baixa desde 2015, e a força de trabalho aumentou 0,3%. No mercado formal, o saldo líquido de contratações, em outubro, se elevou a 190 mil, quase 20% acima das projeções, e também quase 20% maior do que o saldo em outubro de 2022. O número de trabalhadores com carteira, que soma agora 37,4 milhões, é o mais alto desde 2014.

Ritmo de emprego mais lento

Ocorre que a economia está com a mão no freio, depois do impulso na atividade promovido por um robusto desempenho de setores primários da economia — agropecuária e extração mineral —, coadjuvado por gastos públicos em programas sociais, no primeiro semestre. Estimativas para a variação do PIB (Produto Interno Bruto), no terceiro trimestre, previstas para serem divulgadas pelo IBGE nesta terça-feira (5), apontam estagnação ou pequeno recuo, em relação ao segundo trimestre. Para o ano, as projeções do crescimento econômico estão encolhendo de expansão de 3% para mais perto de 2,5%.

Como explicar os recordes do mercado de trabalho, diante de um quadro de desaceleração na atividade econômica? A resposta de Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultoria, e especialista em análises do mercado de trabalho, é que os números continuarão evoluindo no terreno positivo, mas em ritmo cada vez mais lento.

"À medida em que a economia se mostrar mais fraca, o mercado de trabalho também deverá registrar resultados mais fracos. Já se verifica um movimento de desaceleração na população ocupada". Bruno Imaizumi, economista especialista em mercado de trabalho da LCA Consultores

O mercado de trabalho apresenta características peculiares, que exigem maior cuidado e a reunião de informações mais abrangentes, para entender seus movimentos. Este é um mercado muito afetado por situações sazonais, ocorrências típicas de determinadas épocas do ano, com impacto nos números — por exemplo, há aumento do emprego de trabalhadores temporários nos meses que antecedem o Natal, e aumento de demissões em janeiro e fevereiro.

Peculiaridades do mercado de trabalho

Por essa razão, no caso da Pnad, os números com ajuste sazonal podem diferir bastante dos resultados sem ajustes, divulgados pelo IBGE. A taxa de desemprego, de 7,6% da força de trabalho, no trimestre agosto-outubro, com ajuste sazonal avança para 7,9%.

Outra característica do mercado de trabalho é que ele é o primeiro a sentir uma desaceleração da economia e o último a reagir quando há uma retomada. Os dados de outubro, no caso da Pnad, referem-se também aos meses de agosto e setembro, positivamente afetados pelos transbordamentos do crescimento no primeiro semestre, o que ajudou a empurrar os resultados para cima.

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Quanto ao Caged de outubro, parte da diferença entre as projeções dos especialistas e os números divulgados, em torno de 30 mil vagas acima das estimativas, segundo o economista Imaizumi, podem ser explicadas por contratações temporárias. "Foram 18 mil vagas a mais no segmento de locação de mão de obra temporária", lembra ele, levantando a hipótese de que essas vagas foram abertas na temporada de shows e eventos, que pipocaram no período.

Tendência de normalização

O avanço nas vagas formais ajuda a justificar a resistência das remunerações — tanto a efetiva quanto a habitual. Imaizumi explica os aumentos salariais reais, nos últimos meses, pela tendência de normalização do mercado de trabalho, depois da pandemia. Essa normalização pode ser comprovada pela migração de empregos informais para formais.

Mesmo que em categorias temporárias, empregos com carteira assinada costumam remunerar melhor e serem mais estáveis. A ampliação das ocupações formais é em parte justificada pelas novas modalidades — parciais, intermitentes e temporários — incorporados ao trabalho formal, pela reforma trabalhista de 2017, no governo Temer. Seja como for, contudo, o mercado com carteira está ativo, assim como o mercado de trabalho em geral, reduzindo, inclusive, o contingente de trabalhadores sem emprego por mais de dois anos.

Há peculiaridades também com a taxa de desemprego. Como ela expressa relação entre população desocupada e força de trabalho, o ritmo de evolução de cada um desses indicadores interfere no resultado final. O detalhe é que, por definição internacionalmente aceita, se o trabalhador desistiu, por algum motivo, de procurar trabalho, ele sai da força de trabalho e não pode ser considerado desempregado.

Quase 5 milhões ainda não voltaram ao mercado

Essa situação também é descrita pela taxa de participação. Este indicador relaciona a população em idade de trabalhar com o total da força de trabalho (ou PEA, população economicamente ativa). Quando a taxa de participação cai, significa que trabalhadores deixaram de trabalhar ou de procurar trabalho, o que leva a uma redução da taxa de desemprego.

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A taxa de participação na economia brasileira foi, no trimestre encerrado em outubro, de 61,9%, um aumento de 0,13 ponto percentual, em relação ao trimestre encerrado em setembro, na série sem ajuste sazonal. Ainda assim, a taxa de participação ainda não retornou ao nível pré-pandemia, e se encontra um ponto percentual abaixo da média registrada entre 2012 e 2019.

São 4,6 milhões de trabalhadores que saíram da força de trabalho com a pandemia e ainda não retornaram ao mercado. Se a taxa de participação fosse a mesma de 2019, o nível de desemprego atual seria quase três pontos acima do atual, situando-se em 10,4% da PEA.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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