José Paulo Kupfer

José Paulo Kupfer

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

BC endurece comunicação, mas apostas sobre cortes nos juros não mudam

Por via das dúvidas, diante da constatação do aumento das incertezas, tanto no cenário econômico externo quanto no interno, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu endurecer sua visão da política de juros.

Foi, porém, um endurecimento leve, que apenas deixou em aberto a trajetória futura da taxa básica de juros (taxa Selic), antes atrelada a uma orientação mais definida. Tudo considerado, a comunicação da política de juros mudou para permanecer como já estava.

Sem orientação para o futuro

Nesta quarta-feira (20), o colegiado que reúne os diretores do Banco Central e determina a marcha da taxa básica de juros (taxa Selic) promoveu mais um corte de 0,5 ponto percentual nos juros básicos. Mas encurtou o horizonte previsível de suas decisões.

O Copom avisou, no comunicado no qual resume o que levou à decisão anunciada, que só se compromete com mais uma redução de 0,5 ponto, na reunião de maio. Mudou o que anunciou em janeiro, quando manteve a disposição de promover cortes de 0,5 ponto "nas próximas reuniões", ou seja, além de março.

Assim, a taxa Selic recuou de 11,25% nominais ao ano para 10,75%. Novo corte, para uma taxa básica em 10,25% está contratado. Daí para a frente é que o caminho ficou sem roteiro previamente sinalizado.

Cenários e previsões não mudaram

Apesar da percepção de aumento das incertezas, as informações e projeções mais relevantes consideradas pelo Copom para a fixação dos juros básicos não mudaram desde a reunião de janeiro. As previsões para a inflação de 2024 (de 3,5%), e de 2025 (3,2%), por exemplo, não se alteraram, assim como não se alterou o "cenário-base" levado em consideração.

Por isso, embora tenha sido retirado de cena o "forward guidance" — a expressão que, no jargão dos bancos centrais, designa o mecanismo usado para oferecer eventual orientação sobre a política de juros num futuro próximo —, acabou dividindo os analistas do mercado financeiro. Depois do Copom de março, as apostas na taxa Selic terminal em 2024 continuou variando num intervalo muito amplo entre 8% ao ano e 9,75%.

Marcha dos cortes inalterada

Poucos revisaram suas estimativas porque sabem que a falta de "forward guidance" não significa, necessariamente, que as orientações anteriores serão deixadas de lado — o que vale mais são as projeções de inflação e o ritmo da atividade. Mas, também por via das dúvidas, diante do aumento da incerteza, com a retirada do "forward guidance", quem revisou projeções da Selic terminal do ano, jogou a taxa um pouco para cima.

Continua após a publicidade

Para alguns, a alteração na comunicação do Copom indica que o ritmo de cortes na Selic vai ficar mais lento e talvez o ciclo de reduções se encerre mais cedo, com uma taxa mais alta. Mas um número maior de analistas entendeu que as menções ao aumento das incertezas na economia e a retirada do "forward guidance" não eram suficientes para indicar alterações na linha de ajuste dos juros básicos que já vinha sendo seguida.

Contribuiu para esse entendimento a manutenção pelo Fed (Federal Reserve, banco central americano) da taxa de juros de referência nos Estados Unidos entre 5,25% e 5,5%, no mesmo nível em que se encontra desde julho de 2023. Sinais de que o Fed fará três cortes nos juros ainda este ano.

Lá como cá, a convergência da inflação para a meta (2%, nos EUA; 3%, no Brasil) está se dando com lentidão. Também lá como cá a atividade econômica, com destaque para o mercado de trabalho, está aquecida. Nos dois casos, paciência com a inflação acima, mas se aproximando da meta, em nome de preservar uma base de crescimento tem sido a receita seguida pela política de juros.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes