José Paulo Kupfer

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Opinião

Previsões são de inflação acima do teto em 2025, repetindo 2024

A inflação, medida pela variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), fechou 2024 como previsto nas projeções mais recentes, com alta de 4,83%, acima do teto do intervalo de tolerância do sistema de metas, de 4,5%.

Com o resultado, o Banco Central será obrigado a publicar uma carta aberta, dirigida ao ministro da Fazenda, explicando as razões do estouro do teto da meta e apontando as medidas que deverão ser adotadas para fazer a inflação confluir para o centro da meta, de 3%, em 2025.

Projeções para 2025

Pelas projeções para a marcha da inflação neste novo ano, é possível que mais uma carta tenha de ser publicada em meados de 2026. Pela nova sistemática de meta de inflação contínua, uma explicação tem de ser enviada pelo Banco Central ao ministro da Fazenda a cada seis meses em que o teto da meta for superado. Isso deve acontecer em julho, se as previsões de inflação acima do teto ao longo de todo o primeiro semestre se confirmarem. Caso as previsões para o restante do ano também se confirmem, outra carta aberta seria publicada em janeiro de 2026

As previsões, neste começo de 2025, são de que o IPCA avançará pelo menos 4,7% neste ano, mais uma vez acima do teto do intervalo de tolerância. "Estamos mantendo esta projeção, mas o viés é de alta", informa Bruno Imaizumi, economista da LCA4intelligence.

Será a sétima vez, desde a adoção do sistema de metas, há 25 anos, em 1999, que a inflação supera o limite superior do intervalo de tolerância.

Três desses estouros, quase metade do total, ocorreram nos últimos cinco anos, em 2021, 2022 e 2024, durante o período do economista Roberto Campos Neto à frente do Banco Central e do Copom (Comitê de Política Monetária), colegiado que reúne os diretores da instituição e estabelece a política de juros. É de justiça destacar que, pelo menos em 2021 e 2022, os resultados foram afetados pelas amplas e imprevisíveis consequências da pandemia de covid-19.

Alimentos, o vilão

A alta de preços de alimentos, o fator que mais pesou na inflação de 2024, será também o que deve ajudar, com uma relativa descompressão de preços, para evitar estouro maior da variação do IPCA, em 2025. Em 2024, os preços no grupo alimentação e bebidas registraram alta de 7,7%. As projeções são de que recuem para 5,5%, em 2025.

Nos dois primeiros meses de 2025, a inflação terá comportamento atípico, em relação às projeções para a evolução da alta de preços, mês a mês, ao longo do ano.

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Depois da alta de 0,54% em dezembro, com núcleos de inflação em elevação e revelando pressões à frente, janeiro pode apresentar estabilidade ou até ligeira deflação ante o mês anterior. Alimentos podem influir menos, mas o principal elemento para essa redução virá do pagamento pela hidrelétrica de Itaipu de um bônus determinado pela agência reguladora de energia elétrica (Aneel).

Um rebote desse bônus, que fará os preços do grupo Habitação recuar mais de 3%, no primeiro mês do ano, jogará a inflação de fevereiro para próximo de 1,5% sobre janeiro. Daí em diante, a inflação mensal, ao longo de 2025, não deve passar de 0,5%.

Pico de 5,5% de alta em agosto

No segundo semestre, exceto em dezembro, as projeções, neste início de ano, são de altas mensais abaixo de 0,3 (0,5%, em dezembro). Alimentos, um pouco menos do que em 2024, e serviços, ainda em razão da boa situação do mercado de trabalho, serão os puxadores da inflação para cima.

Os efeitos da alta na cotação do dólar, de acordo com as projeções para a inflação do grupo "artigos de residência", onde se encontram os itens mais afetados pela taxa de câmbio, tendem a se elevar abaixo de 5%, em 2025.

A marcha da inflação nos mesmos meses de 2024 fará com que os picos da inflação acumulada em 12 meses ocorram justamente no segundo semestre. As previsões apontam alta em 12 meses de 5,5%, no mês de agosto, refluindo a cada mês até o fim do ano para os 4,7% projetados no fechamento de 2025.

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • O novo sistema de meta de inflação contínua prevê a publicação de carta aberta pelo Banco Central toda vez que, a cada seis meses, o teto do intervalo de tolerância for superado -- e não mais, como era até 2024, no fim do ano civil. O texto foi corrigido.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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