Todos a Bordo

Todos a Bordo

Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Qual avião é mais seguro para voar: jato ou turboélice?

Aviões a jato são mais comuns hoje, mas outro tipo de motor também marca presença: os turboélice. É o caso do ATR-72 que caiu em Vinhedo.

Com pás que remetem a aeronaves de pequeno porte, muitas vezes chamadas de teco-teco, causam preocupação em alguns passageiros —a ideia é que seriam velhas demais em comparação aos jatos.

O que define se uma empresa vai usar turboélices ou não é a oferta de assentos da rota, ou seja, a quantidade de passageiros a serem transportados. Não quer dizer que sejam ultrapassados.

"Os turboélices são muito utilizados, com vários modelos sendo projetados ainda, já que são recomendados para diversos tipos de voo, como em pistas mais curtas ou onde a aproximação é mais complicada", diz Rufino Antônio da Silva Ferreira, especialista em investigação e piloto de linha aérea.

"Hoje, por questões econômicas e de conforto, os turboélices operam rotas mais curtas e pistas menos preparadas para aviões de grande porte", diz Miguel Angelo Rodeguero, piloto e diretor de segurança operacional da Aopa (Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves).

Conseguem chegar a aeroportos regionais

Os turboélices em operação nas companhias aéreas brasileiras são ideais para atender à aviação regional.

Por serem mais baixos, já contam com uma escada de embarque embutida em sua porta. Também têm facilidade em pousar em aeroportos menores, pois dispensam equipamentos mais avançados de navegação.

A infraestrutura aeroportuária pode ser menor para receber os turboélices, ampliando a malha das companhias aéreas para locais que os jatos não atenderiam.

Continua após a publicidade

Os modelos turboélice no Brasil costumam ser da fabricante ítalo-francesa ATR (Avions de Transport Régional). Os mais usados são o ATR-42 e o ATR-72, com capacidade para até 50 e 74 passageiros, respectivamente.

Segurança é a mesma, e o consumo é menor

A motivação para optar pelo turboélice, diz Ferreira, é economia, já que ele oferece a mesma segurança que o avião a jato.

Quando a etapa de voo é de curta duração, a diferença de tempo entre o turboélice e o avião a jato é muito pouca, e o consumo do combustível no turboélice é sensivelmente menor.

Em um voo de 225 km de distância, um ATR-72 consome 708 quilos de combustível em 61 minutos.

O avião a jato E-195, da Embraer, gasta mais que o dobro, 1.490 quilos de combustível, em 38 minutos.

Continua após a publicidade

Esses valores são hipotéticos, e não levam em consideração diversos fatores, como condições meteorológicas ou eventuais alterações nas rotas.

Os a jato voam a cerca de 850 km/h, a 11 quilômetros de altitude.

Os turboélices chegam a 550 km/h, a seis quilômetros de altitude.

Balança, mas não cai

Um inconveniente dos turboélices é justamente balançar mais por voar mais baixo.

"Eles podem enfrentar as nuvens que se formam nesta região da atmosfera. Mas, se o tempo está bom, não há turbulência", diz Rodeguero.

Continua após a publicidade

Os jatos voam acima dessas áreas mais nebulosas e fogem das turbulências mais frequentes, embora também enfrentem o fenômeno.

Mas, é velho?

As tecnologias dos aviões turboélices não são necessariamente mais antigas.

"Os aviônicos [equipamentos eletrônicos do avião] podem ser os mesmos que os dos modelos a jato. Os modelos ATR são equiparáveis aos modelos a jato em comunicação, navegação e sistemas de alerta", afirmou Ferreira.

Cabine de comando ATR-72: Cabines de comando dos aviões turboélice ATR são tão modernas quanto a dos aviões a jato, com os mesmos aviônicos
Cabine de comando ATR-72: Cabines de comando dos aviões turboélice ATR são tão modernas quanto a dos aviões a jato, com os mesmos aviônicos Imagem: Divulgação

E as cabines dos turboélice ATR são tão modernas quanto a dos a jato, com os mesmos equipamentos eletrônicos.

Continua após a publicidade

"Os turboélices passam pelos mesmos processos de certificação que os a jato", explica Ferreira. "Cada motor, por exemplo, tem suas proteções para voar em condições, como no gelo."

As pás, mesmo não estando dentro de uma fuselagem fechada, como nos motores a jato, também são protegidas de forma eletrônica contra impactos ou intempéries.

Curiosidades:

  • A pá dos motores do ATR-72 tem quase 4 metros de diâmetro --mais que o GE9X, o maior motor de avião comercial do mundo
  • O diâmetro das pás do ATR-72 é maior que a própria fuselagem do avião. É maior até que a de um jato Boeing 737
  • Os motores turboélices possuem uma tecnologia bem diferente daqueles aviões menores com hélices, tendo turbinas para movimentar suas pás, enquanto os outros são movidos a pistão, como em um carro
  • Devido ao seu tamanho, os ATRs podem pousar e decolar em pistas mais curtas do que alguns modelos a jato

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.