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Empresa do interior de SP fornece incenso de uso litúrgico para o Vaticano

Claudia Varella

Colaboração para o UOL, em São Paulo

23/12/2018 04h00

Foi percorrendo o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, em 2000, que Martinho Rocha, 57, conheceu o incenso de resina e teve a ideia de criar a Milagros, dois anos depois, em São João da Boa Vista (SP). Especializada em incensos de uso litúrgico, a empresa fornece de 50 a 60 quilos do produto por ano ao Vaticano. Segundo Rocha, desde 2011 os incensos de resina são enviados ao Vaticano como "doação", para serem usados em cerimônias litúrgicas.

"Até 2011 o Vaticano pagava, mas, quando a minha empresa saiu do vermelho, fiz questão de não receber mais pelos incensos. Foi a forma que encontrei de retribuir as portas internacionais que o Vaticano abriu para a Milagros", declarou Rocha, que é devoto de Nossa Senhora Aparecida. Segundo ele, o Vaticano pagava cerca de 500 euros por ano em compras de produtos da Milagros.

Rocha disse que o único valor que a Milagros recebe do Vaticano atualmente é referente à venda dos incensos na Sacristia Pontifícia. Em média, são cerca de 800 euros por ano.

Incenso criado pela empresa foi usado pelo papa

Segundo Rocha, a empresa caiu nas graças do Vaticano em 2007, ao criar o incenso Nossa Senhora Aparecida para ser usado pelo papa Bento 16 na missa de canonização de Frei Galvão, em São Paulo. Em 2008, o Vaticano encomendou o mesmo incenso para ser utilizado na Missa do Galo na Basílica de São Pedro.

Esse incenso é feito com grãos azuis com gotas douradas, representando o manto de Nossa Senhora Aparecida. Tem fragrância suave e produz bastante fumaça. Foi o primeiro incenso produzido pela Milagros, que até então só importava incensos de países europeus.

Atualmente, a empresa vende 26 tipos de incenso, sendo sete de fabricação própria, entre eles:

  • Nossa Senhora de Nazaré: branco com gotas douradas
  • Nossa Senhora de Fátima: criado para a entronização de Nossa Senhora no Santuário de Fátima, em Portugal, em maio de 2015
  • Benedictus XVI: foi criado para o papa Bento 16, mas somente usado na primeira celebração no início do pontificado do papa Francisco, em 2013.
  • Urbi et Orbi: usado pelo papa Francisco nas celebrações da Jornada Mundial da Juventude 2013, no Brasil
  • Misericordiae: criado para celebrar o Jubileu da Misericórdia (de dezembro de 2015 a novembro de 2016)

Além do incenso Nossa Senhora Aparecida, são fornecidos ao Vaticano os produtos Benedictus XVI, Urbi et Orbi e Misericordiae (o único que possui o selo oficial do Jubileu da Misericórdia do Vaticano).

Empresa atende em torno de 75% das paróquias

A empresa não divulga investimento inicial, faturamento nem lucro do ano passado, mas Rocha disse que a Milagros tem um crescimento médio de 30% ao ano.

Além de incensos próprios e importados, a Milagros vende também carvão de acendimento instantâneo, pinças, incensários de mesa e turíbulos (incensários usados na liturgia da Igreja Católica).

Segundo ele, a empresa atende direta ou indiretamente, por meio de lojas, em torno de 70% a 75% das paróquias, seminários, mosteiros e santuários do país. Segundo os dados mais recentes da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil), de 2014, há no país cerca de 11 mil paróquias e santuários.

Entre os clientes da Milagros, estão o Santuário de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém (PA), e o Santuário Pai Misericordioso (a Canção Nova), em Cachoeira Paulista (SP). A empresa também exporta para a Europa, Estados Unidos e Singapura.

O Santuário de Nossa Senhora de Nazaré informou que compra da Milagros incensos litúrgicos, carvões, incensários e turíbulos para missas, de acordo com a necessidade e sazonalidade. A Canção Nova disse ser cliente da empresa há dois anos, comprando cinco caixas de incenso e de carvão por mês.

No varejo, incenso chega a custar até R$ 230,90

Na Milagros, os incensos são vendidos no varejo em embalagens de 9 gramas a meio quilo. A empresa vende embalagem de 1 kg apenas no atacado.

No varejo, o mais vendido é o Misericordiae (com selo do Vaticano), com preço de R$ 4,90 (9 g) a R$ 155,90 (500 g). O mais barato é o Olibanum. Custa de R$ 9,90 (50 g) a R$ 55,90 (500 g). O mais caro são os incensos gregos produzidos pelos monges ortodoxos, de R$ 35,90 (50 g) a R$ 230,90 (500 g).

Segundo a empresa, o incenso de resina é um produto 100% natural, sem nenhum tipo de combustível em sua composição. É preciso o uso do carvão para ser queimado. O preço do carvão (importado de Holanda e Itália) vai de R$ 128,90 a R$ 138,90 (caixa com cem unidades).

Equipe deve ser bem treinada, diz consultora

Para Thalita de Pádua Medeiros, 32, consultora de negócios do Sebrae-SP, a Milagros "vende experiência" para o seu cliente. "A empresa não vende apenas o incenso, mas também os acessórios, como incensários e carvão. Isso faz a empresa proporcionar a experiência completa ao cliente."

Thalita afirmou, no entanto, que a empresa deve manter sua equipe "bem treinada". "É uma mão de obra específica. Além de saber fabricar o incenso, a equipe da Milagros deve também ter conhecimento mais abrangente sobre o produto e sua história. Esse conhecimento não pode ficar restrito ao dono da empresa. Ele precisa passar essa cultura a seus funcionários", disse.

Outro ponto que não deve ser descuidado pela empresa são os fornecedores. "Como são produtos feitos de essências específicas, muitas vezes compradas no Oriente Médio, na África e na Europa, a empresa deve sempre procurar os melhores fornecedores, para que a qualidade do seu produto continue sendo alta", afirmou.

Onde encontrar:

Milagros - https://www.milagros.com.br/