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Dólar e Bolsa devem seguir instáveis; investidor só vai pensar em política

Paulo Whitaker/Reuters
Imagem: Paulo Whitaker/Reuters

Téo Takar

Colaboração para o UOL, em São Paulo

19/05/2017 09h12

A instabilidade no dólar e nas ações da Bolsa deve continuar intensa nesta sexta-feira (19). Houve exagero na quinta-feira (18), com a disparada do dólar (8,15%) e o desabamento da Bolsa (-8,8%), e isso terá de voltar ao normal em algum momento, com dólar caindo e Bolsa subindo. Mas especialistas acreditam que o nervosismo ainda pode persistir nesses próximos dias.

“O investidor não quer saber de fundamento (resultado de empresas e dados econômicos). O foco está todo voltado para a política”, afirma o diretor de operações da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer.

Na quinta-feira (18), o Ibovespa chegou a cair mais de 10% logo após a abertura, o que obrigou a Bolsa de São Paulo a acionar o mecanismo de “circuit breaker” (suspensão dos negócios por 30 minutos), algo que não acontecia desde a crise financeira global, em 2008.

Gravação deve reforçar preocupação de investidores

“O mercado vai reagir nesta sexta (19) à divulgação da gravação”, diz Spyer, referindo-se ao conteúdo da conversa gravada pelo empresário Joesley Batista, dono do frigorífico JBS, e Michel Temer, na qual o presidente teria dado seu aval ao empresário para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, preso pela Operação Lava-Jato.

Os investidores passaram a quinta-feira (18) operando sob a expectativa dos detalhes das delações de Joesley e também de seu irmão Wesley. Porém, apenas no final do dia, o ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a retirada do sigilo das delações, permitindo que a íntegra da gravação fosse divulgada pela imprensa, quando o mercado já estava fechado.

Um experiente executivo do mercado financeiro, que preferiu não se identificar, diz que o conteúdo da gravação deve reforçar as preocupações dos investidores.

O profissional disse acreditar que o clima no mercado vai azedar, principalmente porque Temer deixou claro, no pronunciamento feito na tarde desta quinta-feira (18), que não vai renunciar. “A partir daí, praticamente só resta o impeachment, que é um processo com trâmite demorado. Vamos ver o Temer agonizar, igual vimos a Dilma. E o mercado também vai sofrer durante esse período, até que se defina quem será o sucessor”, afirma.

Ações já refletem reformas paralisadas

“A queda de quase 10% da Bolsa na quinta (18) já embute no preço das ações o fato de que as reformas [trabalhista e da Previdência] ficarão paralisadas nos próximos meses, até que haja alguma solução para essa crise política”, afirma Spyer, da Mirae.

“Mas não se pode descartar a possibilidade de as reformas simplesmente serem canceladas por absoluta falta de ambiente político. Isso ainda não está no preço. Ou seja, a Bolsa pode cair mais, e o dólar voltar a subir.”

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